Enquanto a Eveline
Sambraz se encontra por outras bandas e,como tal, não nos vão chegando as habituais
Crónicas sobre filmes do passado. escritas pelo Rufino Casanblanca, e, porque
não queremos quebrar a sequência da rubrica mais antiga deste espaço, vou
rebuscando memórias a propósito deste grande homem que muitas noites de cultura
trouxe ao Alandroal.
Já aqui coloquei por mais de uma vez a chegada do Domingos
Peças ao Alandroal, a maneira de anunciar as sessões, os locais, filmes, documentários
e muitas outras peripécias ocasionadas pelas sessões de cinema.
Vou hoje abordar não só as amizades conquistadas pelo Ti
Domingos, alguns dos seus momentos de ócio, assim como os ajudantes com que
contava no Alandroal.
Quando esporadicamente chegava ao Alandroal mais cedo, coisa
muito rara, pois habitualmente a sua chegada era sempre em cima da hora e
quando muitas das vezes, já se desesperava, lá se ouvia a habitual “marcha do
Ribatejo” e o anuncio do filme que o Peças fazia questão de anunciar.
percorrendo as principais artérias da Vila.
Mas por vezes, principalmente em tardes invernosas chegava
logo depois do almoço e o tempo era passado à chaminé da Sociedade Artística,
com o Mestre Zé Luís, contínuo da Colectividade, saboreando ema boa linguiça
assada, bem regada com uns bons tintos, e amiúde, com o “forno” já quente e
enquanto fazia a volta para anunciar o filme, ia fazendo a tradicional
“via-sacra” pelas “capelinhas” da Vila.
Por vezes, estas tardes bem passadas, davam azo a que na
exibição do filme as bobines fossem trocadas, chegando às vezes o “End”
aparecer logo no inicio. Coisa resolvida de imediato com o alerta de meia dúzia
de assobios, que ninguém levava a mal.
Como disse, seria o Mestre Zé Luís, a principal amizade, mas
muitas mais o Ti Domingos conquistou no Alandroal.
Refiro aqui o Casal Dr. Xavier, com lugar cativo, e que
enquanto não chegasse não se iniciava a sessão. Também o meu avô Teófilo e a
minha avó Jacinta, tinham estatuto de privilégio e duvido até que muitos dos
bons filmes que nos foram proporcionados não tivessem sido aconselhados por
eles.
A propósito, é bom saber que na altura, ainda que não
houvesse plateia ou balcão, havia uma certa destrinça na ocupação dos lugares e
consequente preço dos bilhetes. Quando das exibições nos Casarões, na frente
eram os bancos sem costas, mais para a rapaziada e com preços muito acessíveis,
o lado direito era ocupado pela classe mais pobre que trazia de casa o seu
banco ou cadeirinha e com certa diferença no bilhete em relação ao da ocupação
das cadeiras de ferro alinhadas à esquerda, onde a parede era mais alta e
precavia melhor o frio.
Como as cadeiras eram pertença da S.A.R. A., havia que fazer
o seu transporte da Sede da mesma para os Casarões e vice-versa. Era aqui que
entravam em acção os ajudantes do Peças, que alem desta tarefa, faziam a
arrumação das mesmas, tratavam e colocar as “cornetas” em cima da parede ou no
próprio ecran, e auxiliavam no transporte de material e venda de bilhetes.
Figura que acompanhava muitas vezes o Peças era o
Salustriano, homem também natural de Monforte e braço direito do mesmo.
Já no Alandroal contou sempre com o “Padoca”, mais tarde o
“Buga”(também auxiliar do Mestre Zé Luís) e o Baldoneiro, possuidor de grande
agilidade e que conseguia levar o som mesmo por cima do ecran em pano de
tijolo..
Suponho que não havia qualquer remuneração, senão o assistir
de borla ao filme, e volta e meia o convite para acompanhar o Peças ás outras
localidades onde eram exibidos.
Muito mais há a contar sobre esta figura impar que o
Alandroal teve o privilégio de conhecer, como por exemplo as suas frequentes
desavenças com a G.N.R. ou mesmo com a C.M. devido a certos e determinados
incumprimentos quer no que diz respeito ao cumprimento da classificação etária,
quer na obtenção atempada da respectiva licença de exibição.
Fica para a próxima
Chico Manuel
3 comentários:
CINE CLUBE DOMINGOS MARIA PEÇAS
O Chico não vai levar a mal este meu pequeno apoio á sua crónica.
No Écran de pano de tijolo dos Casarões não rara era a noite de Cinema que uma, ou mais lagartixas por lá se passeavam sob a intensa luminosidade das projecções e que a "MALTA DA GERAL" assim comentava...É, olhem lá p'rás lagartixas "além" no Écran!!!
E as cadeiras que se levavam de casa? Lembro a figura de um acérrimo cinéfilo que punha uma á cabeça dela dependurando mais 4.
TRANSPORTAVA ASSIM 5 LUGARES A CUSTO inferior ás Cadeiras de Ferro (préviamente numeradas pelo Buga ou pelo Baldoneiro) e aos Bancos de Madeira.
Sobrevivências???
Abraços para todos
Tói da Dadinha
Oh Tói... não eram só lagartixas! Volta e meia também apareciam os seus ratitos.
Olha se já existisse o 3D!
Um abraço
Chico
E o Brito.
O Joaquim Manuel Roma de Brito também por vezes dava uma ajuda.
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