«Alguns nomes dos primeiros
anos do cinema português»
Leitão de Barros - 1896/1967
A Companhia Portuguesa de Filmes/Tobis Portuguesa, teve
Leitão de Barros, juntamente com António Ferro, António Lopes Ribeiro e
Conttinelli Telmo, entre outros, como fundadores.
Era um grupo de cineastas que, na sua grande maioria,
estavam ligados ideologicamente ao regime saído do golpe militar de 28 de Maio
de 1926.
Embora os seus fundadores fossem simpatizantes e até
executantes da política salazarista, estes estúdios de cinema não contaram com
quaisquer apoios financeiros do estado para a sua fundação e implantação.
Tratou-se de uma empresa privada, que com capitais exclusivamente
privados, iniciou a sua actividade.
Pois Leitão de Barros foi um dos primeiros cineastas
nacionais a utilizar esses estúdios para a rodagem do filme “As Pupilas do
Senhor Reitor”, realizado em 1935.
Já antes, em 1931, José Júlio Marques Leitão de Barros, de
seu nome completo, tinha realizado o primeiro filme sonoro português, “A
Severa”.
Ainda no tempo do
cinema mudo tinha dirigido vários documentários. Para além do cinema, exerceu
ainda muitas outras actividades no campo do jornalismo, pintura, ensino e
arquitectura.
Foi também responsável por muitas iniciativas do “Estado
Novo”, nomeadamente na Exposição do Mundo Português que decorreu em 1940.
Entre os filmes por Leitão de Barros realizados, destacamos
alguns daqueles porque ele manifestou mais apetência, os chamados filmes
biográficos/históricos/romanceados: “O Bocage”, “Inês de Castro”, “Camões”.
Todos rodados durante as décadas de trinta e quarenta.
Hoje escreverei sobre “Camões”, de 1946, por ser a fita
deste realizador que conheço melhor.
País de origem: Portugal
Ano de Produção: 1946
Realizador: Leitão de Barros
Produtor: António Lopes Ribeiro
Argumento: Leitão de Barros e António Lopes Ribeiro
Elenco: António Vilar, Eunice Muñoz, António Silva, entre
outros
Este filme pretende contar-nos a história de Luiz Vaz de
Camões.
Tudo o que inventaram sobre o Poeta passa por este filme.
Tudo o que nos impingiram, durante a aprendizagem escolar,
passa por este filme.
Tudo está de acordo com os objectivos que o regime pretendia
alcançar.
Ali se exalta o nacionalismo, como referência para a
política salazarista.
A mensagem ideológica que o filme transmite deve ser
entendida como a mensagem que a ditadura pretendia fazer passar em Portugal nos
anos quarenta, quando a 2.ª Guerra Mundial já tinha sido ganha pelos aliados.
Guerra essa em que Salazar
sempre tinha dado uma no cravo outra na ferradura, sem nunca definir com
clareza o lado em que estava.
De tal maneira assim foi que o regime não se coibiu e
considerou este filme como de utilidade pública, atribuindo-lhe os maiores
prémios nacionais da época.
Tudo isto feito com magníficos actores, com magníficos
técnicos e magníficos meios de produção.
O grande Poeta que foi Luiz de Camões, mereceu o filme! Não
merecia era o aproveitamento que o “Estado Novo” fez dele.
Aliás, noutros filmes deste realizador foi feito o mesmo
aproveitamento: “Inês de Castro” e “O Bocage”, são disso outros exemplos.
Tecnicamente consideramos Leitão de Barros um dos melhores
realizadores nacionais de todos os tempos. O que lhe censuramos é a feição
política da sua obra.
Rufino Casablanca
Terena – Monte do Meio – 1995
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