quarta-feira, 6 de março de 2013

CRONICA DE OPINIÃO DIARIAMENTE TRANSMITIDA PELA RÁDIO DIANA/FM

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                                                   Mais economia e menos Estado

Quarta, 06 Março 2013 11:01
Portugal conheceu ontem a disponibilidade dos ministros das Finanças da União Europeia para analisar a extensão das maturidades dos empréstimos dados por Bruxelas ao nosso País, tendo os membros do ECOFIN mandatado a troika para lhes apresentar uma proposta que dê mais tempo a Lisboa para pagar a sua dívida, suavizar o regresso aos mercados e o final do programa da troika.
Esta decisão surge quando, em Lisboa, a troika efectua a sétima avaliação regular do programa de ajustamento, numa semana em que se conheceram os valores do aumento desemprego e do incumprimento das famílias ao sistema bancário.
Quem olha para o País real dificilmente compreende a vozearia que as televisões fizeram em torno deste sinalizar do aumento do prazo para pagamento da divida. É que, muito mais importante do tempo em que vamos pagar é importante perceber como vamos pagar. E este é o grande problema para o qual não se encontraram ainda respostas.
Não conheço outra forma de criar riqueza que não seja através do trabalho. Quando o desemprego aumenta, a produção cai e a economia entra em recessão, de pouco servirá o Governo agravar a carga fiscal. Por mais engenharias de números que se façam, a tributação de nada é zero, independentemente da percentagem de imposto que se aplique.
Para sair do atoleiro em que nos meterem torna-se imprescindível relançar a agricultura e as pescas, dinamizar as pequenas e médias empresas na indústria e no comércio, assegurando que a banca, ao invés de confortavelmente comprar divida publica, canaliza as poupanças depositadas para a alavancagem da economia.
E que temos feito nestes dois anos para alcançar tal desígnio? Nada, ou melhor, complicado o que já era complexo. Falemos do mundo rural, porque estamos no Alentejo. Investir na agricultura é para kamikazes. Construir um simples palheiro precisa de autorização da Reserva Ecológica, da Reserva Agrícola, da Agência do Ambiente, do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas e da Câmara Municipal, multiplicadas por cinco autorizações do porteiro para falar com o inacessível técnico de cada uma das entidades a quem se entrega o requerimento de autorização. Ou seja, os mais de duzentos novos agricultores que todos os meses iniciaram a actividade em 2012, se soubessem o que os esperava teriam ficado em casa a receber o rendimento social de inserção, cuja obtenção é bem mais simples!
Suspender até ao final da intervenção da troika em Portugal este calvário de autorizações dinamizaria muito mais a economia do que qualquer prolongamento dos prazos de pagamento do empréstimo externo.
Ficaríamos sem saber o que fazer aos milhares de funcionários da Administração que recebem o requerimento, dão parecer, homologam o parecer, despacham a decisão, minutam a resposta, envelopam a carta, colam o selo e levam ao correio. Para já não falar no simpático segurança que nos barra o acesso a cada um destes zelosos funcionários, como se entrar num serviço público fosse uma benesse divina!
Verdade é que, se essa suspensão se fizesse, cedo concluiríamos que a economia funciona muito melhor sem Estado do que com ele e chegaríamos rapidamente á conclusão que o problema nacional não é a baixa produtividade mas antes aquilo que a máquina da Administração Pública consome para nos prestar um serviço que, para além de não querermos, até dispensamos.
Portugal precisa de mais economia e menos Estado, mas essa verdade, porque é dolorosa e nos obrigaria a reformar tudo o que construímos nos últimos trinta anos, todos os Governos se recusam a enfrentar. E, pelo que ontem se soube, ainda não será este ano.
Até para a semana, se Deus quiser!
Florival Pinto

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