segunda-feira, 2 de abril de 2012

CRÓNICA DE OPINIÃO DA RÁDIO DIANA FM


Tempestade
Miguel Sampaio
 
Segunda, 02 Abril 2012 13:00
Começa a avolumar-se a terrível sensação de ver o país à deriva.
Um Presidente alheado dos problemas dos cidadãos, tendo como objetivo principal passar pelo incendio da crise sem se chamuscar, um governo fraco e submisso aos interesses dos mais poderosos, que põe todo o ónus da mesma sobre os ombros das classes menos desfavorecidas, fazendo desaparecer a classe média que seria sempre, em qualquer circunstância, o motor da economia.
Para acentuar os tons negros deste cenário de tempestade, temos agora um parlamento que não funciona, com o maior partido da oposição sujeito a um acordo catastrófico que promoveu e assinou, e que, cai que nem sopa no mel nos interesses do capital financeiro e especulador, que os partidos do governo defendem com unhas e dentes.
Toda a receita que o governo consegue extorquir de uma classe trabalhadora moribunda, vai diretamente dos cofres do Estado para os bolsos dos credores, em vez de ser canalizada para o investimento no setor produtivo que gera riqueza e emprego.
O estado social tal como o conhecemos, não existe mais e não tarda o tempo em que será apenas uma pobre desculpa para transferir lucros para os privados, via seguradoras e instituições do género, deixando para os mais pobres, que são em última análise os mais necessitados uma proteção social de refugo, uma saúde inexistente, uma escola de analfabetos funcionais.
Os sindicatos, ao aceitarem dar voz a estratégias partidárias, transformam-se aos poucos em cabeças sem corpo, com os seus dirigentes por força dos cargos que desempenham a afastarem-se dos locais de trabalho e a serem associados pelos trabalhadores à generalizada descredibilização dos partidos políticos.
Restam-lhes ações de rua, mais ou menos mediáticas mas cuja adesão e impacto real são diminutos e facilmente aproveitados pelo poder para justificar o ataque cerrado que faz aos direitos dos trabalhadores.
Acresce a isto que num país em que o desemprego e a precarização atingem já uma percentagem muito significativa de cidadãos, estes não se reveem na ação das centrais sindicais, ainda viradas para um paradigma que já não existe em virtude do golpe de estado neo liberal.
Sem referências que contextualizem uma resposta concertada à política do capital, assistimos a uma divisão entre os mais atingidos pela crise, com uns a tentarem segurar o pouco que ainda têm e assumindo uma atitude cordata face à crise, e outros a agirem motivados pelo desespero numa violência sem rumo, que gera insegurança e mais incertezas e mais repressão, por parte de um aparelho de estado que deixou à muito de servir os cidadãos para passar a ser o braço armado deste poder que oprime e que tem da democracia uma visão muito particular.
Miguel Sampaio

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