Terça, 14 Janeiro 2014 09:52
Eusébio e Sócrates, o José, estiveram quase
inexplicavelmente juntos, na berlinda, a semana passada. E este par tornou-se
tão estranho como se estivessem estado juntos nessa berlinda o Eusébio e
Sócrates, o filho de Sophroniscus, ou seja, o filósofo grego.
Afinal, houve quem usasse Eusébio, mais uma vez e abusando do multiusos
em que se transformam as figuras públicas de relevância, para, de repente,
descobrir mais um, só mais um, motivo para zurzir em quem de facto não
interessa, por variadíssimas razões, esquecer. E não fossem, com os recentes
apelos à união de esforços de todos aqueles que estarão interessados em
governar o país, lembrarem-se de que foi esse o esforço pedido por Sócrates
quando da medida de contenção mais conhecida por PEC IV, às tantas mais valia,
para alguma gente (que devia ter mais “cabeça”), distrair o “mexilhão” com o fait-divers que juntou, então, o sempre-herói
Eusébio e o sempre-odiado (e porque, em meu entender, invejado) José Sócrates.
E foi assim que, saído de um comentário perfeitamente
inócuo sobre uma recordação de infância que colocava Sócrates no reino dos
comuns mortais a propósito do imortal Eusébio, talvez com medo que tal
imortalidade contagiasse quem ousou também ter infância, se criou o dito fait-divers sobre “onde estava José Sócrates no
dia do Coreia do Norte-Portugal de mil novecentos e troca o passo”.
Nós bem sabemos que o José Sócrates comentador não tem
poupado a coligação do governo, e do governo com o PR, a críticas incomodativas
e explicadas com uma argumentação que, não sendo a mais acessível ao cidadão
comum e desatento aos meandros da política a sério, e não da intriguice, é, em
meu entender, muito certeira. Também sinto, como muitos outros, e sem qualquer
interferência na apreciação que faço do político que é e estadista que foi, que
o jeitinho de José Sócrates para falar de coisas mais afetivas não é, em meu
entender, dos melhores. Mas de um governante, confesso, espero mais do que
jeitinho para embalar ouvintes embevecidos com histórias de encantar.
Ora durante toda a passada semana toda a minha gente falou
sobre o Eusébio falando de si ou, em alguns círculos mais dourados, da relação
de si próprio com Eusébio. Para quê disparar a propósito de Eusébio contra José
Sócrates nostálgico, sem sequer utilizar munições ajustadas? Porque até isto de
fazer intriga no meio político, e em geral no meio público, também tem a sua
arte…
Como escreveu o Vergílio Ferreira «Afirma com energia o
disparate que quiseres, e acabarás por encontrar quem acredite em ti.» E é por isso que
quando inopinadamente desatamos a acreditar pia, pública e cegamente, em
matéria pouco relevante para o interesse público, em quem desatou um disparate
corremos um certo risco em, pelo menos, sermos tão ou mais disparatados. O
desatino de quem tem também o nosso destino nas mãos, aproveitado por quem se
supõe que vive de atinar em notícias e divulgá-las, enrola-nos por vezes na
espuma dos dias… Temos de saber sobreviver-lhes, às vezes e para muitos, como
heróis.
Até para a semana
Cláudia Sousa Pereira
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