Álvaro
Martim Borges de Freitas
Sexta, 09 Março 2012 11:40
Passadas as eleições legislativas de 2011, conhecidos os seus resultados e tida por boa a promessa de Pedro Passos Coelho de querer constituir um governo pequeno, foi sem grande surpresa que o Governo por si liderado foi apresentado com apenas onze Ministros. Governo que, como então aqui disse, me parecia ser de alto risco sob os mais variados pontos de vista. De alto risco, porque estava e está submetido ao castrador acordo da troika; de alto risco, porque, estando submetido ao acordo da troika, teria de tomar medidas muito duras, de impacto social elevadíssimo, o que poderia e poderá conduzir a uma enorme contestação social; de alto risco, porque é um governo de coligação num contexto difícil; e de alto risco, porque integra ministros de experiência política reduzida, quase nula ou mesmo nula, consoante os casos, por oposição à sua reconhecida capacidade académica e/ou técnica. Ora, se quanto aos outros riscos praticamente não havia escolha, já quanto aos ministros, pelo contrário, esses, foram escolhidos.
O governo, ao ter sete ministros, em onze, que nunca haviam exercido qualquer actividade governativa, e ao ter nove ministros, em onze, que nunca tinham sido ministros, a par do próprio Primeiro-Ministro que, também ele, nunca tinha tido qualquer actividade governativa, não sendo à partida uma má solução, tornava-a numa solução de alto risco. Reconhecendo-se capacidade académica, nuns casos, e técnica, noutros, o risco estava e está, desde o início, na capacidade política. Tendo havido escolha, houve surpresa. Quando se falava dos “melhores de entre os melhores”, nunca se colocou a tónica na capacidade técnica ou académica dos ministros, mas, antes, na sua capacidade política, onde se incluiria, naturalmente, a capacidade de reunirem à sua volta os melhores técnicos e os melhores académicos. Nunca, que me parecesse, se quis dizer o contrário. O que, no entanto, não condenava o governo, já que é melhor ter ministros com ideias próprias e com pensamento coerente, a ter ministros cujo pensamento é desconhecido, para não dizer inexistente.
Vem tudo isto a propósito da polémica que estalou esta semana em torno da gestão dos dinheiros do QREN ou, melhor dizendo, em torno do Ministro que deverá gerir os dinheiros do QREN. Confesso que ainda não percebi com clareza os contornos do problema. Mas, pelo que foi dito e escrito na Comunicação Social, há oito meses era o Ministro da Economia quem deveria gerir esses dinheiros e agora, com comissão interministerial ou sem ela, a verdade é que passou a ser o Ministro das Finanças a decidir sobre a matéria. Ou seja, o Álvaro, nesta questão, já era.
Desde que Sócrates caiu, talvez mesmo antes, discutiu-se nalguns meios a necessidade de haver um Ministro das Finanças e, ao mesmo tempo, de um Ministro da Economia. Havia quem defendesse a existência de apenas um Ministro para as duas pastas e quem defendesse dois Ministros, um para cada pasta. Venceu esta linha e houve, como há, dois ministros, um para cada pasta. Acontece que, desde cedo, o Álvaro tem sido tratado, na e pela opinião pública como um ministro menor. Eu, pelo meu lado, acho-lhe graça. Dizendo-o sem qualquer sentido pejorativo, digo-o porque ele estava, à partida e aparentemente, liberto de qualquer interesse instalado, por conseguinte totalmente livre para poder agir de acordo com o seu pensamento e o pensamento do governo. Mas, se a liberdade de ter estado fora do país era uma vantagem, essa, depressa foi transformada numa desvantagem, na desvantagem que resulta do desconhecimento dos meandros da política portuguesa, o que, logo cedo, mostrou ser causa da sua vulnerabilidade. Tiradas como a “tratem-me por Álvaro” ou a da exportação dos pastéis de nata, que ditas por outra pessoa eventualmente noutro contexto até teriam caído bem, ditas pelo Álvaro não só caíram mal como foram ridicularizadas.
Ora, com a retirada da gestão dos dinheiros do QREN da alçada de Santos Pereira, deixou de ser apenas a opinião pública e publicada a ter uma apreciação negativa relativamente ao Álvaro. Agora, também o governo mostrou isso mesmo. E mostrou mais: mostrou que a opinião que tem sobre o Álvaro é a de que é politicamente incompetente. Assim, dificilmente o Ministro da Economia se voltará a levantar. Nem mesmo com a CGTP a assinar o próximo acordo de concertação social! O que é pena.
Lisboa, 8 de Março de 2011.
Martim Borges de Freitas
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