sexta-feira, 16 de março de 2012

A FAMILIA TIRA-PICOS

(Continuação da semana anterior)

O REGRESSO DA ESPÔSA AMADA

Tudo o que se passava com o Tira-Picos, nesta malfadada fase da sua vida ia sendo seguida pela sua Pardaleira, que no Monte das Bujardas ia cada vez mais deixando dissipar o mau estar provocado pela “mijadela”do seu mais que tudo, naquela triste noite em que foi afogar as mágoas na tasca do Pirolito.
Não podia, mais a mais sabendo, que após a última peripécia o mesmo havia sido “encanado”, deixá-lo ao abandono. Após uma conversa com a mãe, já que o pai estava difícil de domar lá conseguiu arranjar uns tostões, um farnel e regressou ao lar.
Entretanto o Tira-Picos, dado que o roubo não havia sido consumado, foi posto em liberdade.
Que alegria, quando chega a casa, e vê a sua mulher! Que alegria quando soube que alem dos “cobres” doados pela sogra, ainda havia um “arroz tostado” feito com a galinha que a esposa “acarinhou” no Monte e uma “canjinha”. Tal banquete merecia “uma pinga” , e o nosso homem foi buscar na tasca do Sinfrónio uma “litrada”. Até resistiu a um copo que lhe ofereceram, mas ficaram-lhe nas narinas o cheiro dos caracóis que serviam de petisco.
Foi um regalo, depois da “janta” o serão passado em casa com a sua Pardaleira. Fez esquecer todas as necessidades porque havia passado. Havia que lhe dar a devida recompensa. Depois de dar voltas e mais voltas à cabeça acudiu-lhe o “cheirinho”dos caracóis. Pois é! Apanhar caracóis não é roubo e ele sabia bem que na Horta da Formiga havia muitos e por sinal grandes e bem gordos. Foi só a questão de arranjar um tacho, meter os caracóis lá dentro, chegar a casa e pô-los ao lume. Enquanto os caracóis coziam, foi beber um copo, mais que a esposa não estava em casa atarefada que estava nos cumprimentos às vizinhas.
Foi um desastre total...havia ranho por tudo quanto é sitio na cozinha...e os caracóis na medida em que a água ia aquecendo iam-se raspando pela casa toda e deixando o seu rasto pelas paredes. Até no quarto e na cama havia caracóis.
O pior é que a mãe da Pardaleira havia convencido o marido a irem visitar nessa noite a filha, e até era para jantarem lá....

A VISITA DOS SOGROS

Bem se esforçaram para apagar os vestígios deixados pela fracassada cozedura dos caracóis, que deixaram rastos da sua presença por tudo quanto é sitio. E tanta esperanças que o Tira-Picos tinha em conquistar as boas graças do sogro oferecendo-lhe um petisco de caracóis. Sempre conheceu os “bichinhos” como sendo “mansos”, quem lhe havia de dizer que se “espantavam” de tal forma com o calor! E depois sabia ele lá que precisavam de ser lavados e que para serem consumidos tinham que levar tempero?
Pelo sol-posto lá se apresentaram os pais da Pardaleira, munidos de alguns mantimentos, que a extremosa mãe conduida pelo mau viver da sua filha sempre ia “acariando”. Até um "bolo de alguidar" tinha feito para levar à filha...
Quando chegaram estava a casa virada de pernas para o ar, e o casalinho atarefado à caça dos malditos caracóis que se haviam espalhado por todo o lado.
Mas...o que é isto? Sabe lá: caiu-me uma praga de caracóis em casa, que não consigo dar conta disto! Caracóis? Pois...isto deve ter sido por causa de umas couves que trouxe lá do Monte e que deixei no “poial dos cântaros”. Devem ter passado a noite “na pouca-vergonha” e agora resolveram passear pela casa toda.
Quem não ficou lá muito convencido foi o “velho” que viu logo que devia ter sido mais “alguma” daquele parvalhão. Até porque o cheiro que se espalhava pela casa não deixava margem para dúvidas.
Logo ali pensou em dar de frosques e voltar para o Monte. Mas enfim, já que tinha ido para jantar e fazer “as pazes” com o genro, o melhor era esperar.
Decorria o jantar pelo melhor, o pai da Pardaleira até já tinha perguntado, como é que iam as coisas, quando a mãe começa a sentir uma coisa estranha e viscosa a subir-lhe pelas pernas. Habituada que estava a que a única coisa que lhe subia pelas pernas era a mão calejada do seu homem agora aquela coisa mole por aí acima fez-lhe dar cá um destes pulos que tudo o que estava em cima da mesa foi de “pantanas”.
Há velha dum cabrão agora entornou esta merda toda...lá se foi o jantar para o maneta, ainda por cima me queimou com o caldo.
Foi o ponto final na tentativa de reconciliação. De carro de praça regressaram ao Monte, e só mais tarde por altura do baptizado do Nelinho é que tentaram nova reconciliação.
Tudo por causa de um “abelhudo” caracol, que sabe Deus, com que intenção se preparava para se alojar, sabe Deus onde, na carcaça da mãe da Pardaleira.
Vá lá que no meio dos estragos ainda se safou o “bolo de alguidar” que serviu para consolo do casalinho.

Saudações Marroquinas
Xico Manel

(P´rá semana há mais)

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