Selfie é a popular palavra para designar uma fotografia
tirada a si próprio, normalmente com um telemóvel, um auto-retrato portanto, e
que foi nomeada a palavra do ano 2013 pelo famoso dicionário da Oxford. E já
que este é o último dia de 2013, dediquemos-lhe uma crónica.
Óscar Wilde, o romancista irlandês da segunda metade do
século XIX, autor do famoso romance Retrato de Dorian Gray afirmou que "Um
retrato pintado com a alma é um retrato, não do modelo mas do artista."
Ora, um auto-retrato será, então e de acordo com esta opinião de Wilde,
partilhada aliás por muitos pintores e fotógrafos, uma espécie de aparição ou
de revelação a si mesmo. Se na pintura me parece possível a aplicação da
máxima, já numa selfie quer-me parecer que há pouca preocupação com esse lado
filosófico ou ontológico de descoberta do “eu” através da selfie.
Mas o que pôs selfie como palavra do ano no dicionário foi
também o facto de estas fotografias, postas a circular nas redes sociais, se
terem tornado virais neste tipo de canal de comunicação. Já são tantas as
selfies, como as fotos de gatos e comida, imagine-se! E o que é certo é que
também já se definiram regras para este tipo de auto-retratos. Um “dos and
dont’s” para continuarmos na língua da palavra do ano, ou seja, um “a fazer e a
evitar”. Parece certo fazer uma selfie em frente à Mona Lisa, ou deixar um
espaço em branco ao seu lado para qualquer vedeta que inesperadamente possa
passar por ali e ficar na foto; mas nunca se deve fazer pose de patinho, por
exemplo, ou autorretratar o seu “traseiro” para o público. Admito que seja um
código ainda em construção…
Tudo isto parece muito “ à frente” e fora do que realmente
importa na vida, mas o que é certo é que as tecnologias vivem no quotidiano dos
nossos jovens (e não só) e fazem-nos viver a um ritmo pouco equiparável ao da
máquina de escrever. Por isso, quando julgamos por vezes estar a fazer algo de
inovador e arrojado, afinal isso já é banal em qualquer parte desta pequena
aldeia wireless que é o Mundo e o jovem de 16 anos lá de casa dá-nos lições
sobre o assunto.
O que, de facto, me surpreende mais nesta coisa das
selfies é precisamente, afinal, o dispensar do fotógrafo. Uma espécie de
declaração de independência dos outros, mas afinal uma dependência da máquina e
da vontade de “estar na rede”. Uma aparente contradição entre pôr a circular numa
rede de comunicação um testemunho, mais ou menos relevante para as nossas
vidas, que se tirou sozinho para não ter que (ou porque não se pode) comunicar
e pedir «importa-se de me tirar uma foto?».
Logo à noite, vão ser muitas as selfies neste mundo a assinalar
o final de um ano e o recomeçar de outro. Partilhado ou vivido consigo próprio,
desejo a quem me ouve ou lê, um Bom Ano! e, até para a semana!
Claúdia Sousa Pereira
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