Quinta, 02 Janeiro 2014 10:18
A comunicação de ontem do Presidente da República
pareceu-me uma viagem por uma terra que só existirá num corredor virtual que
liga Belém a S. Bento.
Sua Excelência começou por passar a mão pelo lombo dos
portugueses, lamentando os sacrifícios a que a maioria está sujeita, falando ao
coração dos mais jovens que não encontram empregos ou dos mais velhos,
atingidos pela desemprego de longa duração e pela insegurança acrescida.
Depois veio o argumento justificativo para a assinatura do chamado
memorando de entendimento que, como é sabido, passa pela ideia de que não
haveria dinheiro para pagar salários e pensões. Para Sua Excelência a agressão
externa a que o país foi sujeito tem o nome simpático de “ajuda”.
De seguida Sua Excelência dá um salto no tempo e começa a
falar de recuperação, de resultados económicos e de crescimento, inculcando na
cabeça dos mais desprevenidos duas ideias perfeitamente perversas: a de que
estamos às portas do paraíso e a de que tal se deve ao governo que Sua
Excelência dirige por interpostas pessoas.
Pelo meio ainda há espaço para defender a ideia de um
programa de assistência, coisa completamente diferente de um segundo resgate,
sem que explique qual a diferença, para a hipotecada soberania nacional, entre
a sujeição às imposições da troika e a sujeição às imposições da troika menos
um.
Por último, Sua Excelência atreveu-se a falar dos 40 anos
da Revolução de Abril anunciando uma conferência internacional sobre qualquer
coisa que não entendi bem o que teria a ver com esse momento exaltante da
história do país.
Embalado, quem sabe se pela velocidade do teleponto,
desatou a classificar como antidemocráticas as forças que não venceram eleições
legislativas nos últimos 40 anos, apelando pela enésima vez ao reforçado
conluio entre os partidos do caldeirão da governação, lembrando que foi desse
conluio que saíram as opções que nos fizeram chegar ao ponto em que estamos,
desde a adesão à então CEE, à adesão ao marco renomeado de euro, passando pelas
amputações do texto constitucional e acabando, muito recentemente, no acordo
para a reforma do IRC que pretende transferir carga fiscal do capital para o
trabalho.
Todos os que cá em casa assistiram à dissertação de Sua
Excelência, foram pontuando as palavras do senhor com impropérios, esgares de
náusea, um ou outro termo mais vernáculo e ainda um bocejar mais intenso.
Quer dizer, todos não. Os bonecos do meu filho mais novo,
ouviram sem pestanejar tudo o que foi dito, não mostraram sinais de indignação
e não proferiram um único impropério.
Pode-se pois dizer que Sua Excelência esteve a falar para
o boneco.
Até para a semana
Eduardo Luciano
2 comentários:
Em minha casa aconteceu o mesmo.
Nos bonecos, reparei que a expressão se não alterou, como nos aconteceu a nós.
Mesmo contrariados, lá fomos ouvindo o marketing com que Sua Exa. nos brindou.
Mas o meu gato, que nunca pensei que fosse tão inteligente, logo no princípio da dissertação colocou-se junto à porta de saída, implorando que lha abríssemos e lá se foi rapidamente, não sei que vontade lhe deu, nunca costuma sair assim tão apressado.
E por aqui, onde vivo, nem os bonecos o ouviram.
Como é possível este crâneo ser presidente DE TODOS OS PORTUGUESES com a percentagem mínima de votação que lhe "arranjaram"!!!
MEU NÃO É DE CERTEZA.
JAMÉS o quererei.NUNCA.
Antes a elisabete jacinto dos camiôes ...
Goodbay LULU
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