quinta-feira, 19 de setembro de 2013

O PASSADO E O PRESENTE - Augusto Mesquita

O largo actualmente designado de Dr. Miguel Bombarda, homenagem do município, em Outubro de 1910, ao grande psiquiatra e republicano, morto por um doente mental, nas vésperas da implantação da República, chamou-se durante séculos e até aquela data, Terreiro do Corro. Assim aparece já denominado nos séculos XV e XVI. No século XVII, é quase sempre chamado, Corro dos Touros, perdendo nos séculos seguintes esta última designação.
            Sabe-se, que nele se realizaram, pelo menos do século XV até ao XVIII, as corridas de touros, promovidas pela Câmara Municipal. Segundo parece, os touros usados nas corridas eram guardados num touril, que ficava por baixo da casa das varandas, que a Câmara possuía no largo. Desta casa, assistiam as autoridades aos espectáculos tauromáquicos. O corro era cercado com tapumes de madeira e as ruas que lhe davam acesso, obstruídas com carroças. No final das touradas, um dos animais, era abatido no local e repartido pelos pobres.
            Calcetado depois da implantação da República, e decorado com oito palmeiras, três bancos, e com um urinol, construído em chapa de ferro zincado, colocado no canto inferior esquerdo.
            Este largo, era uma zona nobre da vila. Ali se situava o mercado abastecedor diário, completado pela Praça do Peixe, hoje Cândido dos Reis. Sobre o rectângulo, embelezado com calçada artística, montavam-se diariamente uma série de tabuleiros de madeira, apoiados em tripés, os quais eram destinados à venda de produtos hortícolas, daí a alcunha de “Praça da Hortaliça. A área de ocupação aumentava aos fins-de-semana quando as gentes do campo arrimavam as suas carroças, e de varais apoiados no chão, vendiam os produtos semeados nas suas hortas, e ainda, galináceos, ovos e coelhos.
            Aos sábados e domingos, este espaço era ainda utilizado pelos vendedores de pinhoadas, saborosíssimos losangos de mel, salpicados de pinhões, que estalavam na boca ao trincar-se. Ao pescoço, os gaiatos transportavam uma caixa segura por um cordel, com tampa de vidro, qual vitrina ambulante, no interior da qual os apetitosos doces repousavam.
            Na Páscoa, pequenos rebanhos de borregos, se vendiam um a um, para o sacrifício pascal.
            Nas duas praças e ruas envolventes, estavam instalados quase meia centena de estabelecimentos comerciais, assim como a praça de táxis.
            A tradição do mercado ao ar livre, tinha em Montemor-o-Novo, os dias contados, pois a 2 de Maio de 1945, foi inaugurado na Vila Notável um polivalente Mercado Agrícola. Através de aviso camarário, os vendedores ficaram impedidos de utilizarem estes tradicionais locais.
            Com a mudança dos mercados da hortaliça e do peixe, os montemorenses quase deixaram de frequentar esta área, e a sua ausência, originou o fecho do imenso comércio, ali existente. Ficaram as oito palmeiras…
            No segundo semestre de 2012, os montemorenses foram surpreendidos com a doença em algumas palmeiras da cidade, contaminadas pelo “escaravelho da palmeira”.
            A praga surgiu pela primeira vez no norte de África em 1993 na região do Egipto, e continuou a sua expansão para a Europa, através da Itália, França, Espanha e Portugal.
            No dia 28 de Setembro de 2012 o município através de informação à população dava conhecimento que levara a efeito através de empresa especializada, algumas intervenções nas palmeiras existentes no espaço público. Mesmo assim, a autarquia foi forçada a abater, primeiro, duas palmeiras, e pouco depois, as restantes seis, no bonito Largo das Palmeiras. Salvaram-se, as tamareiras existentes na Escola Conde de Ferreira, a colocada no Largo Alexandre Herculano e a do Rossio, que antes, residiu no Estádio 1.º de Maio.
            O bonito Largo das Palmeiras que muitos turistas através de fotos, transportaram para as suas cidades, e que serviu de cenário ao filme francês “Sixtine-la femme de l’ambassadeur”, e abrigou até ao ano transacto, a Mostra Internacional de Folclore, organizado pelos Fazendeiros de Montemor, transformou-se de repente, num largo assombrado.
            Mas felizmente, no passado dia 21 de Agosto, os montemorenses que passaram junto ao desconsolado largo, foram surpreendidos pela positiva, com o processo de colocação de oito novas palmeiras, através de uma empresa da especialidade, que lhe trouxeram de volta a alegria perdida. Estes trabalhos podem ser vistos através de um vídeo realizado pelo município, e disponível no site da autarquia.
            O dia 21 de Agosto de 2013, vai ficar gravado na memória dos montemorenses, como um dia muito especial para a cidade. Numa iniciativa célere e dispendiosa, o município realizou uma obra fantástica, no coração do Centro Histórico.
           
Setembro/13 Augusto Mesquita
           


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