Sexta, 07 Fevereiro 2014 10:15
Deixar passar esta semana sem
falar no assunto mais palpitante dos últimos dias seria certamente imperdoável.
Então não é que esta semana foi anulado um leilão de quadros de
propriedade portuguesa que seria conduzido, em Londres, por uma das mais
prestigiadas leiloeiras do mundo? E não é que esse leilão era promovido pelo
Estado português? E que esse leilão envolvia um conjunto de 85 quadros do
pintor Miró? E não é que este conjunto de 85 quadros do pintor catalão é uma
colecção única no mundo? E que era propriedade do BPN, essa extraordinária
entidade bancária que já obrigou os contribuintes portugueses a pagarem por ela
vai para 10% do valor que a Troika emprestou a Portugal para resgatar o nosso
país? E não é que o Estado é, por isso, o novel detentor desta colecção de
quadros? E que, com o argumento de que é preciso aliviar a carga que os
contribuintes têm vindo a pagar pelo BPN, o Estado quer alienar essa colecção
única no mundo por cerca de quarenta milhões de euros – o valor que
alegadamente têm estes quadros – tanto, veja-se bem, tanto por quanto foi
vendido o BPN ao BIC, sem os quadros, claro? E que, portanto, as oportunidades
que a crise nos vai dando, só devem ser, afinal, convenientemente aproveitadas
pelos outros?
Vamos por partes...
Os portugueses souberam, agora,
que havia em Portugal uma colecção de 85 quadros do pintor Miró, catalão,
espanhol, avaliada em cerca de 38 milhões de euros. Souberam também, os
portugueses, que esta colecção era património do BPN. E souberam ainda que,
hoje, já é, a 100%, património do Estado português. Tratando-se de uma colecção
única no mundo, a responsabilidade do Estado poderia, então, ser uma de duas:
ou a de a alienar ou a de a preservar. Preservando-a, poderia simplesmente
fazer como faz com outro património nacional, como por exemplo, as reservas de
ouro, e tê-la e mantê-la. Como é uma colecção de obras de arte, poderia até o
Estado ir mais longe e mostrá-la.
Tendo preferido aliená-la, o
Governo usou o argumento de que precisa de aliviar o fardo dos portugueses
relativamente ao BPN. É um bom argumento, sobretudo quando aduzido de um outro,
segundo o qual foi porque não soube fazer escolhas nem definir prioridades que
o país chegou ao estado a que chegou. Não compara, no entanto, o Governo, esta
decisão nem com o valor da venda do BPN ao BIC nem com o valor que ainda teve
que injectar já depois da venda do BPN ao BIC nem sequer com o que faz com
outro património do Estado, tenha ele que natureza tiver. Mas é preciso
reconhecer que é um bom, virtuoso e muito moralista o argumento usado pelo
Governo, já que todo o dinheiro que puder servir para aliviar o contribuinte é
sempre um bom argumento. Já o argumento que diz ter sido o BPN um enorme
problema herdado do anterior Governo, sendo, embora, verdadeiro, é de mau
gosto, uma vez que tenta fazer esquecer que foi gente estreitamente ligada ao
PSD que criou o problema BPN, e que foi também com a anuência do PSD e do CDS
que foi decidida a sua nacionalização, certamente uma das piores decisões
tomadas durante a democracia portuguesa.
Mas, ao raciocinar como
raciocinou, o Governo dispensou um argumento a meu ver muito importante.
Poderia, o Governo, ter optado por preservar a colecção, mantendo-a nas mãos do
Estado e rentabilizá-la. Expondo-a, claro, fosse de que forma fosse, desde que
daí retirasse proveito. No fundo, o que se pedia - e que se pode ainda pedir -
ao Estado era que conseguisse transformar o acaso numa oportunidade, já que, na
triste realidade do BPN, quarenta milhões a mais ou a menos já não aquece nem
arrefece. E escusa agora o PS de vir chorar sobre o leite derramado, porque
teve nas mãos a mesmíssima oportunidade que este Governo teve para fazer o que
quisesse desta colecção de quadros. E, na verdade, nada fez!
Mas já que o Estado tinha
resolvido alienar a colecção, ao menos que tivesse reunido todas as condições
para que a venda fosse o mais rentável possível e, já agora, que acontecesse da
melhor maneira possível. Ora, a forma completamente atabalhoada como o Estado
pretendeu vender esta colecção única, desde a forma como foi marcado o leilão
até à forma como os quadros saíram do país - valham eles mais, por se falar
tanto deles, valham eles menos por se falar de tantos ao mesmo tempo –, a
verdade é que o Estado português não saiu nada bem na fotografia. Acho, aliás,
que todo este processo foi uma vergonha! E uma vergonha de tal ordem que não
foi preciso mais do que uma leiloeira, ainda que altamente prestigiada, para
colocar Portugal no seu (in)devido lugar. Mirabolante!
Lisboa, 6 de Fevereiro de
2014
Martim Borges de Freitas
3 comentários:
Onde iremos parar? É tudo a abotoar-se, tudo a viver de expedientes manhosos, negócios nas costas de todos nós, os anéis a desaparecerem, a justiça a consentir, quem manda ou devia mandar a fechar os olhos.
Tudo a mentir, agora até o do Meco diz que não eram praxes (Já repararam que ainda nem a comunicação social investigou e informou a descendência do tal Dux?, se é rico, remediado, pobre, onde vive, como vive), podridão completa e o povinho a aguentar ...
O copo já está a transbordar e mais dia menos dia entorna-se.
Maria a Portuguesa
O Enterro da Democracia
É um balão a encher.
Vamos ver se aguenta...
Qualquer dia rebenta!
E depois, como vai ser?
Todos já estamos a ver
E eu nada de bom auguro.
Comprometeram o futuro,
O passado e o presente!
Pró pobre daqui prá frente
Cada vez será mais duro.
Isto está ficando lindo!
Assistimos hoje em dia,
Ao enterro da Democracia
Dela própria se servindo!...
Aqueles que se estão rindo,
Deviam parar pra pensar:
Comer sempre, a fartar,
Um dia dá para o torto…
E qualquer um depois morto
De nada pode desfrutar.
De: Versos Diversos
Força, "Versos Diversos",
o POVO não pode amouchar...
São corruptos e desonestos
quem nos está a governar!!
Uma admiradora da sua Poesia
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