quarta-feira, 4 de abril de 2012

CRÓNICA DE OPINIÃO DA RÁDIO DIANA FM


Ter Estratégia (ou ir atrás dos outros)
Carlos Sezões

Quarta, 04 Abril 2012 10:17
Desenvolver uma estratégia dá bastante trabalho. Pressupõe estudar uma realidade, analisar cenários, decidir e mobilizar recursos. E, depois, comunicar para que todos possam agir de acordo com o que foi definido.
Em Portugal, não gostamos muito de estratégias. Gostamos muito de diagnosticar, fazer estudos muito sofisticados mas depois raramente tal esforço tem consequências numa estratégia consistente, compreendida por todos e com a devida execução das acções previstas. Acabamos por fazer coisas avulsas, geralmente caras, anunciamo-las umas duas ou três vezes e esperamos que tudo corra bem. Mas, frequentemente, tal não acontece.
Ocorreu-me esta reflexão depois de ouvir o Primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, na semana passada, estabelecer 2014 como meta para o arranque construção da linha ferroviária de mercadorias entre Sines e Espanha. Algo que, diga-se, faz todo o sentido. O caso de Sines e dos investimentos em transportes e logísticas é uma daquelas novelas que revelam a nossa falta de visão e sentido prático das coisas. Passámos anos e anos a despender tempo, energia e dinheiro com debates pouco úteis sobre o novo aeroporto de Lisboa e sobre o famoso TGV, focado no transporte de passageiros. Nunca ninguém explicou como estes enormes investimentos se interligavam com uma estratégia económica para Portugal ou como seriam rentáveis e sustentáveis. Ainda temos o caso das plataformas logísticas e, lembro-me em particular do Poceirão, que prometia 12 mil empregos directos e indirectos que ainda ninguém viu. O raciocínio foi sempre ir atrás dos outros. Se o centro da Europa tem alta-velocidade ferroviária, nós também temos. Se se constroem novos aeroportos em Berlim ou Viena, também temos de ter um novo em Lisboa!
Sines e os investimentos adjacentes, como aponta e bem o governo, pode ser um caso em que existe efectivamente uma estratégia e esta é concretizada. O seu excelente posicionamento no cruzamento das rotas marítimas Atlânticas, permitem vantagens competitivas no contexto da aposta na carga contentorizada, focando os mercados mais dinâmicos como a América e o Extremo Oriente. O Terminal 21, em Sines, é um dos maiores portos de águas profundas da Europa. Recebe os maiores navios de transporte de carga e só não é mais competitivo porque não tem uma ligação directa por terra e por comboio até Espanha e daí para o resto da Europa. Segundo consta, 2014 é o ano em que o alargamento do canal do Panamá tornará ainda mais relevante a posição de Sines no Atlântico. Em suma, há uma oportunidade, existe uma visão para a explorar, há uma estratégia. Comecemos a ser rigorosos e consistentes nas apostas que fazemos, como o actual governo tem feito e teremos, seguramente, vários casos de sucesso na próxima década.
Carlos Sezões
Gestor

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