Segunda, 20 Janeiro 2014 10:40
Não estando satisfeitos com o péssimo trabalho que estão a
prestar à democracia, como se não fossem suficientes os atentados aos direitos
dos portugueses, o PSD decidiu aplicar mais um golpe à democracia e mais um
atentado aos direitos humanos.
A JSD, com a óbvia aprovação dos seniores do PSD e de Pedro Passos
Coelho, decidiu apresentar a proposta de um referendo sobre a co-adopção e
adopção de crianças por parte de casais do mesmo sexo. Relembro que esta
proposta surge após a Assembleia da República já ter aprovado uma proposta
sobre a co-adopção. O referendo foi aprovado graças aos votos a favor dos
deputados do PSD e das abstenções dos deputados do CDS. Repugnante esta tomada
de posição. Enquanto que no CDS o relógio relativo à suposta saída da troika
parece estar adiantado, pelos lados da JSD parece que o relógio está atrasado
largas dezenas de anos. Julgo estar na hora de os fazer despertar e colocá-los
no seu devido lugar.
Fica claro que esta proposta do PSD tem três objectivos:
1.º) Fazer parar a iniciativa em curso, e já aprovada,
relativa à co-adopção, fazendo prolongar a angústia real de crianças e seus
pais ou mães;
2.º) Promover uma manobra de diversão, procurando desviar
a atenção dos portugueses das políticas económicas e sociais desastrosas que
têm vindo a levar a cabo;
3.º) e por fim, contribuir para a descredibilização da
vida política e partidária. Os jotinhas sabem bem que estas tristes cenas
contribuem para essa descredibilização, e que com ela beneficiam, pois sabem
que só têm a ganhar com o alheamento e com a abstenção.
Devo, ainda, acrescentar que os deputados e deputadas do
PSD que saíram da sala ou que votando a favor do referendo, apresentaram
declarações de voto, não me merecem qualquer qualificação mais positiva, antes
pelo contrário. Sair da sala ou dizer em declaração de voto que eram contra o
referendo, apenas significa uma coisa: que valorizam mais a disciplina de voto
do que a sua própria consciência e os direitos de dezenas de crianças e
famílias deste país.
Sobre a co-adopção e adopção de crianças por casais do
mesmo sexo, os opositores continuam a dizer que é necessário um debate público
mais amplo (como se os direitos humanos fossem passíveis de debate) e que são
necessários mais avanços científicos. Sobre o debate público, pergunto-me: se
tivéssemos estado ao longo das últimas décadas à espera da conclusão dos
debates públicos sobre as principais questões relacionadas com os direitos
humanos, será que teríamos avançado assim tanto? E sobre os avanços
científicos, as centenas e centenas de estudos científicos existentes sobre a
matéria não são suficientes?
Recordo, a título de exemplo, que a minha Ordem
Profissional – Ordem dos Psicólogos Portugueses - entregou à Assembleia da
República, há poucos meses, um parecer sustentado por dezenas e dezenas de
estudos que confirmam que as crianças criadas por casais do mesmo sexo têm um
desempenho igual ao das crianças criadas por pais heterossexuais, no que diz
respeito ao seu desenvolvimento emocional, cognitivo, social e ajustamento
psicológico. Aliás, as centenas de estudos realizados confirmam, ainda, o papel
adaptativo, funcional e emocionalmente ajustado dos pais do mesmo sexo, não
havendo qualquer diferença em relação aos pais heterossexuais.
É triste, é muito triste que se defendam com a necessidade
de debates e de avanços científicos apenas porque têm medo de dizer abertamente
que tem uma mente enclausurada algures no século passado, impregnada de maus e
velhos costumes…
Bruno Martins
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