A partir da próxima semana, o Cine-Clube Domingos Maria
Peças, apresentará uma pequena série de quatro crónicas, dedicadas ao cinema
espanhol dos anos cinquenta. Todas da autoria de Rufino Casablanca. O Al-Tejo
agradece a Eveline Sambraz o envio desses escritos.
Chico Manuel
País de origem: Estados Unidos da América
Título
Original: “Of Mice and Men”
Título Português: Homens e Ratos
Ano de Produção: 1992
Realização: Gary Sinise
Argumento de Horton Foote baseado num romance de John Steinbeck
Intérpretes:
John Malckovich, Gary
Sinise, Ray Walston, Casey Siemaszko, Sherilyn Fenn....
Este romance de John Steinbeck foi adaptado ao cinema nada
menos que cinco vezes: 1939 – 1968 – 1975 – 1981 – 1992. Como se vê, várias
foram as versões cinematográficas desta obra literária.
O autor classificou a sua obra literária como conto. Mas
alguns críticos de literatura, já depois da morte de John Steinbeck (1969),
acharam que devido a densidade do tema deveria ser considerada como romance. A
verdade, porém, é que não há nenhum critério que nos diga quantas páginas deve
ter um romance, uma novela ou um simples conto. O exemplar que possuímos,
publicado pela Editora “Livros do Brasil”, com tradução de Erico Veríssimo, tem
99 páginas, o que nos parece manifestamente pouco para que possa ser
considerado um romance. De qualquer maneira, não estamos aqui para discutir os
diversos conceitos existentes para classificar aquilo que pelo mundo se escreve
todos ao dias.
Queremos é falar da adaptação desta obra de John Steinbeck,
levada ao cinema em 1992. Antes ainda, e como dica, chamamos a atenção para a
adaptação de 1937. É um filme também muito conseguido. O resto das versões não
valem nada.
O filme de 1992 conta a história de dois homens que durante
a grande depressão do princípio dos anos trinta, nos Estados Unidos, correm a
Califórnia em busca de trabalho. São dois homens muito diferentes,
completando-se entre si. Um é esperto, vivo e matreiro, e o outro, tendo uma
força física descomunal, sofre de uma deficiência mental. Nas diversas
estâncias em que vão trabalhando, sempre em trabalhos muito humildes e mal
pagos, acabam sempre por ter problemas porque a deficiência de um, acarreta
sempre dissabores aos dois. Têm como sonho comprar um pedaço de terreno e dedicar-se
à plantação de luzerna e à criação de coelhos. É claro que esse sonho nunca se
realizará.
O que John Steinbeck primeiro, com o seu livro, e Gary
Sinise depois, na realização do filme, nos pretendem mostrar, são as grandes
tragédias que essa depressão económica representou para os Estados Unidos da
América. É o grande movimento migratório que levou enormes massas de homens a
vaguear de estância em estância, de ranho em rancho, em busca de trabalho, e as
consequências dramáticas que esse deambular sem fim provocou. Tanto no livro,
como no filme, está bem patente o realismo literário que sempre o escritor
soube imprimir à sua obra.
Gostaríamos de destacar a extraordinária interpretação de
John Malckovich no papel do bom gigante, cheio de força, nunca se amedrontando
perante qualquer trabalho, perante qualquer esforço físico, mas sempre
constituindo um perigo latente para a segurança dele e do amigo, na medida em
que não tinha consciência das suas acções, nem da força física que nelas
empregava. Foi seguramente esta interpretação que o lançou definitivamente na
senda do êxito.
Como curiosidade salientamos que o realizador, Gary Sinise,
também entra no filme como actor: é o amigo de John Malckovich, o amigo “vivo,
esperto e matreiro”, que o livra de todas as enrascadas em que o outro se mete,
mas que, afinal, cansado de todos os sarilhos em que se vê envolvido, e algumas
vezes quase linchado, acaba por o matar com um tiro na cabeça.
Esta obra de John Steibeck também foi transposta para o
teatro. Foi encenada em Lisboa, lá pela década de setenta, por Augusto Boal, um
grande homem do teatro brasileiro que por cá viveu uns tempos.
Rufino Casablanca
Monte do Meio – Maio de 1996
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