Terça,
11 Junho 2013 13:20
Para terminar esta série sobre comentários e comentadores
não gostaria de deixar de lado os que são muito especializados em assuntos e
matérias que lhes dizem muito respeito e que conhecem como mais ninguém.
Aprende-se muito com este tipo de comentários e comentadores e bem hajam por
isso.
Esmiuçam até à exaustão
detalhes do assunto. Conhecem-lhe o histórico e preveem-lhe o futuro,
distinguem matizes, reconhecem-lhe os seguidores, os simpatizantes e os
inimigos. Normalmente olham o mundo tendo por termo de comparação esse assunto.
Não estou, naturalmente, a falar de obsessões nem fanatismos, entenda-se. Mas
sim de conhecedores do assunto que o comentam com convicção. Sem que lho peçam
ou, pelo contrário, especialmente a pedido.
Também acontece a estes comentadores serem muito requisitados
por quem quer conhecer um pouco desse assunto. Mas, por vezes, como quem
pergunta só quer conhecer um pouco lá fica o comentador numa espécie de
pregação no deserto. E eu falo aqui de comentadores quando poderia falar de
peritos, especialistas ou investigadores, porque o que me importa é o que a
opinião de alguém sobre algo posse interessar e até influenciar os outros nas
suas decisões e modos de vida. É este o espaço em que o facto objetivo se cruza
com a subjetividade e a que normalmente tem acesso o cidadão comum, afastado do
facto e tendo como intermediário entre si e esse tal facto alguém que acaba por
dar, com maior ou menor exatidão, a sua própria perspetiva. Mesmo tendo em
conta eventuais outras perspetivas, é a sua que transmite. E é sobre essa que
quem pergunta irá agir ou decidir, com ou sem adaptações também mais pessoais.
Comentar é talvez dos exercícios mais difíceis e perigosos
para quem tem, ou pretende ter, ou pretendem que tenha, alguma relevância no
espaço público. Até porque nalguns casos a relevância que se possa ter nesse
espaço público passa pouco pela inscrição de uma opinião pessoal, para passar a
ser uma opção, pessoal ou de grupo, para outros. E, tantas vezes, essa opção é,
ou devia ser, tomada sem que esse conhecimento profundo se transforme num
condicionador que afunila a decisão e impede que opiniões diversas sobre o
mesmo assunto sejam escutadas.
Decisões participadas que condicionam opções são uma forma
de governação simpaticamente democrática e preferida por muitos. São afinal uma
resistência a esse grau de conhecimento por parte só de alguns, inteligentsia
da situação, para passar a ser a oportunidade de muitos, mais ou menos
conhecedores, virem comentar as opções propostas e orientar decisões. O
problema é estarem todas ou todos preparados para agir e reagir assim. É que
formar uma opinião e comentar e querer que essa opinião e esse comentário
passem a ter a responsabilidade de ser parte da solução é muito diferente de
dizer umas coisas sobre o assunto ao microfone, ou em frente a uma câmara, ou
de forma mais ou menos criativa na Internet.
Até para a semana.
Cláudia Sousa Pereira
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