Dessa intervenção aqui fica uma pequena dissertação.
Chico Manuel
Assisti pela primeira vez e julgo ser
a última, à feitura de um chocalho. Fiquei encantado com a rapidez e a
habilidade, com o artesão transformou a matéria bruta numa obra de arte.
Reflectindo fui levado pelo meu
cérebro a recuar à década de cinquenta, reportando-me ao ofício de ferrador. Do
ferrador forjeiro, fazedor de ferraduras e do que pregava as ferraduras ou
melhor dizendo as cravava nos cascos dos animais normalmente chamados de tiro e
sela.
Quando intervenho é meu hábito
explanar o mais detalhadamente possível o assunto em questão, para que o
ouvinte siga, sem esforço, o meu raciocínio e veja antecipadamente o resultado.
Bem sei que a sonorização da minha
voz, segundo alguns meus amigos e apreciadores de dicção, não é das melhores, o
que me leva a pensar que é um defeito congénito. Naturalmente, nada fiz nem
farei para a modificar, a não ser que esteja constipado ou com gripe e aí… não
à mel que chegue.
Após tantos anos e com alguma pequena
vivência na prática do Ofício de ferrador, nunca me tinha interrogado acerca
das pancadas dadas, pelos Oficias, fora da Obra, só na bigorna, aqui do
chocalheiro, além dos ferradores, mas comuns aos dois Ofícios.
Interpretei aquelas pancadas como um
descanso físico do Oficial, descanso do braço, tempo aproveitado pelos
ferradores, para pensarem na correcção ou perfeição da Obra, ferraduras abertas
ou fechadas com ou sem rompão e nos chocalhos pelos chocalheiros, claro.
Quis partilhar com o auditório este
meu raciocínio, que escrevi de perna trocada, encimada com um livro do Doutor
Manuel Inácio Pestana, cujas crónicas “Alandroal, minha Pátria”, do antigo
jornal Boa Nova, não me cansei de ler e já me serviram de citação. Que estas
poucas palavras sejam entendidas como uma pequena e simples homenagem a esse
grande Alandroalense.
Pedi a palavra, talvez motivado por
ter encontrado, ao rebuscar uma gaveta oito dias antes, um cravo número quatro,
que muito me alegrou e guardo como uma relíquia, na minha banquinha de
cabeceira.
A determinada altura foi interrompido,
sendo-me pedido abreviar.
Assim me foi pedido, assim o fiz.
Foi a minha recessão sonora
transmitida do martelo e da bigorna, que provocou um outro som, um pequeno
diálogo entre mim e as minhas companheiras ocasionais de fila, também elas observadoras
interrogativas das infrutíferas bancadas e, numa primeira observação,
desnecessárias.
Nota – este texto é dedicado e creio
que será lido pelas minhas desconhecidas companheiras que falei, por estarmos
em sintonia e não haver tempo para uma melhor discussão do assunto em causa,
conforme nossa conversa no Fórum Transfronteiriço do Alandroal por ocasião das
Primeiras Jornadas do Património Imaterial do Alentejo, cujo texto agora
descrito, tem extractos da minha intervenção.
Hélder Salgado.
08-02-2014
1 comentário:
Boa tarde!!!
Espero que as suas desconhecidas companheiras ocasionais tenho lido as palavras que deixou no Al Tejo, blog que bem representa o nosso concelho (parabéns).
Não podendo de deixar uma breve nota, ao bom observador, conhecedor que é o Sr. Hélder e, escreve que lhe vai na alma.
Sr. Hélder, aos longos anos da sua vida e já vão alguns, ao pedir a palavra seja para o que for e onde for, sei bem que as palavras / ideias irão ao encontro das gerações futuras, vivar as memórias, entre outras…
Ao ler o seu texto, deparei que em certa altura tinha foi interrompido do seu raciocínio, assim, leva-me a pensar que não se pode intervir fora da elite, do contexto desses senhores (as) que muito “bem” representam.
acddiaz
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