segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

COLABORAÇÃO DO HELDER SALGADO

Quando da I Jornadas para Salvaguarda do Património que se realizaram no Forum Cultural do Alandroal, o Helder na qualidade de assistente, teve uma pequena intervenção a propósito do bater do martelo na bigorna, fora da obra que se estava a elaborar.
Dessa intervenção aqui fica uma pequena dissertação.
Chico Manuel


                                   O som da bigorna.



Assisti pela primeira vez e julgo ser a última, à feitura de um chocalho. Fiquei encantado com a rapidez e a habilidade, com o artesão transformou a matéria bruta numa obra de arte.
Reflectindo fui levado pelo meu cérebro a recuar à década de cinquenta, reportando-me ao ofício de ferrador. Do ferrador forjeiro, fazedor de ferraduras e do que pregava as ferraduras ou melhor dizendo as cravava nos cascos dos animais normalmente chamados de tiro e sela.
Quando intervenho é meu hábito explanar o mais detalhadamente possível o assunto em questão, para que o ouvinte siga, sem esforço, o meu raciocínio e veja antecipadamente o resultado.
Bem sei que a sonorização da minha voz, segundo alguns meus amigos e apreciadores de dicção, não é das melhores, o que me leva a pensar que é um defeito congénito. Naturalmente, nada fiz nem farei para a modificar, a não ser que esteja constipado ou com gripe e aí… não à mel que chegue.
Após tantos anos e com alguma pequena vivência na prática do Ofício de ferrador, nunca me tinha interrogado acerca das pancadas dadas, pelos Oficias, fora da Obra, só na bigorna, aqui do chocalheiro, além dos ferradores, mas comuns aos dois Ofícios.
Interpretei aquelas pancadas como um descanso físico do Oficial, descanso do braço, tempo aproveitado pelos ferradores, para pensarem na correcção ou perfeição da Obra, ferraduras abertas ou fechadas com ou sem rompão e nos chocalhos pelos chocalheiros, claro.
Quis partilhar com o auditório este meu raciocínio, que escrevi de perna trocada, encimada com um livro do Doutor Manuel Inácio Pestana, cujas crónicas “Alandroal, minha Pátria”, do antigo jornal Boa Nova, não me cansei de ler e já me serviram de citação. Que estas poucas palavras sejam entendidas como uma pequena e simples homenagem a esse grande Alandroalense.
Pedi a palavra, talvez motivado por ter encontrado, ao rebuscar uma gaveta oito dias antes, um cravo número quatro, que muito me alegrou e guardo como uma relíquia, na minha banquinha de cabeceira.
 A determinada altura foi interrompido, sendo-me pedido abreviar.
Assim me foi pedido, assim o fiz. 
Foi a minha recessão sonora transmitida do martelo e da bigorna, que provocou um outro som, um pequeno diálogo entre mim e as minhas companheiras ocasionais de fila, também elas observadoras interrogativas das infrutíferas bancadas e, numa primeira observação, desnecessárias.
Nota – este texto é dedicado e creio que será lido pelas minhas desconhecidas companheiras que falei, por estarmos em sintonia e não haver tempo para uma melhor discussão do assunto em causa, conforme nossa conversa no Fórum Transfronteiriço do Alandroal por ocasião das Primeiras Jornadas do Património Imaterial do Alentejo, cujo texto agora descrito, tem extractos da minha intervenção. 
Hélder Salgado.
08-02-2014  

1 comentário:

Lince disse...

Boa tarde!!!
Espero que as suas desconhecidas companheiras ocasionais tenho lido as palavras que deixou no Al Tejo, blog que bem representa o nosso concelho (parabéns).
Não podendo de deixar uma breve nota, ao bom observador, conhecedor que é o Sr. Hélder e, escreve que lhe vai na alma.
Sr. Hélder, aos longos anos da sua vida e já vão alguns, ao pedir a palavra seja para o que for e onde for, sei bem que as palavras / ideias irão ao encontro das gerações futuras, vivar as memórias, entre outras…
Ao ler o seu texto, deparei que em certa altura tinha foi interrompido do seu raciocínio, assim, leva-me a pensar que não se pode intervir fora da elite, do contexto desses senhores (as) que muito “bem” representam.
acddiaz