sexta-feira, 25 de outubro de 2013

CRONICA DE OPINIÃO TRANSMITIDA HOJE NA DIANA/FM


Sexta, 25 Outubro 2013 09:27
Ou me engano muito ou ainda veremos o Partido Socialista a defender a Troika e os partidos da maioria a vilipendiá-la. Vem isto a propósito do que eu aqui disse na semana passada. Na semana passada, disse eu, aqui, depois do Governo ter apresentado a sua proposta de Orçamento do Estado para 2014, que, afinal, havia um só Governo com um só discurso. Depois do que o CDS disse esta semana sobre a Troika, voltámos a ter um Governo e dois discursos.
O CDS ao ter dito agora, passados dois anos e meio, sem que alguma vez o tivesse dito antes, que a Troika teve falta de visão já em 2011, revela o modo como o CDS faz política e revela o modo como o CDS está no Governo. Isto é, sem pensamento estratégico conhecido relativamente ao país, o CDS está nesta altura no Governo a tentar safar-se. Não sendo esta atitude uma novidade, aqui reside, no entanto, o problema do CDS. Que só se torna agora mais evidente, porque o CDS está agora no Governo, exposto, o que torna, por conseguinte, mais perceptível a sua forma de fazer política, praticamente a mesma desde que o CDS é liderado por Paulo Portas. Expliquemo-nos…
Quando na passada semana aqui disse que, afinal, havia um só Governo com um só discurso quis também dizer que, na hora da verdade, o CDS recua. Seja nos princípios, seja nos valores, seja nas propostas, seja nas considerações, seja no que for. Desde que Paulo Portas lidera o CDS que o CDS não tem pejo em desdizer-se. A dúvida reside apenas na demora que leva a fazê-lo. É tão verdade o que acabei de dizer como verdade é que o tem feito com sucesso! Para não irmos mais atrás, basta ler o que Paulo Portas dizia quando, há 15 anos, começou a liderar o CDS e o que diz hoje sobre as mesmas questões, para percebermos as reviravoltas que o discurso do CDS foi tendo ao longo do tempo. E, no entanto, tem tido a complacência de quase toda a imprensa, de quase todos os comentadores e, também, dos seus eleitores, cujo número foi, aliás, crescendo.
Ora, quando, desde a semana passada, desde a apresentação da proposta de Orçamento do Estado para 2014 e até, pelo menos, ao dia em que escrevo esta crónica, Paulo Portas começou a ser acutilantemente - e generalizadamente - criticado pela forma como criou e geriu a crise de Julho e a forma como ele próprio apresentou os resultados da oitava e nona avaliações da Troika e defendeu, depois, a proposta do Governo de Orçamento do Estado para 2014, eis que o CDS, claramente sob a sua batuta, logo vem repor a tese do “um Governo, dois discursos”. Tese que, depois de tão bem vendida, de tão bem assimilada e com resultados tão bons seria, aliás, uma pena abandonar! Mesmo que, a tese, se fique pelas palavras.
Portanto, se, nos actos, como aqui disse na semana passada, temos um Governo com só discurso, já nas palavras constata-se que continuamos com um Governo e dois discursos.

Lisboa, 24 de Outubro de 2013

Martim Borges de Freitas

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