Quinta, 13 Março 2014 09:48
Em 5 de Abril de 2011, estavam PS, PSD e CDS a preparar a
assinatura do memorando com a troika, o secretário geral do PCP afirmava a
necessidade de negociar a dívida quanto a prazos, juros e capital, como
alternativa à ocupação do país pelo FMI e seus parceiros.
Todos se lembrarão que, por aquela altura, aquele que viria a ser
primeiro-ministro afirmava que acabar com o subsídio de natal era uma estupidez
e que quase todas as forças políticas e economistas com presença na comunicação
social consideravam as propostas do PCP irresponsáveis e desajustadas da
realidade.
Nos últimos três anos o PCP apresentou na Assembleia da
República inúmeros projectos de resolução no mesmo sentido, que tiveram sempre
o voto contra de PS, PSD e CDS.
Passados três anos de brutal ataque aos rendimentos do
trabalho e das reformas, um grupo de 70 personalidades, que inclui militantes e
apoiantes dos partidos que se entenderam com a troika, vem agora afirmar que
este caminho não tem saída e apelar à renegociação da dívida.
Apesar das diferenças existentes entre as propostas dos
subscritores e o que o PCP sempre defendeu, não deixa de ser interessante que
figuras como Bagão Félix, Manuela Ferreira Leite, Sevinate Pinto, Vítor Martins
e Ferro Rodrigues defendam agora, no essencial, o caminho proposto pelos
comunistas como alternativa à intervenção externa no país.
Este manifesto surge num momento em que o inquilino de
Belém vem defender o caminho do empobrecimento até ao fim dos tempos ou até
2035 se houver um milagre que ninguém viu acontecer em país nenhum.
A divulgação deste manifesto teve como reacção do governo
o que se esperava. Desde o considerar inoportuno até a acusações veladas de
falta de patriotismo dos subscritores houve de tudo, o que levou Bagão Félix,
que como se sabe não é propriamente um perigoso revolucionário, a fazer
comparações entre a ditadura política e a ditadura dos “mercados” que levariam
à mesma ausência de liberdade de expressão.
Não consegui perceber a reacção institucional do PS, que
afirma respeitar a iniciativa sem tomar posição sobre o seu conteúdo. Esta
minha incompreensão estará naturalmente ligada ao facto deste partido continuar
a não ser capaz de romper com os compromissos assumidos em 2011 quando negociou
e assinou o famigerado memorando.
Já a reacção do inquilino de Belém é muito mais compreensível
e ao nível do seu estruturado pensamento político: exonerou das funções de
consultores os que se atreveram a subscrever um documento que contraria a sua
perspectiva sobre o assunto, seguindo a máxima de qualquer ser omnisciente, “os
consultores servem para confirmar que o que eu penso está correcto”.
Este manifesto pode não ter mais consequência nenhuma mas
tem pelo menos o mérito de confirmar quatro coisas:
1 – Cada vez mais sectores da sociedade vêm dar razão ao
PCP sobre a necessidade de renegociação da dívida.
2 – O governo não é capaz de colocar os interesses do país
acima dos interesses dos credores.
3 – O PS, apesar do muito “barulho oposicionista”, não é
capaz de rasgar o compromisso assumido com a troika.
4 – O Presidente da República é o que sempre foi.
Até para a semana
Eduardo Luciano
2 comentários:
A verdade limpa, limpinha!!!!!
Estas crónicas da Rádio Diana/FM, são uma das mais interessantes postagens que o AL-Tejo nos proporciona.
Há vários anos que me apercebo do seu interesse e, por mais que uma vez, aqui comentei sobre isso. Foram comentários que caíram em cesto roto, é verdade, mas, mais uma vez, aqui venho dar os meus parabéns, primeiro à Rádio Diana, por conseguir um naipe de colaboradores que conseguem espelhar os diversos pensamentos políticos do nosso país, depois, ao AL-TEJO, por traduzir, por escrito, estas excelentes crónicas radiofónicas.
A minha opinião sobre esta crónica não a expresso para evitar que no blogue caiam os mais descabralhados comentários.
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