segunda-feira, 27 de maio de 2013

UM ESTUDO ANTIGO SOBRE A VILA DO ALANDROAL – Por Luís Faria – 1981

(Continuação dos dias anteriores)
                                                      FORTIFICAÇÕES DA VILA
A porta que dá acesso à parte superior da torre da cadeia encontra-se a um nível intermédio entre o adarve e o piso das salas da torre.
É construída com blocos de pedra, um deles de arestas decoradas, que se ajustam mal à dimensão da porta, parecendo ter sido reaproveitadas.
No cimo da torre, rasa em 1943, construiu-se um muro ameado.

A planta desenhada por Duarte Darmas corresponde ao que hoje se vê na praça de armas, que o restauro desobstruiu, ficando à vista a cisterna e vestígios das paredes dos “aposentamentos térreos e mall atabyados”. Na muralha a que estes se encostavam, taparam-se os apoios das traves e do telhado que suportavam. O restauro destruiu e fechou o acesso através da muralha a um celeiro particular que ocupava o lugar dos “aponsetametos sobradados danificados”, já destruídos no tempo do Padre Bento Ferrão.

  

A comunicação com a vila murada estabelecia-se, segundo a planta referida, por uma porta semelhante à da torre da cadeia, hoje entaipada. Simetricamente disposta em relação à torre de menagem, foi aberta modernamente uma porta, que comunica com o antigo cemitério. Por ela se pode ver o nível do solo da praça de armas antes do restauro.

Primitiva porta de comunicação com a vila murada
 A torre de menagem tem uma única entrada ao nível do adarve, e os dois pisos interiores são iluminados por estreitas frestas. No inventário de 1364, o provedor da Ordem “achou huã torre ffechada cõ hu cadeado” e como o alcaide não tivesse a chave, mandou “tjrar h~ua Armela da dita porta per veer o que Esta na dita torre”. É possível que se trate da torre de menagem, que nesse caso servia de armazém, pois que a outra torre com porta única, a torre da cadeia, parece estar ligada à parte residencial (no século XVI Duarte Darmas representa-a com chaminés, embora no século XIV o arranjo interno possa ter sido diferente.) .
Na porta está a última lápide, nº 6 que diz:
QUANDO: QUISERES : FAZE
R: ALGUA:COUSA: CATA: OQUE
TE:EN: DEPOIS: UERA: EQUEN: DET
I: FIAR: NONO: ENGANES: LEALDADE
UENCE:TODALAS: COUSAS


 “De circunferência tem o castelo 247 braças e a esta proporção uma barbacã que lhe serve de fosso” escreveu o Prior Bento Ferrão. Essa barbacã é bem visível nos desenhos de Duarte DARMAS, e hoje desapareceu, pelo menos em parte.
No último quartel do século XVIII a Câmara promoveu o calcetamento e regularização de muitas ruas, o aterro do barbacã e na praça. Deu novo arranjo à zona da fonte e mandou construir novo edifício municipal, obra que acusa a influência do de Vila Viçosa. No contrato de arrematação das casas do concelho, estipula-se que ao arrematante pertence “toda a pedra arrancada na praça e ao redor do castelo (livro do lançamento das arrematações do Concelho para obras da Câmara, 17777), ou seja a pedra da barbacã.
É possível que os muros que limitam os terrenos das casas encostadas à muralha do lado sul sigam o traçado do barbacã, e que a leste, na R, João de Deus, o mesmo sucedas com as paredes traseiras das casas, já que os quintais estão uniformemente elevados em relação ao nível da rua. Na planta de Duarte Darmas, aí a “cave he cheia d´agua” . o que supõe desnível e posterior necessidade de o aterrar.
Uma investigação mais atenta no arquivo da Câmara talvez permita afirmações mais seguras, pois as referências que encontrei à barbacã são pouco explicitas, havendo casos em que a muralha designa indistintamente a barbacã e o muro do castelo.
O espaço encerrado na muralha está hoje desabitado, e a única rua que o atravessa, a rua do Castelo, serve de ligação entre as duas metades da vila.


A porta virada a norte é franqueada por duas torres quadradas, e a que dá acesso ao arrabalde tem uma única torre, também quadrada. Em ambas se vêem siglas de canteiro

O trajecto da muralha é irregular, com ângulos salientes e reentrantes, provavelmente por ter de se adaptar à topografia do terreno e a construções pré-existentes. A disposição e o número das torres não asseguram um flanqueio eficaz, e não detectei dispositivos de tiro na vertical. A maioria das ameias foi reconstruída em 1943-46 segundo o modelo das que se mantinham intactas, e entre as ameias e o adarve há seteiras estreitas e pequenas.
Não existe neste castelo uma superfície curva, quer nas torres quer na muralha, embora na Europa do século XIII fosse generalizado o recurso a torres de planta curva.
O sistema de porta defendida por duas torres semicirculares de que fala  De Bouard, aparece por exemplo nos castelos de Vila Viçosa e Terena, vilas que pertenciam à coroa.




Terminado o estudo sobre as primitivas origens do Alandroal e sobre as suas fortificações, o Dr. Luís Faria vai de seguida apresentar outro estudo .também elaborado no ano de 1981 sobre "UM INVENTÁRIO MEDIEVAL DA PROPRIEDADE RUSTICA".
Iniciamos amanhã a sua publicação.


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