Sexta, 14 Março 2014 10:24
28 anos depois da adesão à, então, Comunidade Económica
Europeia, hoje, União Europeia, já era tempo de, numas eleições para o
Parlamento Europeu, a votação dos portugueses ser determinada por questões
europeias. Puro desejo! Com a apresentação dos cabeças-de-lista às eleições de
25 de Maio de 2014, nem da parte da coligação PSD-CDS nem do PS, houve
novidade. O mote voltou a ser o de sempre: o Governo de Portugal. Ou seja, vão
voltar a ser razões domésticas as que vão levar os portugueses a tomar, ou não,
partido.
Com este dado, em que o PS quer atacar o Governo, seja pelo lado do PSD
seja pelo lado do CDS, e em que o Governo quer atacar o PS, seja pelo lado da
sua actual liderança seja pelo lado da anterior, que liderou o último Governo,
parece-me que, continuando ambos a alimentar a abstenção, ambos correm também
riscos, todos eles evitáveis, sendo que do lado do Governo o problema é maior.
Vejamos.
Com o que conta o PS? O PS conta com o brutal aumento dos
impostos destes últimos anos, com a sobretaxa de 3,5% de IRS, com a redução dos
escalões do IRS e das deduções à colecta, com os desempregados, com o
agravamento dos cortes nos rendimentos da função pública, com o aumento do
leque dos que foram abrangidos pelos cortes (todos os que têm rendimento
público acima de 675€), com o alargamento de 35 para 40 horas semanais
obrigatórias de trabalho (sem a correspondente remuneração), com a redução do
valor por hora das horas extraordinárias e demais trabalho suplementar para
metade, com o aumento da taxa máxima de redução dos rendimentos públicos de 10%
para 12%, com o congelamento do subsídio de refeição, das promoções,
progressões, admissões e dos prémios de desempenho no Estado, com a diminuição
do subsídio de doença, com a revogação do direito a renúncia a férias e do
direito a receber a remuneração e o subsídio respectivo, com a diminuição do
abono de ajudas de custo de transporte nas deslocações diárias, com o aumento
do desconto para a ADSE de 1,5% para 3,5%, com a diminuição das férias de 25
para 22 dias, com a eliminação (temporária?) de 4 feriados, com a redução da
remuneração dos trabalhadores em mobilidade especial, com o aumento da idade de
reforma dos 65 para os 66 anos, com a tentativa de despedimento de
trabalhadores sem fundamento constitucional, com a gordura do Estado que
continua obeso, com o número de assessores do Governo e de governantes, que
afinal não diminuiu, e com as mais recentes declarações do Primeiro-ministro de
que, afinal, os cortes nos salários do Estado, em vez de temporários, serão definitivos!
É com isto, é com as pessoas directamente atingidas que o PS conta. E é por
isso que ao PS lhe interessa colocar a tónica na avaliação do Governo.
Pelo seu lado, o Governo e os partidos do Governo,
percebendo isto mesmo, tentam colocar a tónica nas fragilidades do PS. O PSD,
na actual liderança do PS afirmando que as próximas eleições europeias são um
teste a António José Seguro. E o CDS, no Governo e na liderança anterior do PS
afirmando que a escolha deve ser feita entre quem trouxe para cá a Troika e
quem a pôs de cá para fora.
Deste jogo será feita a campanha eleitoral. No meio,
estarão os portugueses com muito pouca vontade de participar neste acto. Os
que, zangados com o Governo, não querem votar em nenhum dos partidos que o
constituem. E os que não votarão em qualquer outro, nomeadamente no PS, porque
não o reconhecem como alternativa. Ambos os lados contribuirão para denegrir o
outro. A Europa, essa, ficará, mais uma vez, para trás.
Martim Borges de Freitas
Lisboa, 11 de Março de 2014.
1 comentário:
À reflexão do cronista: e os restantes partidos, não contam?
Com o devido respeito pelos propósitos do autor da crónica, pode muito bem ser por esse lado que se fará História.
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