Os
arrependidos
Quinta,
30 Maio 2013 08:24
Parece que o tempo que vivemos é muito dado a
arrependimentos. Todos os dias me cruzo com gente que se mostra arrependida de
qualquer coisa, desde o casamento que realizou até à última opção de voto.
Não sou dos que acham que mudar de opinião seja
necessariamente mau, nem dos que entendem que não mudar de opinião seja
sinónimo de obstinação que normalmente está associada ao gado asinino. A
generalização é sempre redutora porque tende a esbater as diferenças mais
subtis que, por vezes, são as essenciais.
Nos últimos dias duas figuras
públicas vieram afirmar em público o seu arrependimento por actos e palavras
proferidas, causando grande estrondo nos sítios por onde a informação circula.
Centremo-nos primeiro no caso que deu origem a mais
comentários jocosos e anedotas de gosto variável.
Um comentador profissional a quem foi atribuído pela
comunicação social dominante o papel de enfant terrible do comentário
televisivo, terá chamado palhaço ao presidente da república.
Entendendo que se tratava de uma ofensa ao mais alto
magistrado da nação, a presidência da república comunicou o facto ao ministério
público para eventual procedimento criminal.
Rapidamente o enfant terrible veio a público dizer
que se tinha excedido e mostrar arrependimento pela expressão utilizada. Não
deixa de ser curioso que o dito senhor que insulta semanalmente funcionários
públicos, dirigentes sindicais, autarcas e quem mais lhe aprouver nunca lhe
tenha passado pela cabeça fazer um acto de contrição pela baba populista e
demagógica que lhe costuma escorrer pelo discurso.
No segundo caso temos misto de arrependimento com
inusitada ingenuidade, quando um venerando actor decide arrasar o governo que
ajudou a eleger com o empréstimo da imagem e do seu prestígio profissional.
Nesse mesmo texto publicado numa rede social, coloca no
mesmo saco o outro actor político que contou com seu apoio para chegar à
cadeira do poder.
Duplo arrependimento, portanto.
Pergunta-se o venerando actor “francamente, não sei para
que servem as comendas, as medalhas e as Ordens, que de vez em quando me
penduram ao peito”.
Não acredito que não saiba que as medalhas e Ordens que
lhe penduram no peito são uma forma de elevar quem o condecora, muito mais que
o reconhecer do seu mérito como grande actor que é.
É por isso que quando alguém recusa a “sinecura” o poder
fica muito zangado e acha-se desconsiderado dizendo para os seus botões “mas
quem é que este pensa que é para recusar o meu reconhecimento?”
Não acompanho os que dizem que o venerando actor não tem
legitimidade para escrever o que escreveu depois de dar a cara, a voz e o seu
inegável prestígio pelas figuras que agora justificadamente arrasa. Mudar de
opinião é um direito básico que nos assiste.
O que já não posso aceitar como razoável é que tenha
escrito “é lamentável e vergonhoso que não haja um único político com
honestidade suficiente para se demarcar desta estúpida cumplicidade entre a
incompetência e a maldade de quem foi eleito com toda a boa vontade, para
conscientemente delapidar a esperança e o arbítrio de quem, afinal de contas,
já nem nas anedotas é o verdadeiro dono de Portugal: nós todos!”
Meu caro Ruy de Carvalho, eu conheço muitos políticos que
se demarcam da tal estúpida cumplicidade de que fala. Sempre se demarcaram. Por
isso se candidataram em nome de uma outra política que não delapidasse a
esperança, para usar as suas palavras. Percebo que não lhes reconheça a
existência, é gente que não tem medalhas nem comendas para atribuir. Dizia até
uma velha anedota do tempo da guerra fria que eram muito organizados mas não
davam nada a ninguém.
Até para a semana
Eduardo Luciano
1 comentário:
Eduardo mesmo no alvo!
Um abraço.
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