Retirar a peneira da frente do Sol
Eduardo Luciano
Quinta, 05 Abril 2012 10:19
Estávamos no Verão de 2009 e aproximavam-se as eleições autárquicas. Como todos sabemos esse é um tempo em que para alguns vale tudo para conquistar votos, para mostrar a obra que não se fez mas que se pretende dar como quase feita.
Nesse contexto surgiram maquetes, infografias, desenhos, placas a anunciar o fim de obras que ainda nem sonhadas estavam.
Foi assim que surgiu o anúncio da recuperação do salão central que, segundo uma publicação da câmara, seria inaugurado na Primavera seguinte cumprindo o prazo de um ano que a orgulhosa placa ostentava.
Mas se aí a coisa era relativamente fácil e barata de anunciar (bastou colocar a tal singela placa e fazer dos órgãos de comunicação local caixa de ressonância), já o anúncio da construção do “complexo desportivo”, para se tornar credível, exigia um outro esforço de encenação.
A placa aumentou substancialmente de dimensão e o terreno onde iria ser construído o “complexo desportivo” foi delimitado por uma cerca metálica que tinha inscrita em cada módulo o nome de uma empresa de construção.
Quer num caso, quer noutro, a ideia era muito simples: se dissermos que a obra se vai iniciar e fizermos o mínimo para criar e alimentar essa ilusão durante dois meses, tiramos daí os dividendos eleitorais que possam compensar o facto de em oito anos não termos cumprido nada do que prometemos.
Não sei se resultou, mas sei que as cabecinhas que pensaram nisso não teriam certamente a ideia de se voltarem a candidatar.
Passados quase três anos daquela azáfama construtora e reabilitadora, nem uma pedra foi mexida.
É claro que a crise é hoje usada como alibi para que não se tenham concretizado tão bondosas intenções. Mas no Verão de 2009 não estávamos já em crise?
Dir-me-ão que a situação não é nova e que já em 2001 foram feitas promessas ao quilo que se sabiam que não iriam ser cumpridas, mas em 2009 subiu-se mais um patamar na arte de enganar o eleitor incauto, ao encenar o início de uma obra que se sabia não poder ser iniciada naquele tempo.
Passados quase três anos assistimos hoje à desmontagem da cerca metálica que serviu para mostrar que a obra ia mesmo avançar e para esconder que nada estava a ser feito.
Se há três anos os painéis serviram para enganar os mais crentes, hoje serviam para lhes lembrar que foram enganados e por isso teriam que ser retirados e devolvidos a quem os alugou ou emprestou.
Olhando para esta operação de desmontagem não podemos deixar de a associar ao desarmar da tenda do circo depois do último espectáculo em que o ilusionista foi estrela.
Há quem ache que a política é a arte do possível, há quem acredite que a política é a arte de tornar possível o impossível e há quem faça da política uma espécie de arte de tornar possível a eleição a qualquer preço.
Até para a semana
Eduardo Luciano
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