Educação e investimento
«O passado já não ilumina o
futuro, o espírito caminha nas trevas».
Alexis de Tocqueville
Não há dúvida
de que a Educação é um acto político, na medida em que ela - uma
vez promovida junto de uma determinada sociedade -
despoleta em cada ser humano a oportunidade da criação de um cidadão
consciente, responsável e interventivo
numa comunidade democrática, como favorece o emergir de uma produção económica
mais florescente mediante um crescimento de produtividade (possibilitando, em
estruturas democráticas, uma maior e legítima distribuição de riqueza -
gerando mais Felicidade, Paz, Liberdade, Igualdade e Fraternidade).
Raúl Gomes (in “Educação e Humanismo”) adverte-nos
que “os caminhos que levam ao humanismo
concreto passam pela educação... mas por um novo tipo de educação baseado na
associação íntima entre a mão e o cérebro, entre a prática e a teoria
científica, e mediante a qual todos os homens possam receber a formação
necessária à plena realização das suas capacidades e aspirações, dentro,
evidentemente, dos limites impostos por uma estrutura económica baseada na
justiça social”. No mesmo sentido, podemos ler no Prefácio (escrito pelo
Prof. Vitorino Magalhães Godinho) ao livrinho “Educação Cívica” (de António
Sérgio): “Neste mundo desnorteado e
desenraizado, temos de repensar toda a herança da experiência dos homens e todo
o cabedal que na nossa pátria se acumulou e temos malbaratado, se visamos, se
queremos visar, como cidadãos de toda a Terra, como portugueses, como europeus
também, e como gentes de pés bem firmes no terrunho, tentar definir novas metas
e caminhos para continuar a aventura humana de modo a que cada homem -
assim o disse Kant - seja um fim em si próprio, e nenhum homem
seja instrumento ao serviço de outrem”
- afinal, os parâmetros que
presidiriam ao livro (“Educação Cívica”) de António Sérgio - que
aludiria a pertinência da formação do aluno (futuro cidadão) na Fraternidade,
Benevolência, Amor, Solidariedade, Civismo, Patriotismo, no Conhecimento, na Responsabilidade,
no exercício do Intelecto - enfim, na formação de uma mente ginasticada,
uma inteligência treinada, um espírito consciente, uma Pessoa assumida (fruto
da “necessidade absoluta de que o aluno
se habitue a cooperar pelo bem de uma comunidade, e que a Escola reproduza o
mais possível a estrutura da vida social adulta”).
Referindo-se,
mais concretamente à realidade portuguesa, a antologia “Desigualdades em
Portugal” (colectânea de artigos publicados no “Le Monde Diplomatique” -
edição portuguesa) diz-nos: “De
referir ainda que os muitos baixos níveis de escolaridade da sociedade
portuguesa tornam difícil uma cidadania activa e consistente, estando cada vez
mais associada a uma sociedade da informação e do conhecimento indutora de
maiores exigências cognitivas, culturais e reflexivas. E, naturalmente, as
desigualdades no acesso à informação refletem-se nas desigualdades políticas”;
realçando mais adiante que “a nossa
economia continua a pautar-se por um modelo assente no desproporcionado peso
das pequenas e médias empresas que recorrem generalizadamente à contratação de
mão-de-obra barata e pouco qualificada. Parte importante destas empresas
demonstra uma grande incapacidade de inovar e de investir” -
salientando mesmo que “o défice
maior a recensear é então, o da capacidade empresarial, da sabedoria na gestão
e da imaginação organizacional e competitiva
- porventura o da própria justiça
social presente na relação salarial”. O mesmo livrinho, apelando a uma
política educativa enquanto investimento social (fazendo sentir a relação
íntima entre produtividade e deficiente escolarização) anota que “desde 2004, ao contrário do que, em regra,
acontecia em anos anteriores, a taxa de desemprego dos jovens pouco
escolarizados (primeiro e segundo ciclos do ensino básico) é superior à média
dos jovens europeus. O que nos dá uma medida do significado dos dados
perturbadores que mais marcam a condição escolar da população: entre os 20 e 24
anos, os que têm o ensino secundário completo são dois terços da média da União
Europeia ... e o abandono escolar precoce é mais do dobro do da União Europeia”.
Efectivamente,
como nos diz Ladislau Dowbor: que o avanço do sistema educacional dos países
desenvolvidos não resulta meramente da construção de belas cidades universitárias
e da tranquilidade das bibliotecas de pós-graduação, mas que estas é que
resultam de um lento amadurecimento social e económico, e de profundas
transformações estruturais na própria base das formações sociais, é de atender
então (numa atenção político-social) aos recursos económicos dos alunos, às
condições sociais e culturais das famílias, à ecologia local da escola e da
residência dos alunos, ao contexto cultural, social e escolar dos vizinhos, à
dinâmica local do mercado laboral, aos recursos arquitectónicos e tecnológicos
da escola, às práticas pedagógicas operadas na Escola. A este propósito,
lembramos, a título de registo, a seguinte ressalva do Prof. Vitorino Magalhães
Godinho (em entrevista ao “Jornal de Letras”), em relação aos professores que
lhe couberam no seu percurso como aluno: “Na
escola, apesar da ditadura, tive alguns professores execráveis, mas tive outros
muito bons, que ainda transmitiam alguns dos valores desse ambiente
republicano. As próprias leituras que nos recomendavam estavam imbuídas ainda
dessa mentalidade e desse conceito de cidadania”.
Atendendo que
a Cultura é irmã gémea da Educação, na formação integral do ser humano, na
construção da Pessoa, fixemo-nos na afirmação de Bento de Jesus Caraça sobre a
incontornável necessidade de formação cultural do Homem enquanto alicerce da
sua dignidade como participante da sociedade humana; diz-nos ele (in “As Universidades Populares e a
Cultura”): “Deve portanto promover-se a
Cultura de todos e isso é possível porque ela não é inacessível à massa; o ser
humano é indefinidamente aperfeiçoável e a cultura é exactamente a condição
indispensável desse aperfeiçoamento progressivo e constante ... Eduquemos e cultivemos a consciência humana, acordemo-la
quando estiver adormecida, demos a cada um a consciência completa de todos os
seus direitos e de todos os seus deveres, da sua dignidade, da sua liberdade”.
Iluminemos,
então, (na catalisação da Democracia)
- enquanto membros da Comunidade
Humana -
o caminho da Verdade, da Justiça, da Ética, da Estética, do Amor, da
Solidariedade, do Conhecimento, da Democracia
- de modo a que se dissipem as
trevas que turvam a inteligência dos espíritos (como alerta Tocqueville), e de
forma a que - não havendo mais no mundo Homens que nunca
foram crianças (como lembrava Soeiro Pereira Gomes) -
todos os seres humanos (através da Educação, da Cultura, da Igualdade de
Oportunidades, da Fraternidade, em Liberdade) se tornem Pessoas em assunção. Para
isso, como apela Paulo VI na Encíclica Populorum Progressio, é obrigação de
todos os Homens de Estado empenharem-se no cumprimento dos seus deveres de
governantes: investindo na Condição da Pessoa Humana.
José Alexandre
Laboreiro
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