«Alguns nomes dos
primeiros anos do cinema português»
António
Lopes Ribeiro – 1908/1995
Jorge Leitão Ramos, grande estudioso do cinema português,
citando Alves Costa, dizia na sua obra “Dicionário do Cinema Português, 1962-1988” , publicado pela
Editorial Caminho em 1989, que António Lopes Ribeiro “amou sinceramente o
cinema e mamou da sua teta alegremente”.
É de facto invulgar a dedicação deste homem ao cinema. Só
teve uma dedicação igual para com o “Estado Novo” e Salazar.
Chegou a ser apelidado de “O Cineasta do Regime”.
De facto, quando Salazar precisava de alguém na área do
cinema, para propagandear fosse o que fosse, chamava António Lopes Ribeiro. E
António Lopes Ribeiro sempre respondeu à chamada. Aqui deixamos uma pequena
amostra dos documentários que ele realizou para o regime que governou Portugal
até ao 25 de Abril. Repetimos, esta é apenas uma pequena amostra.
1937 – “A Revolução de Maio de 1926” (vide filme no final)
1939 – “Viagem de Sua Excelência o Presidente Óscar Carmona
a Angola”
1940 – “Feitiço do Império”
1941 – “A Manifestação Nacional a Salazar”
1942 – “A Exposição do Mundo Português”
1944 – “Viagem de Sua Eminência o Cardeal Patriarca”
.... e por aí fora, ano após ano, até ao 25 de Abril. Esta
data apanhou-o como presidente do Sindicato dos Profissionais de Cinema.
Sindicato corporativo, tal como a Constituição Portuguesa da altura exigia,
nada de confusões. Não tinha nada a ver com os sindicatos de hoje em dia.
É claro que pelo meio fez coisas boas. Muito boas mesmo. Uma
delas foi o “Museu do Cinema” na RTP, de 1957 a 1974. Outra das coisas boas em que teve
uma valiosa participação foi o filme “O Pátio das Cantigas”.
Pois é exactamente desse filme que hoje nos ocuparemos.
País de origem: Portugal
Realizador: Francisco Lopes Ribeiro
Produtor: António Lopes Ribeiro
Argumento: António Lopes Ribeiro
Música: Frederico de Freitas
Intérpretes: António Silva, Vasco Santana, Maria das Neves,
Laura Alves, entre outros.
O filme conta a vida num pátio popular de Lisboa. Conta os
amores, os desamores, as intrigas, os dramas e tragédias da arraia miúda. E
também as alegrias e os bons momentos. Mostra-nos a coscuvilhice das
vizinhanças, as pequenas invejas, mas também a solidariedade dos pobres. Foi um
grande êxito popular durante décadas. Ainda hoje, quando passa na televisão,
continua a ser visto com muito agrado. António Silva, no papel de Evaristo, um
droguista com a mania que é o dono do pátio, e Vasco Santana, que encarna o
bebedolas de serviço, tiveram grandes momentos de interpretação. O resto do
elenco também tem momentos de extraordinária arte de representar.
António Lopes Ribeiro foi um dos mais completos cineastas
portugueses. Pese embora o seu pendor para o fascismo, exaltando nos seus
documentários, em curtas, médias e longas metragens, uma obra que de facto não
existia, sendo apenas propaganda pura do regime de Salazar, a verdade é que no
campo artístico desempenhou todos os papéis. Para além de realizador e
produtor, foi argumentista, tradutor e actor. Foi encenador teatral e colaborou
na Emissora Nacional. Até foi “sindicalista” dessa profissão. Também foi o
produtor de “Aniki-Bobó”, filme chave da carreira de Manoel de Oliveira, e da
cinematografia portuguesa, realizado em 1942.
Uma das ironias da vida deste homem, é que num dos seus
últimos trabalhos, desta feita como actor, desempenhou o papel de um padre
antifascista na telenovela “Chuva na Areia”.
Rufino Casablanca
Terena – Monte do Meio
– 1995
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