sexta-feira, 25 de outubro de 2013

CINE CLUBE DOMINGOS MARIA PEÇAS - FASE III

A partir da próxima semana, o Cine-Clube Domingos Maria Peças, apresentará uma pequena série de quatro crónicas, dedicadas ao cinema espanhol dos anos cinquenta. Todas da autoria de Rufino Casablanca. O Al-Tejo agradece a Eveline Sambraz o envio desses escritos.
Chico Manuel

                                                            “Ratos e Homens”


País de origem: Estados Unidos da América
Título Original: “Of Mice and Men”
Título Português: Homens e Ratos
Ano de Produção: 1992
Realização: Gary Sinise
Argumento de Horton Foote baseado num romance de John Steinbeck
Intérpretes: John Malckovich, Gary Sinise, Ray Walston, Casey Siemaszko, Sherilyn Fenn....

Este romance de John Steinbeck foi adaptado ao cinema nada menos que cinco vezes: 1939 – 1968 – 1975 – 1981 – 1992. Como se vê, várias foram as versões cinematográficas desta obra literária.
O autor classificou a sua obra literária como conto. Mas alguns críticos de literatura, já depois da morte de John Steinbeck (1969), acharam que devido a densidade do tema deveria ser considerada como romance. A verdade, porém, é que não há nenhum critério que nos diga quantas páginas deve ter um romance, uma novela ou um simples conto. O exemplar que possuímos, publicado pela Editora “Livros do Brasil”, com tradução de Erico Veríssimo, tem 99 páginas, o que nos parece manifestamente pouco para que possa ser considerado um romance. De qualquer maneira, não estamos aqui para discutir os diversos conceitos existentes para classificar aquilo que pelo mundo se escreve todos ao dias.
Queremos é falar da adaptação desta obra de John Steinbeck, levada ao cinema em 1992. Antes ainda, e como dica, chamamos a atenção para a adaptação de 1937. É um filme também muito conseguido. O resto das versões não valem nada.

O filme de 1992 conta a história de dois homens que durante a grande depressão do princípio dos anos trinta, nos Estados Unidos, correm a Califórnia em busca de trabalho. São dois homens muito diferentes, completando-se entre si. Um é esperto, vivo e matreiro, e o outro, tendo uma força física descomunal, sofre de uma deficiência mental. Nas diversas estâncias em que vão trabalhando, sempre em trabalhos muito humildes e mal pagos, acabam sempre por ter problemas porque a deficiência de um, acarreta sempre dissabores aos dois. Têm como sonho comprar um pedaço de terreno e dedicar-se à plantação de luzerna e à criação de coelhos. É claro que esse sonho nunca se realizará.

O que John Steinbeck primeiro, com o seu livro, e Gary Sinise depois, na realização do filme, nos pretendem mostrar, são as grandes tragédias que essa depressão económica representou para os Estados Unidos da América. É o grande movimento migratório que levou enormes massas de homens a vaguear de estância em estância, de ranho em rancho, em busca de trabalho, e as consequências dramáticas que esse deambular sem fim provocou. Tanto no livro, como no filme, está bem patente o realismo literário que sempre o escritor soube imprimir à sua obra.

Gostaríamos de destacar a extraordinária interpretação de John Malckovich no papel do bom gigante, cheio de força, nunca se amedrontando perante qualquer trabalho, perante qualquer esforço físico, mas sempre constituindo um perigo latente para a segurança dele e do amigo, na medida em que não tinha consciência das suas acções, nem da força física que nelas empregava. Foi seguramente esta interpretação que o lançou definitivamente na senda do êxito.
Como curiosidade salientamos que o realizador, Gary Sinise, também entra no filme como actor: é o amigo de John Malckovich, o amigo “vivo, esperto e matreiro”, que o livra de todas as enrascadas em que o outro se mete, mas que, afinal, cansado de todos os sarilhos em que se vê envolvido, e algumas vezes quase linchado, acaba por o matar com um tiro na cabeça.
Esta obra de John Steibeck também foi transposta para o teatro. Foi encenada em Lisboa, lá pela década de setenta, por Augusto Boal, um grande homem do teatro brasileiro que por cá viveu uns tempos.

Rufino Casablanca
Monte do Meio – Maio de 1996


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