Cláudia Sousa Pereira - Opinar
Terça, 19
Fevereiro 2013 10:26
Desde há quase
40 anos que os portugueses têm podido opinar livremente em diversos fóruns. Até
com o aparecimento das redes sociais esse direito, e o seu exercício efetivo,
têm permitido que cada vez mais pessoas opinem num espaço mais ou menos público
para além dos espaços mais formais como são os órgãos de comunicação social. É
certo que há opiniões e opiniões, algumas mais relacionadas com a vida de cada
um, ou uma, e sobre questões mais existenciais, aquelas que dificilmente serão
resolvidas por alguém de características heroicas ou providenciais. Mas também
são estas questões que, quando ultrapassadas por quem as sofre, faz de cada um,
ou uma, um herói do quotidiano.
Depois há opiniões que são fruto de primeiros impulsos, são
quase reações primárias que, normalmente, pecam por falta de reflexão e podem
ser contrapostas com igual verve e de forma igualmente impulsiva por quem
esteja em situação diametralmente oposta. Estas são mais arriscadas para
ocuparem o espaço público, mas habitualmente são usadas pela comunicação formal
dos media como grandes parangonas, as chamadas, “gordas”, já que também da
função apelativa da linguagem vive este setor da comunicação. Os artigos de
opinião são sempre um risco para quem os produz e, talvez também por isso, é
que muitas vezes há opiniões que se escondem por trás de pseudónimos ou do
anonimato, formas mais ou menos “contorcionistas” de evitar esse risco. O
sistema permite-o e torna-se quase banal conviver com ele.
Por outro lado,
a opinião quando não é sobre as tais questões existenciais e, por isso, apenas
resolúvel pelo próprio indivíduo, reporta-se quase sempre a ações de outrem,
normalmente de quem tem poder para agir e essa ação ter algum impacto no espaço
público e na vida de um determinado coletivo.
Ora se em
épocas mais recuadas, de há alguns séculos atrás, a discussão sobre qual a
maior eficácia entre a espada que trespassa ou a pena que fere com as palavras
que se jorram no papel nos destinos quer individuais quer coletivos, essa
discussão, na evolução civilizacional da humanidade, atingiu um estado tal que
nunca se discutirá que a diplomacia poderá ser precedida da solução armada. E
isso veio dar à escrita, ou melhor à prática verbal, um lugar central em
ajustes de contas, medidas de angariação de opiniões idênticas e, muitas vezes,
formas de acabar com ações que são desmascaradas por esses alertas verbalizados
mas que, consequentemente, são verificados ou verificáveis em outras ações ou
opções diferentes. Estas são as opiniões fortes, consistentes, informadas,
frontais mas profundas, que são assumidas claramente por quem as emite e por
elas dá a cara. Normalmente, estas opiniões fazem escola, uma expressão que nos
mostra muito claramente como a educação pelo exemplo, o exemplo da coincidência
do discurso sólido com a prática de quem o profere, é importante. Aceitar ou
contrapor este tipo de opinião é, julgo eu, apenas possível, ou pelo menos
apenas vale a pena ter em conta, quando quem opina está em condições à partida
de alguma semelhança: conhecer o facto sobre o qual se opina, optar por um lado
para se posicionar ou avançar outro alternativo ou ainda, eventualmente,
assumir a incapacidade de se encontrar num beco sem saída. Mas acima de tudo,
opinar significa e tem como primeiríssima condição assumir-se enquanto autor
dessa opinião ou, também aceito, opinião de um coletivo do qual se quer fazer
parte sem destaque individual ou com esse destaque muito claro. Longa vida à
opinião e a quem a exerce!
Até para a
semana.
Cláudia Sousa Pereira
1 comentário:
Ai Claudia, Claudia!!! porque é que tu não ouviste?
E lembras-te, quando te questionava por atitudes que me respondias, sim/não/talvez? Da forma a que vos atribuem o NIM!!!
Estás A VER a que tudo isto chegou?
Cuida-te. A bomba presta-se a explodir.
37 anos de...ora agora mando eu... ora agora mandas tu EM ALGUMA COISA (grave)DARIA E VAI DAR...
è a vida (in. Guterres)
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