Se há “coisa” que o meu Pai gosta, quando o visito, é de dar uma “voltinha” tomando a estrada de Terena, ir ver a Barragem, passar pela Boa Nova, ver de longe a Barranca, e terminar a “via sacra” passando pelo Rosário, sua terra natal.
E eu gosto, porque revejo locais que muito me disseram e sempre vou sabendo que neste ou naquele local, neste ou noutro Monte, que por vezes ele já não reconhece, se passou “isto ou aquilo”.
Meu Pai tem 94 anos (felizmente bem conservados).
Há uns anos atrás, era também motivo de grande regozijo passar pela vinha da Pipeira, empreendimento ao qual deu muito do seu trabalho, e que chegou a ser motivo de reportagem em órgãos de comunicação.
A “via sacra” continua a repetir-se, mas presentemente não posso, quando por ali passo, deixar de notar no meu Pai um sentimento de profunda tristeza, digo até de comoção, de “nó na garganta” quando lhe é dado ver o que resta de uma vinha que outrora era motivo de admiração de todos os que por ali passavam, e à qual ele deu tanto do seu trabalho.
= Considerem esta introdução, como um motivo para o que a seguir vou escrever sobre a PIPEIRA=
A PIPEIRA
Talvez ainda em idade escolar percorri a Pipeira pela primeira vez.
Meu Pai levava-me como "mochileiro" nas grandes caçadas que se faziam por aqueles terrenos. A reunião era no Moinho de Vento.
Ali se concentravam os caçadores e se delineava o plano para o dia. A partir daí comecei a conhecer os momentos felizes do abate de uma peça de caça, a descoberta de frutos silvestres, a dureza de bater o mato, a alegria de achar uma “peça” perdida, o sentimento de liberdade que só o campo nos proporciona.
O almoço, era no final da Pipeira, mais propriamente na fonte da Ameixeira, onde o António José do Estreito, e a sua burra já esperavam para trazer p´rá Vila as peças abatidas de manhã.
O regresso era pelo lado de lá da estrada do Rosário, “batendo” o Cabril, a Ameixeira, as Parreiras…
A Pipeira era grande: Foi lá…no local da moribunda vinha, que o Major João José Galhardas, depois de dar duas ou três voltas de reconhecimento sobrevoando os céus do Alandroal , nos fazia correr para o local onde aterrava a avioneta que todos nós podíamos contemplar de perto.
A Pipeira tinha um monte – foi habitado e lá se albergaram os técnicos que fizeram dali o “Campo de Experiências”.
Foi lá que muitas vezes depois de abandonado me serviu de local para muitos almoços no meio de grandes caçadas.
A Pipeira foi motivo de revolta e baixos assinados, quando a quiseram colocar como reserva do Estado.
A Pipeira foi cobiça de todos por altura do PREC. Lembro-me perfeitamente de, colocado atrás do balcão dos CTT, ver correr o Bento rua acima, para chegar primeiro e pedir uma chamada para um Organismo sedeado em Évora (cujo nome não me lembro) a dizer que uma Comissão de Trabalhadores, tinha ocupado a Pipeira.
Pois bem:
E é aqui que eu quero chegar:
E, notem bem: fui sempre contra as ocupações “selvagens”, não vi nunca grande futuro na R.A. e muito menos quando me apercebi que dela se estavam a aproveitar certos “espertinhos”…. Mas ao ver agora o estado a que chegou a “VINHA DA PIPEIRA”… não posso deixar de reconhecer que muito me enganei!.
Chico Manuel
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