quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

LIVROS QUE RETRATAM USOS E COSTUMES DE GENTE DO NOSSO CONCELHO

(Continuação do publicado em 15/01)

Resumimos hoje mais algumas páginas do livro de Ana Paula Fitas«Ocupação Sexual dos Espaços e Redes de Comunicação Social em Aldeia da Venda», que escrito em 1997, reflecte usos e costumes de gente da nossa terra,


O Calendário Agrícola e a Alimentação
Na Primavera, o trabalho rural aldeão consiste nas seguintes tarefas: transplantar para a terra o tomate e a couve, preparar e sachar a terra para as batatas, colocar estacas nas oliveiras, sulfatar, semear alhos e forragem, mondar as searas, fazer fornos de carvão, arrancar as batatas e extrair a cortiça…sobre a Primavera uma das aldeãs, com cerca de 60 anos. Recorda:
“(…) ora, quando eu era gaiata, na Primavera sabe o que se fazia? Metíamos dentro dos favais, comíamos as favas cruas e levávamos as cascas para se cozerem e se comerem à noite…e o pão? Sabe como é que o arranjávamos?...íamos à pida (…)”
A “pida” era actividade fundamental para a sobrevivência popular dos adultos que só tinham trabalho se fossem seleccionados na praça da aldeia, nas madrugadas em que aí acorria o povo oferecendo-se para o trabalho sazonal nas grandes herdades.
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“(…) pronto, lá se ia à pida de monte em monte. De terra em terra; os gaiatos andavam mais aqui nas redondezas, ou iam com as mães até mais longe e os homens esses chegavam a abalar aos 15 dias em grupo até às vilas…….
Actualmente da alimentação aldeã durante a Primavera constam favas com chouriço, açorda de alho,sopas de grão, de azeite, de tomate, de carne e de peixe do rio; entre a Pascoela e a Festa da Aldeia fazem-se bolos e “(…) quem pode mata um borrego(…)”
No Verão os trabalhos rurais integram: a selagem dos fenos, a colheita e debulha da aveia, a colheita dos alhos, batata, cebolas, feijão, tomate. beringela, ervilhas, cenoura,  alface, couve, melão e uva, a colheita, malha e debulha de outros cereais como o trigo, a plantação de batatas, o semear dos alhos, espinafres e alfaces.
As tarefas horticolas são desempenhadas pelos dois grupos sexuais, ; contudo se houver trabalhos domésticos a fazer e os homens estiverem na aldeia às horas de rega serão eles a proceder a tais desempenhos.
O Inverno é agricolamente ocupado com a apanha da azeitona e o podar das oliveiras, o lavrar dos campos e a preparação de estufas.
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Em Julho realiza-se na freguesia a festa anual da Aldeia de Casas Novas de Mares a que ocorre o grupo sexual masculino das aldeias vizinhas e em Agosto o mesmo acontecimento na Aldeia dos Marmelos e na Vila do Redondo.
As raparigas manifestam discretamente o desejo de irem às festas onde o baile constitui a principal atracção. Para tal organizam-se entre elas e tentam convencer uma mulher adulta a acompanhá-las, sendo raros os casos em que as raparigas vão acompanhadas pelos namorados.
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No Verão, as refeições integram, alem das sopas usuais incluindo a de peixe do rio, achegas fritos, gaspacho (sopa fria), pimentos assados, batatas de azeite e vinagre, melão e melancia.
A matança do porco é, no Inverno um momento importante em termos quer económicos, quer sociais já que se constitue como determinante para a participação da carne na composição da alimentação familiar ao longo do ano.

Testemunho da sua importância é a dupla proteção a que os aldeãos sujeitam a matança: a primeira, consiste na interdição das mulheres que durante o período menstrual se não podem aproximar da carne ou da casa da matança por se crer que tal facto estraga a carne. A segunda, no costume de, para a protger enquanto fica desmanchada e temperada com sal e pimentão em grandes alguidares de barro, se colocar sobre ela um número ímpar de rodelas de laranja.

(Continua proximamente)

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