O Parente adoece
O
nosso protagonista começa a sentir-se doente. Sente que respira mal e deixa de
trabalhar pensando ser do pó, aquela dificuldade.
Descreve
pela última vez, na quinquagésima segunda página da sebenta a sua última ida à
festa.
- Vesti o fato e parti para a Vila.
Coloquei-me, como sempre nos anos anteriores, à frente da banda, que já não
acompanhei. Fiquei para trás e quando ia frente à fonte as forças faltaram-me.
Tentei beber água. Mas não consegui subir os degraus. Sentei-me e ali fiquei.
A banda continuava tocando. De repente
ouvi uma voz - Parente, o que tens?
- tentei responder mas não consegui. Era a Maria do Rossio que passava e ia
para a missa. Levou-me a casa e deitou-me. A banda tocava o hino de nossa
senhora. Olhei para a santa mas não a vi. Senti que a Maria saiu apressada.
Adormeci.
Passado algum tempo, acordando, ouço o
doutor Galhardas dizer à Maria.
- O
Parente não pode ficar aqui, sozinho.
- Dão-me um remédio e saem.
Ouvi a Maria soluçar a tornei a
adormecer. Acordei com a estrondosa e demasiada salva de foguetes a exaltar a
entrada de nossa Senhora para a Igreja Matriz.
Era domingo de Prazeres.
Nessa noite não dormi. Foram horas de
reflexão. O doutor a quem eu tinha ofendido viera a minha casa. A Maria do
Rossio que antes me rejeitara auxiliava-me agora.
E eu deitado, sem ânimo e sem força.
Que será feito de mim? sem ninguém, sem
família?
Acabara de adormecer quando entra a
Maria.
- Parente vais sair daqui. Arranjei-te uma
casa, um galinheiro, é alto e tem telhado com forro de madeira, porta com
postigo, e um agulheiro que serve para arejar e entrar a luz, agora está
tapado.
Está
tudo limpinho e caiado.
As
filhas das duas últimas Marias, sob a orientação da primeira Maria, renunciando
ir ao baile de domingo, arranjaram e assearam o galinheiro.
Quando
o Parente está a entrar para a sua nova casa, está a sair a procissão levando
nossa Senhora para o Santuário.
Era
segunda-feira de Prazeres.
O
Parente ouve o hino, com lágrimas nos olhos.
Sentiu
uma estranha sensação invadir-lhe o cérebro que lhe pareceu ser o prenúncio de
ouvir pela última vez o hino de Nossa Senhora, a Santa da sua
única
devoção, que agora no estado débil e de carência parecia abandoná-lo.
Um
morteiro ecoou na sua casa, como se um tiro de trotil despoleta-se nas
profundezas duma das pedreiras de Borba.
O
Parente vergou de alto abaixo, sentiu o coração despedaçar-se e levou a mão ao
peito.
Teria
caído não fora a Maria do Rossio agarrá-lo, abraçando-o.
Sentiu
o calor humano acrescido de carinho da Maria, que poderia ter sido sua e que
não fora por causa daqueles, cujo o egoísmo lhe inverte o destino, provocando a
desgraça nos outros.
Sentiu
uma fé diferente do que até então sentira, que se traduzia numa aproximação
humana, carinhosa solidária.
O
brilho dos olhos do Parente encontrou no olhar Maria estima e compreensão.
“ Esta é a transcrição de um capítulo da
SEBENTA – uma história que o Hélder Salgado escreveu e que há pouco tempo aqui
colocamos no Al Tejo.
Agora que a mesma já se encontra em
arquivo, e porque talvez não tenha merecido a devida atenção, talvez devido à
sua extensão, e porque pensamos que ainda há muitos que se interessam em
recordar personagens e factos que foram um marco importante de tempos
passados, resolvemos colocá-la na integra ao alto do Al Tejo conjuntamente com
a CIDADE DO ENDOVELICO e HISTÓRIAS ALENTEJANAS assim como no Al Sul onde poderá lê-la na integra
clikando :
1 comentário:
Ótimo! hey eu troρecei paгa еѕta escritos!
еnquanto pгocura o locаl рara tгansferêncіaѕ aleatórіas.
οbrigaԁо compartіlhando Vou enviar e-mail ρara meus amigos sоbre isso também.
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