segunda-feira, 16 de abril de 2012

VASCULHAR O PASSADO - RUBRICA MENSAL DE AUGUSTO MESQUITA

Nota do Editor:

Há coincidências.
Em recente visita ao Alandroal levava na ideia dar uma volta pelas ruas, relembrar como eram conhecidas antigamente as nossas ruas,  e fazer a comparação com os nomes actuais, para posteriormente aqui lançar um desafio indagando o porquê dos nomes antigos (por exemplo Outeiro das Nozes, Rua da Mata, Praça Príncipe da Beira, Rua das Varandinhas etc.)
Não tive tempo para dar a “voltinha” e fotografar os actuais nomes. No entanto em conversa com os amigos habituais, tive oportunidade de lhes expor a ideia e pedir ajuda para a concretizar. Ficaram de dar o auxílio pedido.
No entretanto tive a oportunidade de tomar conhecimento que um Alandroalense, colaborador do Al Tejo, prepara um trabalho a sério sobre esta temática. Que vá em frente e que depressa esse contributo para a história do Alandroal venha a ver a luz do dia.
Sempre o afirmei que este “vasculhar o passado” do nosso amigo e colaborador Augusto Mesquita tinha analogia com o Alandroal, o que mais uma vez se pode confirmar.
Agora que novas artérias se abrem no Alandroal com a feitura de novos bairros cabe à comissão toponímica escolher os nomes porque hão-de ser conhecidas, e se me é permitido deixo aqui a sugestão que nomes que fizeram algo de válido em prol do Alandroal sejam relembrados em placas que deiam nome a qualquer Rua.
Chico Manuel

Toponímia montemorense

Quando não sei onde estou, como saber para onde vou? Para dar resposta a essa interrogação, foram-se baptizando primeiro, os lugares, depois as ruas, e por último, atribuíram-se às portas, os números de polícia. No período em que a antiga urbe montemorense, estava fixada no Monte Maior, as ruas do nosso castelo já estavam identificadas, e possuíam nomes como Rua dos Açougues, Rua dos Cavaleiros, Rua do Poço, Rua S. João, Rua de Luís Dias, e Praça Velha, entre outras.
Cada topónimo, cada nome de lugar, terá a sua origem, a sua razão de ser, e muitas vezes, a toponímia vem dar a conhecer, a origem apagada pelo tempo, do lugar que nos é querido.
A toponímia, é um elemento importante, no que concerne à identificação de um povo, para com os seus valores históricos e culturais, pelo que a atribuição de topónimos se reveste de particular importância para o harmonioso desenvolvimento das comunidades, que vêem neles, um património a preservar.
A toponímia é ainda, um modo de homenagem local a pessoas, a recordação de acontecimentos, dos costumes, das actividades sociais, comerciais, artesanais, e ainda, um tributo ao património cultural e artístico, e sobretudo, é sempre uma forma de honrar alguém, e de lhe dizer: bem-haja!
As placas toponímicas corporizam esse sentimento. São a identificação das nossas ruas, largos e praças, com as datas e factos históricos e, sobretudo, enaltecem as qualidades humanas e altruístas, dos seus patronos. Por tudo isto, a toponímia desperta a curiosidade, e o seu interesse, torna-se indispensável para o conhecimento e compreensão, das alterações da vida social da nossa terra, ao longo dos tempos.
A toponímia, de forma directa ou indirecta, mexe connosco, com as nossas raízes, com os nossos nomes, com a história que se foi construindo, até chegar a nós.
A toponomástica, para além de na actualidade, ser vista sobretudo, como um instrumento fundamental, para a identificação de moradas dos habitantes de uma cidade, de uma vila, ou de uma aldeia, bairros, ruas e praças, homenageia individualidades que se distinguiram pelas suas obras.
Há ainda a ressaltar, o pitoresco criado pela toponímia, que coloca lado a lado, na mesma rua, nas esquinas dum mesmo prédio, monárquicos e republicanos, políticos de esquerda, do centro e de direita, santos, médicos, juristas, engenheiros, professores, comerciantes, e também gente humilde, todos pacificamente convivendo, apesar de separados pelo tempo, e pelas suas ideias e formação. Ali estão os seus nomes, gravados na frieza de uma pedra, ou no brilho duma placa de esmalte, para lembrar aos presentes e aos vindouros, quem foram, e o que fizeram, pela sua terra natal ou de acolhimento, e pelo nosso país.
A história da toponímia em Portugal, acompanha a evolução politica do país, e são muitos, os exemplos de mudanças de nome, por questões políticas, como aconteceu em Montemor-o-Novo quando da implantação da República, e depois, com a Revolução dos Cravos.
Toponímia política

As toponímias de uma povoação, dizem respeito a um povo, e não a um punhado de “iluminados”, que em dado momento, têm o poder nas mãos em representação de uma força política, e, munidos de uma dose de sectarismo quanto baste, e, sem se rodearem de particular cuidado, e pautar-se por critérios de rigor, coerência e isenção, cometeram erros grosseiros, como por exemplo, a retirada do nome de Leopoldo Nunes, a uma rua da terra que o viu nascer.
Por muito que respeite o percurso de Bento Gonçalves, militante comunista, que atingiu o estatuto de secretário-geral do PCP, nascido no lugar de Fiães do Rio, pertencente ao concelho de Montalegre, e falecido no Campo de Concentração do Tarrafal, a 11 de Setembro de 1942, não posso concordar com a atribuição do seu nome, apenas por motivos políticos, a uma rua, que já possuía o nome de um ilustre montemorense – Leopoldo Nunes.

Reconhecimento na toponímia
Os anos foram passando, e depois de vencer inúmeras dificuldades, a tolerância, tal fruto que demorou a amadurecer, chegou há muito à Vila Notável. Num dos mandatos do actual presidente, foi atribuído em 6 de Março de 2003, a uma praceta da cidade, o nome de um antigo Deputado do Estado Novo, o benemérito Engenheiro João Garcia Nunes Mexia, a quem a nossa cidade muito deve, principalmente o Abrigo dos Velhos Trabalhadores, e o Grupo dos Amigos de Montemor-o-Novo.

Propostas de toponímia
Depois deste feliz precedente, que reverencio, e no que se refere à toponímia propriamente dita, espero que o meu caro amigo Dr. Carlos Pinto de Sá, antes de terminar o seu brilhante mandato, culminado com a realização de importantes obras há muito aguardadas, se debruce sobre as seguintes propostas:
Primeira proposta - Proponha a atribuição do nome do nosso conterrâneo Leopoldo Nunes, o homem que derramou cultura pelo mundo que percorreu, o homem que foi agraciado por vários países europeus, o homem que falava e escrevia melhor que os outros, o homem que se referia a S. João de Deus desta forma: “ninguém no mundo depois de Cristo, o igualou em caridade”, o homem que atingiu um patamar bastante elevado na área do jornalismo escrito e falado, o homem que fundou o Sindicato dos Jornalistas, do qual possuía o “crachá de ouro”, o homem que foi Vereador do Turismo, na Câmara Municipal de Lisboa, o homem que juntava à sua inteligência, uma enorme bondade, ao remodelado Rossio, local onde exerceu a profissão de ferrador, antes de rumar a Lisboa, e onde se situa a Praça de Touros, na qual o fundador do programa radiofónico “Sol e Touros”, organizou dezenas de espectáculos, cujas receitas reverteram a favor de instituições montemorenses, como por exemplo, o Asilo das Meninas, o Asilo de Mendicidade, a Sopa dos Pobres, e sobretudo, do Hospital Infantil de S. João de Deus.
A atribuição do nome de Leopoldo Nunes a esta, ou outra artéria da cidade, funcionaria como a reposição de uma legalidade, e cicatrizava algumas feridas, ainda abertas, nos corações de muitos montemorenses, desde aquela infeliz deliberação de 1975, que retirou o seu nome, a uma rua da terra, que ele tanto amou.
Segunda proposta - Proponha a atribuição do nome do nosso concidadão João Joaquim Machado, resistente antifascista, recentemente falecido, a uma artéria da cidade. Salvo melhor opinião, proponho a rua de acesso ao novo Centro Escolar, e às Piscinas Cobertas.
João Machado, cedo se revelou um opositor ao regime totalitário, o que lhe valeu, nas cinco vezes que esteve preso, dez anos de cadeia, durante os quais, foi barbaramente agredido e torturado. Após a Revolução de Abril, foi candidato a deputado, e integrava desde o início, a União dos Resistentes Antifascistas Portugueses. Como membro da URAP, fez parte da comissão, que construiu o monumento de homenagem a José Adelino dos Santos, erigido no local onde tombou, assassinado pela GNR, e mais tarde, participou na Comissão Pró-Monumento aos Resistentes Antifascistas do Alentejo, inaugurado no dia 1 de Junho de 1996.
Este bom homem, de quem fui amigo, tudo deu em prol de um ideal, sem exigir nada em troca, pelo que era admirado e respeitado pelos seus camaradas, e igualmente, por rivais do PCP.
Fruto desse comportamento, recebeu no dia 25 de Abril de 2000, por deliberação do executivo municipal, a primeira Medalha de Honra “Liberdade, Progresso e Justiça Social”. Esta concessão, determinada por unanimidade, e em cuja votação, participaram eleitos da CDU, do PS e do PSD, teve como base a sua vida, que constituiu uma referência de cidadania, e confirma, a admiração e o respeito, que os políticos montemorenses de todas as áreas, tinham pelo antifascista, que nos deixou no dia 22 de Março último.
Terceira proposta - Por último, que na Rua de Olivença, topónimo atribuído há setenta e cinco anos, por deliberação da comissão administrativa do nosso município, em apoio à causa da libertação de Olivença, e cujo dístico, feito em bonitos azulejos, que contêm sobre o nome da rua, as armas de Olivença e de Montemor-o-Novo, seja retirada a placa (que se vê na foto), que alguém de muito mau gosto, mandou colocar ao lado da primitiva, descerrada a 21 de Maio de 1936, criando desta forma, uma situação ridícula, que em nada, engrandece o nosso Centro Histórico.

Augusto Mesquita

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