A Programadora
Eduardo Luciano
Quinta, 08 Março 2012 11:05
Era uma vez uma aldeia onde existiam muitas associações, muita gente com projectos interessantes na área da intervenção cultural. Qualidade diversa, públicos diversos, coisas para muito público e coisas para pouco público, coisas mais experimentais e coisas mais experimentadas.Este conjunto de gente vivia numa roda-viva entre o idealizar, o projectar, o realizar, o promover e o arranjar dinheiro para tornar possível mostrar os seus trabalhos.
Funcionando, demasiadas vezes, cada um por si, lá iam construindo quase em exclusivo a oferta cultural lá do sítio.
Nessa mesma aldeia imaginária existia alguém que gostava muito de ir registando tudo o que se ia fazendo. Muitas vezes olhava para as folhas repletas de iniciativas e ficava tão entusiasmada que se imaginava ter participação em todos aqueles eventos.
Sustentava essa ideia de participação no facto disponibilizar apoios logísticos e numa enorme vontade de se sentir incluída em tão entusiasmante actividade.
Apesar de não planear, organizar ou promover por sua iniciativa nada de relevante, limitando-se a acompanhar as iniciativas alheias, sentia-se dividida entre um certo desprezo por aqueles “saltimbancos” que faziam coisas estranhas e se queixavam da sua falta de apoio e iniciativa e uma longínqua vontade de aproveitar esse trabalho para dizer “vejam como aqui na terra se fazem tantas e tão diversas coisas”.
Foi assim que um dia surgiu a ideia de pegar em tudo o que as associações faziam, ordenar cronologicamente e apresentar a um concurso de uma espécie de sociedade de cobradores.
Apesar do concurso ser dirigido a programadores e não se vislumbrar como poderia caber nessa definição, que segundo um popular dicionário lá da terra é aquele que programa ou organiza, a tal ambiciosa concorrente lá se apresentou e para espanto de muitos ficou em primeiro lugar.
É aqui que me compete dizer que a nossa heroína não é uma pessoa singular, nada disso, não estou a ver ninguém individualmente a ter topete para tanto.
Trata-se de uma pessoa colectiva gerida por pessoas eleitas pelos habitantes lá da terra e que, segundo uns venenosos detractores, tem muita dificuldade em cumprir com o que se compromete, embora continue a assumir compromissos que, pelas palavras dos seus representantes dificilmente cumprirá.
A minha prima Zulmira, que também vive lá na aldeia, disse-me que já anda a tomar nota dos melhores programas de televisão para fazer uma lista muito organizadinha, não vá a tal sociedade promover um concurso para o melhor programador de televisão.
Se assim for ela tem todas as condições para vencer. Está atenta, tem bom gosto e até tem algumas vantagens sobre a vencedora do concurso que falei anteriormente: contribui financeiramente para quem promove a actividade, de cada vez que paga a factura da televisão por cabo e nem lhe passa pela cabeça insultar os autores dos programas que inclui na lista com se apresentará a concurso.
Até para a semana
Eduardo Luciano
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