Quinta, 09 Janeiro 2014 09:36
Eusébio morreu no passado domingo. Dito assim, parece que
apenas morreu um homem, genial futebolista, produtor de alegrias colectivas num
tempo de chumbo, onde uma imperava uma feroz ditadura.
Mas se foi apenas um homem que morreu, como justificar esta comoção
generalizada, que arrastou quase toda a gente, incluindo aqueles que nunca o
viram jogar e aqueles que detestavam que os seus golos e jogadas fossem a fonte
de derrotas dos clubes da sua paixão?
Parece-me que cada um dos que choraram a sua morte, o
fizeram por uma razão diferente.
Houve quem lamentasse a perda de um símbolo do seu clube,
quem chorasse o desaparecimento do ídolo que quase levou Portugal ao título
mundial, quem valorizasse o homem pobre que vindo de longe se afirmou como um
herói popular.
Eusébio não era apenas um símbolo. Era uma figura mítica
com a capacidade de representar aquilo que de melhor parece a cada um. Seja um
tempo, uma forma de estar, um lampejo de genialidade ou uma espécie de vingança
sobre as inevitabilidades.
Para mim, Eusébio era o “mais custoso” dos bonecos da
bola, aquele que me impedia de acabar as colecções.
Era aquele que me irritava quando passeava a sua classe
pelo campo do Barreirense, impedindo a vitória do meu clube e que eu achava que
nem era nada de especial.
Era a figura central das histórias que ouvi contar tantas
vezes que, apesar de ter apenas 6 anos aquando do mundial de 66, tive sempre a
sensação que assisti a todos os jogos e memorizei todas jogadas fantásticas que
deram aquelas tão cantadas vitórias.
Eusébio era sempre o que cada um de nós queria ser quando
jogávamos à bola na rua da fábrica dos chocolates, utilizando o portão da
fábrica como baliza.
Até quando chorávamos, depois de aparatosas quedas no
alcatrão, desejávamos fazê-lo como vimos mil vezes o Eusébio fazer após aquela
derrota injusta com os ingleses.
Cada um chorou a perda de Eusébio onde mais lhe doeu. Eu
senti a morte do “pantera negra” como a morte da minha infância.
Até para a semana
Eduardo Luciano
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