AGUADEIROS
Nestas “Memórias” é minha intenção não só homenagear figuras
que fizeram a história do Alandroal, mas também recordar profissões (ou meios
de sobrevivência), a que a vida de outrora obrigava.
Teremos que recuar muitas décadas. Anos 40, talvez.
Saneamento básico era um privilégio das grandes Cidades.
Como tal, e pese embora pelas bicas da nossa Fonte a água
jorrasse em abundância, o que dava para alimentar todas as hortas que primavam
pela beleza e fartura ( Ferragial, Dr. Matias, Manuel Biga, Chico Garcias,
Horta do Bexiga, Horta do Nicolau, Horta do Fontes, das Ìsaias), ainda sobrava
para os Lavadouros e para encher os cântaros.
Mas (já nessa altura) nem todos se sujeitavam a carregar a
água para casa.
E aí nasceram os AGUADEIROS, motivo principal da nossa
escrita de hoje.
Não posso precisar bem qual o introdutor da profissão no
Alandroal, mas de dois nomes me recordo: O MARCOLINO, e o TEÓFILO (este último
meu avô materno, Guarda Fiscal, que além de iniciar os seus filhos nesta
azáfama, também se dedicava à feitura de pincéis para caianças [daí a alcunha de
“Pinceleiros” do qual muito me orgulho]), e que mais dia, menos dia será
objecto de mais uma lembrança.
Uma outra “figura” se dedicou ao mesmo ofício: o ZÉ TRINTA,
pessoa que muitas memórias deixou no Alandroal, pai de uma outra personagem que
ficou nos anais da história da nossa terra, grande amigo, desaparecido
prematuramente: o Sousa.
Talvez também um outro nome me esteja a faltar, pois
recordo-me de um dia involuntariamente ter partido os cântaros ao MURTEIRA o
que na altura foi considerado propositado, e deu azo a negociações difíceis e
castigo severo para mim, pelo que talvez no início da sua vida também tivesse
enveredado por este negócio.
Desse tempo recordo o típico carro do Marcolino
, puxado por
uma mula, constituído por uma placa forrada a cortiça, com uma dúzia de
buracos, ajustados para o transporte dos cântaros.
Do meu avô Teófilo, recordo perfeitamente o carro de mão e a
burra,
com lugar para 4 cântaros e as peripécias contadas pelo meu Tio Zé Luís,
sobre a distribuição domiciliária do precioso líquido.
Resta-me acrescentar que cada cântaro de água da Fonte
custava dois tostões, já o da Fonte das Bispas era vendido a cinco tostões. Mas
também havia quem preferisse a água da Fonte da Neca.
Chico Manel
11 comentários:
A "mula" do Marcolino está disfarçada de burra...
Bom trabalho Chico.
Parabéns.
Que venham mais referências a figuras IMPORTANTES (que o foram de facto)da nossa sociedade, anónimamente desaparecidas.
Que venham para memória cultural presente e futura..."enquanto o tempo se não apague".
Tói da Dadinha
Parabens, ao F Manuel por esta "Memória" e pelas fotografias que aparentam bem conservadas.
Estes testemunhos dão a conhecer aos mais novos como era a vida outrora e a recordar as nossas raízes.
Helder
Não ha um Sousa em Bencatel que pertence ao Zé Trinta?
Em Bencatel vive o Miguel Filipe, filho do Zé Trinta, sim senhor comentarista das 21:21, de ontem.
Desde há alguns meses, o Miguel Filipe vem lutando contra doença cancerígena.
Encontra-se muito debilitado.
A quem por qualquer meio o puder fazer, que se lhe conceda o melhor apoio.
Abraços
Tói da Dadinha
IRmão do referido será o Miguel Filipe não?
Esqueceste-te do Joaquim Pina que morava em S. Pedro
Nunca ouvi falar... talvez não seja do meu tempo.
De qualquer maneira aqui fica o registo e obrigado
Chico
Ó compadre!!! Irmão do referido (Miguel Filipe) será o Miguel Filipe. Não pode...
São irmãos do Miguel Filipe o António e a Odete e, era, o João José, o nosso Souza (já falecido).
A mãe, Mariana Palma (GRANDE SENHORA),vive no Lar da Misericórdia do Alandroal.
Abraços
Tói da Dadinha
Amigo Tói o Miguel Filipe conheci eu bem. Morava na Travessa da Bica da Horta e gostava muito de lhe "enfeixar" uns copos ultimamente no Café do Grilo.
Quem eu não conheci, nem nunca tinha ouvido falar era do Joaquim Pina.
Um abraço
Chico
Caro Chico
Tem razão o autor do comentário das 15,04, de ontem.
O Sr. Pina vivia de facto em S. Pedro.
Era Cantoneiro da JAE e mais tarde, após a Reforma, dedicou-se também á venda de água das Bispas.
Presumo até que enquanto Cantoneiro eram da sua responsabilidade a "limpeza e caiação" daquele espaço e da respectiva "desmatação".
Abraços
Tói da Dadinha
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