Transcrição da crónica diária transmitida aos microfones da :http://www.dianafm.com/
Opções
Eduardo Luciano
Quinta, 15 Março 2012 10:26
O secretário de Estado da Energia demitiu-se. Tal facto em si não é bom nem mau tendo em conta que o lugar voltará a ser preenchido.
Aliás este facto nem seria motivo de crónica se não fossem os comentários dos diversos especialistas em energia, demissões, substituições, privatizações e outras coisas parecidas.
Parece que o senhor secretário de Estado tinha uma perspectiva ligeiramente diferente sobre o sector de que era responsável e se propunha reduzir os lucros das produtoras de electricidade, tendo declarado recentemente que seria sua intenção de proceder a um corte nos pagamentos a estas empresas que poderia chegar aos 2500 milhões de euros, segundo um estudo publicado recentemente,
Os especialistas que fui ouvindo e lendo depois da demissão do Secretário de Estado, apontaram genericamente para a crítica a essa intenção do ex-governante usando o mesmo argumento e as suas variantes: se fossem levadas à prática as suas propostas tratar-se-ia de uma alteração de regras a meio do jogo e lesaria os interesses dos investidores, que tinham realizado os seus investimentos tendo em consideração o quadro existente e que se deveria manter a sua estabilidade para não afugentar esses beneméritos.
É interessante como a utilização do argumento de alterações das regras a meio do jogo funciona quando se põe em causa os lucros e não funciona quando se põe em causa os rendimentos do trabalho, sendo que, nesse caso, o suposto interesse nacional justifica até que se jogue sem regras.
Alguns afirmaram mesmo que essa redução dos lucros seria totalmente ilegítima por ferir os interesses de quem acabava de comprar parte significativa da EDP.
São os mesmos que durante a discussão do Orçamento de Estado acharam legítimos os cortes efectuados nos rendimentos dos trabalhadores.
Então não estamos perante a mesma situação? Os trabalhadores não tinham a expectativa de que o seu salário não poderia ser reduzido e que receberiam catorze vezes por ano? Não realizaram os seus investimentos na saúde, na educação dos filhos, na aquisição de habitação, tendo em conta as regras existentes?
Parece não haver diferença entre a legitimidade para a aplicação de uma contribuição especial sobre rendas excessivas na produção energética e a aplicação de cortes salariais.
A diferença está na opção de fazer pagar crise aos trabalhadores mantendo intocáveis os interesses do capital.
Pelos vistos as alterações unilaterais às condições contratuais em nome do interesse nacional só são legítimas se estiverem em causa contratos de trabalho. Se em causa estiverem os lucros da EDP cai o Carmo, a Trindade e o Secretário de Estado da Energia.
Até para a semana
Eduardo Luciano
Sem comentários:
Enviar um comentário