segunda-feira, 3 de junho de 2013

CRONICA DE OPINIÃO TRANSMITIDA HOJE NA RÁDIO DIANA/FM


                                                                  (D)Eficiência

Segunda, 03 Junho 2013 11:36
Porque é uma temática que me diz muito, julgo ser importante recordar o porquê da existência de IPSS – instituições particulares de solidariedade social – para o apoio de crianças, jovens e adultos com deficiência. Estas instituições nasceram sempre por iniciativas de grupos de pais que, não tendo o apoio devido do Estado (seja ao nível da saúde, reabilitação, educação, formação, residência, atividades ocupacionais, …), decidiram organizar-se e criar instituições que pudessem dar a melhor resposta aos seus filhos. O Estado agradeceu, e como “bom samaritano”, aprontou-se a afirmar que iria sempre apoiar estas instituições através dos Ministérios da Segurança Social e/ou Educação. Mas como todos sabemos, o Estado nunca as apoiou a 100%.
A ideia do Estado Português ao longo destas últimas décadas é clara: não queremos que as pessoas com deficiência fiquem sem o apoio necessário, mas também não nos responsabilizamos diretamente por elas. Limitamo-nos a apoiar instituições particulares que deverão prestar esse apoio (um apoio que deveria ser estatal). O resultado perverso tem estado a acontecer nos últimos tempos, acentuado pela crise económica – as instituições passam por dificuldades financeiras graves, e quaisquer incumprimentos nos encargos com fornecedores, colaboradores e outros são da sua inteira responsabilidade. Aliás, qualquer incumprimento leva a que as instituições e seus gestores possam ser responsabilizados criminalmente, mesmo que não tenham qualquer culpa pelos incumprimentos financeiros.
Hoje em dia, as instituições que têm de procurar receitas próprias porque o Estado não as financia a 100%, não o têm conseguido fazer. Ou seja, não estão a conseguir prestar um serviço que deveria ser um serviço público. Afinal de contas, todos nós pagamos impostos para a existência de um Estado Social, ou não?!
A assinatura da Declaração Universal dos Direitos do Homem e da Declaração Universal dos Direitos da Pessoa com Deficiência vincula os diferentes países que decidiram aderir, mas ultimamente a proteção dos direitos da pessoa com deficiência, não passa de meras palavras para o Estado. Este delega a responsabilidade da proteção dos direitos destas pessoas nas instituições que as representam, quando deveria ser o Estado a representá-las.
Mais recentemente, o prolongamento da escolaridade obrigatória e a aceitação do lema “Escola para Todos” (presente na Declaração de Salamanca) que preconiza a inclusão escolar das crianças e jovens com deficiência, trouxe um novo desafio para a Escola Pública: ter os meios adequados nas nossas Escolas para acolher e incluir estas pessoas. Mais uma vez, a opção do nosso Estado passa pela desresponsabilização. Assim surge o CRI – Centro de Recursos para a Inclusão – que permite ao Ministério da Educação desresponsabilizar-se parcialmente e passar para as instituições a responsabilidade de fazer a reabilitação dos alunos com NEE nas escolas. Mais uma vez, as instituições foram colocadas entre a espada e a parede, e sem qualquer segurança no futuro, acederam a este projeto com medo de qual seria a linha política futura.
Debatemo-nos, ainda, com o problema do transporte das pessoas com deficiência para os serviços de reabilitação prestados pelas IPSS - um serviço que é claramente público! Mais uma vez querem cortar naquilo que é sua responsabilidade, que é seu dever, que é sua obrigação.
Ao mudarmos a nossa forma de atuar, acedendo de forma pacífica a este não apoio ao transporte dos clientes, estamos a alimentar esta máquina perversa e cínica. É altura das IPSS se unirem e tomarem uma posição de força, e exigirem com toda a determinação um apoio verdadeiro do Estado.
Como se não fosse suficiente, sabemos que as prestações sociais de apoio à pessoa com deficiência estão a sofrer cortes abusivos. É fácil brincar com a vida dos marginalizados e dos frágeis não é?! Talvez não seja tão fácil como pensam. Cada vez mais o trabalho desenvolvido junto das pessoas com deficiência passa pelo seu Empowerment, ou seja, pelo desenvolvimento de uma capacidade ativa de intervenção na vida social, cultural, económica e política. Talvez não se torne assim tão fácil como pensam…
Não aceito o enterro do Estado Social, não aceito a má gestão dos meus impostos, não aceito uma política de cortes cegos, não aceito a violação de direitos fundamentais das pessoas com deficiência. Para este baile não me convidem para dançar, que eu não danço!
Até para a semana.

Bruno Martins

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