Quinta,
13 Junho 2013 09:10
A situação económica, social e política em que o país está
mergulhado, com o governo diariamente a desafiar os limites da paciência dos
portugueses, leva a uma natural crispação dos discursos que dia a dia
produzimos nos espaço onde nos movemos.
Com facilidade aumentamos o número de decibéis produzidos
para nos fazermos ouvir, vamos ao vernáculo buscar vocabulário para
caracterizar as medidas que nos impõem ou a desfaçatez dos ministros que
anunciam a terra do leite e do mel para um qualquer futuro, se aceitarmos ser
agora vergastados pelo chicote da austeridade sem limites.
Tornaram-se tão banais os
insultos a membros do governo em digressão, que vão deixando de ser notícia as
recepções que os perseguem ao longo do país.
Bem sei que estamos de certo modo formatados para que a
demonstração da indignação tenha rosto fechado e insulto fácil na ponta da
língua e nem sempre há a “presença de espírito” para o uso do humor e da ironia
como forma de a demonstrar, mas lá que é eficaz não restam dúvidas.
Ontem, na Assembleia da República, o deputado do PCP Bruno
Dias fez uma intervenção onde mostrou os diversos instrumentos de estudo que
utilizou para se preparar para a reunião onde se encontrava e onde se incluía o
famoso “Borda d’água”, numa alusão às explicações utilizadas pelo Ministro das
Finanças para justificar os sucessivos erros de previsão sobre a economia do
país.
A performance foi de tal forma conseguida que Álvaro
Santos Pereira perdeu a compostura e deixou que aquele riso que, de tão genuíno
que é se torna impossível de conter, se transformasse em gargalhada.
As imagens da intervenção de Bruno Dias e do ministro da
economia a rir à gargalhada da crítica mordaz a um colega de governo,
espalharam-se de forma viral pelas redes sociais e todos os espaços televisivos
noticiosos deram àqueles breves segundos um inusitado destaque, tendo em conta
que se tratava de um deputado do PCP.
Foi um momento sério de intervenção política, com uma
mensagem clara para todos os destinatários e de uma rara eficácia
comunicacional.
Tivesse Bruno Dias agitado o “Borda d´água” e dito
qualquer coisa como “o ministro das finanças é menos fiável nas suas previsões
como o livrinho que tenho na mão”, e a sua intervenção seria apenas mais uma
produzida numa qualquer comissão, numa qualquer sala da Assembleia da República.
Bem sei que nem sempre temos margem para pensar na forma e
centramo-nos excessivamente no conteúdo esquecendo-nos que a eficácia do que
dizemos está na facilidade com que chega aos que queremos que nos oiçam.
Ontem, com a sua brilhante intervenção, Bruno Dias chegou
a todo o lado e obrigou o ministro da economia a uma demonstração pública de
reconhecimento que o seu colega Gaspar não acerta uma.
Até para a semana
Eduardo Luciano
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http://sicnoticias.sapo.pt/ economia/2013/06/12/ministro- da-economia-confrontado-com- borda-dgua
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