Novo Cinema Português
“Belarmino”
Este é um filme de não ficção
É um filme integrado no conceito francês de “Cinéma Verité”
Este é um filme/entrevista
Uma entrevista conduzida em voz off pelo jornalista
Baptista-Bastos
Nunca tal coisa se tinha feito no cinema português
É um filme inteiro
Realizado pelo Fernando Lopes
E produzido pelo António da Cunha Telles
Sem qualquer subsídio de qualquer entidade
Nem o Fundo de Cinema nem a Fundação Gulbenkian lá meteram
um centavo
O risco financeiro foi todo do já citado António da Cunha
Telles
E o risco artístico foi do Fernando Lopes
O intérprete é o Belarmino Fragoso e a sua época
Conta as tragédias de um “boxeur” português
Às tantas já não se sabe se o Belarmino é o “boxeur” ou o
saco de levar pancada
No ringue e na vida
São tantos dramas numa só vida que até se lhe perde a conta
Dramas na vida dele e nas dos que o rodeiam
Sobretudo nas dos familiares
Nas interpretações/depoimentos também está a Lisboa dos anos
sessenta
Inteira.... tal como o filme
E a preto e branco – exactamente como os tempos pediam
“Belarmino”
Belarmino Fragoso
Um pugilista português
Que começa e acaba como engraxador
Com muita porrada nos intervalos
E sem nenhuma poesia
Embora também ganhe a vida a colorir fotografias
E a morrer novo e pobre
Como era inevitável.
Fernando Lopes deu ao filme um toque de mistura entre o
neo-realismo e a “nouvelle vague”, quando estes movimentos artísticos, no que
ao cinema diz respeito, já se estavam a esgotar na Europa.
Extraordinária é a música que se ouve durante todo o filme e
que é da autoria e responsabilidade do quarteto do Hot Club Português.
A fotografia deste filme, aliás belíssima, é de Augusto
Cabrita e ganhou o prémio de melhor fotografia do SNI- Secretariado Nacional de
Informação. Foi obra! A ginástica que aquela fascistada deve ter feito para
reconhecer algum mérito ao filme.
Também ganhou prémios nos festivais de Pesaro , Itália em
1964; e Salso-Porretta, Itália em 1964. Ainda ganhou o prémio da Casa da
Imprensa, na modalidade de cinema, em 1964. E, na generalidade, as críticas
internacionais foram muito favoráveis ao filme.
Em Portugal nenhum dos primeiros filmes do então chamado
“Novo Cinema Português” teve sucesso e foram, economicamente, um desastre.
Embora fossem realizados com parcos meios e, por conseguinte, muito baratos, em
todos o produtor perdeu dinheiro.
Foi estreado a 18 de Novembro de 1964 no cinema Avis
E visto a esta distância de tempo – como diz o Jorge Leitão
Ramos – ainda é um murro no estômago.
Rufino Casablanca
Terena – Monte do Meio – Dezembro de 1990
Sem comentários:
Enviar um comentário