quinta-feira, 12 de abril de 2012

CRÓNICA DE OPINIÃO DA RÁDIO DIANA FM

Transcrição da crónica diária transmitida aos microfones da :http://www.dianafm.com/

Recuar até onde?
Eduardo Luciano

Quinta, 12 Abril 2012 09:56
De cada vez que oiço um debate na Assembleia da República, a soma das palavras do ministro de serviço e dos deputados que apoiam o governo soam-me sempre a vingança servida com a frieza necessária para a tornar eficaz.
A propósito do encerramento da Maternidade Alfredo da Costa foram feitas afirmações que fariam corar de vergonha qualquer um. Qualquer um que não estivesse no cargo com a missão de destruir o Serviço Nacional de Saúde, enquanto vai fingindo que procura a sua sustentabilidade.
Com a arrogância própria de quem sente que os ventos sopram de feição para uma perspectiva ideológica assente na “liberdade” para comerciar tudo, incluindo a própria vida, o ministro afirmou que o Governo não está em condições de garantir a continuidade do Serviço Nacional de Saúde.
Uma deputada da maioria disse, com o mesmo ar que a outra senhora recomendou aos que não tinham pão que comessem brioches, que podíamos todos ficar descansados porque na região de Lisboa existiam 16 maternidades públicas e privadas.
Se esta gente, sempre com o apoio cheio de responsabilidade dos que lhes abriram caminho, levar até ao fim esta ofensiva, veremos as condições de vida da maioria dos portugueses recuarem décadas com as consequências que facilmente conseguiremos adivinhar.
A aposta do governo é destruir o mais depressa possível, deixando para os mais pobres uma espécie de assistência mínima e entregando os cuidados de saúde à gula de empresas privadas e seguradoras, para quem este sector é apenas mais uma área de negócio ou, utilizando o linguajar da moda, uma fileira a explorar pelo empreendedorismo indígena e forasteiro.
Este ataque anunciado e previsto, afectando todos os utentes, tem consequências mais graves no interior do país onde uma população envelhecida e de poucos recursos financeiros fica à mercê da sorte e do azar, longe de serviços de saúde essenciais e sem capacidade de recorrer aos prestadores de serviços privados que naturalmente se instalarão para preencher o vazio deixado pelo abandono do Estado das suas obrigações constitucionalmente consagradas.
Nunca como hoje fez tanto sentido a mobilização das populações para a defesa do seu centro de saúde, do seu hospital com todas a valências existentes, para defesa do serviço nacional de saúde universal e tendencialmente gratuito.
Muitas das tentativas levadas a cabo pelo anterior governo para amputar o serviço nacional de saúde foram travadas pela luta das populações e será com essa luta que travaremos este brutal ataque.
António Arnaut afirmou que se o sistema for colocado em risco, Portugal vai assistir a um levantamento popular.
Eu sou da opinião que o sistema já está em risco pela declarada intenção do ministro de acabar com ele.
Até para a semana
Eduardo Luciano

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