segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

CRÓNICA DE OPINIÃO DA RÁDIO DIANA FM

Trezentas mil pessoas no Terreiro do Paço
Miguel Sampaio

Segunda, 13 Fevereiro 2012 10:35
Trezentas mil pessoas no Terreiro do Paço. Gente de todos os cantos deste país, unida num sentimento de revolta, a manifestar a sua indignação pelo esbulho de que somos vítimas, nós os portugueses que fazemos parte da maioria, dos noventa e nove por cento que se vêem privados de direitos, de trabalho, de segurança, que vivemos sobre o fio da navalha, que sabemos que amanhã será de certeza pior do que hoje, como hoje é bem pior do que ontem.
Sabemos todos, que com esta estúpida austeridade, não sairemos nunca deste sufoco, desta crise que nos amordaça a voz e nos tolhe os movimentos, que nos rouba a esperança, que nos entorpece a vontade.
Hoje, ninguém acredita neste caminho que nos é imposto, todos temos consciência que apenas alguns de entre nós vivem com relativo desafogo, enquanto uma minoria, esmagadora minoria essa, enriquece na exata medida da nossa miséria. Um quarto de nós, 25%, vive abaixo do limiar da pobreza, e a pobreza é uma prisão, uma vez chegada entranha-se, não se foge dela.
Se olharmos com atenção à nossa volta, facilmente percebemos que esta pobreza é viral. Muitos daqueles que agora nada têm, já tiveram trabalho e casa e carro, já tiveram acesso à saúde, já escolheram a escola dos filhos, tiveram mesmo férias e pequenos luxos, como uma ida ao cinema, ou um fim-de-semana na neve, tiveram com o banco uma relação de confiança, abriam a caixa do correio sem medo de serem confrontados com uma ordem de despenho, ou uma penhora do ordenado, sim! Ainda tinham ordenado e descontavam e julgavam inocentemente que esses descontos eram um seguro, um pacto social, que descontando garantiam uma defesa para a velhice ou para a doença, ou mesmo para a mais do que improvável perda de emprego.
Agora tudo mudou, o emprego passou a ser uma incerteza, os descontos mantêm-se, aumento mesmo, mas o seu retorno é quase nulo, a hora da refeição deixou de ser um prazer para ser um exercício de contabilidade, férias nem pensar, nem o cinema, e o ordenado quando chega, é cada vez mais curto, mais mirrado.
Este fim-de-semana foram trezentas mil pessoas, mas amanhã serão muitas mais, aumentarão com o caudal de um rio, o rio do nosso descontentamento, mas o ria que irá galgar as margens e repor na terra abandonada a semente da democracia e da justiça social.
Soube entretanto que Dias Loureiro foi visto em Lisboa, disseram até que continua oficiosamente a aconselhar os seus companheiros de sempre, os seus amigalhaços…
Soube-o e pus-me a pensar num velho ditado: Diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és…
Até para a semana.
Miguel Sampaio

Sem comentários: