sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

CINE CLUBE DOMINGOS MARIA PEÇAS - FASE IV

O Cine Clube Domingos Maria Peças, inicia hoje a publicação de cinco crónicas dedicadas ao cinema italiano dos anos cinquenta e sessenta, como sempre da autoria de Rufino Casablanca.
Chico Manuel

                                                    “ROCCO E OS SEUS IRMÃOS”


 Este filme é italiano ou francês? No genérico da fita aparece como uma produção Italo/Francesa. De qualquer forma, como o realizador é italiano e a acção decorre na Itália, mais precisamente em Milão; e como nos dá conta da história de uma família siciliana; como os argumentistas são todos italianos e tem por base um romance italiano, decidimos assumir nós mesmo a responsabilidade de lhe atribuir a nacionalidade italiana. Ah.... o idioma em que o filme se expressa também é o italiano. Daí que neste escrito o consideremos italiano. Está assim explicado algum suposto abuso da nossa parte.

Título Original: “Rocco e i Suoi Fratelli”
Título Português: “Rocco e Seus Irmãos”
Realização: Luchino Visconti
Produção: Goffredo Lombardo
Argumento: Luchino Visconti, Vasco Pratolini, Massimo Franciosa, entre outros....
                     (adaptado do romance “Ponte della Ghisolfa” de Giovanni Testori)
Música: Nino Rota
Fotografia: Giuseppe Rotunno
Intérpretes: Renato Salvatori, Alain Delon, Annie Girardot, Nino Castelnuovo....


O filme conta a história de uma família siciliana que migra da sua ilha natal, em busca de melhores condições de vida, para uma grande cidade, após o fim da 2.ª Guerra Mundial. A destruição da Itália, um dos países vencidos na guerra, destruição essa que tanto foi material como psíquica, está bem patente neste magnífico filme de Luchino Visconti. Depois de 25 anos de fascismo, depois da ocupação do norte do país pelo exército alemão, depois do avanço das tropas americanas que, vindas do norte de África,  desembarcaram exactamente na Sicília e finalmente libertaram o país do regime de Mussolini, as mazelas de todos esses anos ficam bem visíveis. É neste contexto que aquela numerosa família se instala em Milão. Era uma família carente de todos os recursos: Materiais e espirituais. E não tarda que se instale um mau estar que levará à desintegração familiar. A falta das vivências e das referências culturais, em que tinham sido criados e vivido até então, vivências e referências essas, esbatidas e anuladas pelo ritmo de vida acelerada da grande cidade, rapidamente causam a destruição da solidariedade entre os diversos membros da família. É uma tragédia o que se adivinha. E é de facto em tragédia que o filme termina.
As interpretações de Renato Salvatori, Alain Delon e Annie Girardot, são extraordinárias.


 As imagens a preto e branco de Giuseppe Roturno, contribuem muito para o ambiente dramático que percorre todo o filme. Pensamos que o realizador, ao escolher este tipo de imagens, fez a opção correcta. Isto, praticamente numa altura em que todos os filmes já eram feitos com cor. A música de Nino Rota também contribui muito para dar ao filme o clima de tragédia que nele se vive. Também o produtor, Goffredo Lombardo, depois desta experiência bem sucedida, se tornaria no futuro imediato, num dos mais constantes companheiros de estrada do realizador.
Quanto à realização de Luchino Visconti, está ao nível do seu melhor. Este drama familiar, embora se possa encaixar ainda no registo neo-realista, que o realizador vinha cultivando até então, marca também, de certo modo, um afastamento desse movimento artístico. A seguir a este filme viriam os extraordinários “O Leopardo” e “Morte em Veneza”. Já num registo artístico diferente, como saltará à vista a quem vir os filmes.
Luchino Visconti recebeu, por este filme, o prémio especial do Festival de Cinema de Veneza, em 1960.
No mesmo ano e no mesmo festival foi nomeado para o Leão de Ouro.

Rufino Casablanca
Terena – Monte do Meio – 1963


2 comentários:

Anónimo disse...

Amigo Francisco Tatá, antes de haver por pouca sorte uma desgraça aconselho o senhor Francisco a fotografar a parede que está nas traseiras do Forum Cultural, parede essa que pertence ao quintal do antigo lar.

francisco tátá disse...

Embora o local de colocação do comentário não seja o mais adequado, porque se trata de um assunto que pode ser alertado por este meio aqui fica o comentário.
Vou tentar saber algo mais e então sim vai ficar disponível um local para futuros comentários
Administrador