Transcrição da crónica diária transmitida aos microfones da :http://www.dianafm.com/
Pieguices
Eduardo Luciano
Quinta, 09 Fevereiro 2012 09:50
Era uma vez um país governado por uma espécie de gente que passava a vida a queixar-se e a vitimizar-se.
Tais governantes aceitaram e apoiaram um conjunto de imposições vindas de fora com o objectivo de empobrecer o seu povo para salvar a agiotagem internacional e parece que esperavam que o povo, numa atitude servil e submissa, ficasse quietinho e sem ponta de queixume.
Queriam, por exemplo, que se voltasse às condições de exploração do século XIX. Perante a resistência dos trabalhadores lá vieram as queixinhas do costume: que não compreendiam que era para seu bem, que estavam agarrados a direitos do passado que já não faziam sentido, que tinham que trabalhar mais, sempre mais.
Quando impuseram aumentos brutais dos transportes públicos e os utentes reclamaram, logo uma carpideira de gravata apareceu a lamentar a incompreensão dos que precisam do transporte público para ir trabalhar.
Quando resolveram aumentar para o dobro as taxas moderadoras para o acesso aos serviços de saúde e os utentes se indignaram, logo arranjaram um coro de especialistas que pretendeu demonstrar que a saúde é para quem a paga e que não pode ser de outra forma, colocando aquele ar de canídeo à espera de festas depois de morder no dono.
Perante uma greve, protesto, manifestação, abaixo-assinado ou petição, a atitude é sempre a mesma. Lá vem um governante com o seu ar afectado, por vezes ridiculamente afectado nas maneiras, lastimar-se da falta de boa vontade do povo.
O jeito que lhe dava ser amado incondicionalmente depois de diminuir os rendimentos dos trabalhadores, aumentar os dias de trabalho, encerrar centros de saúde, cortar no transporte não urgente de doentes, embaratecer os despedimentos e aumentar a precariedade.
Mas como tal não é possível e como são especialmente sensíveis, vão procurar o carinho junto de quem melhor os compreende: as associações patronais, os banqueiros e a plêiade de afagadores do ministerial ego que pulula pelas televisões e jornais.
Nesta história o governo acabou por ser corrido porque o tal povo se encheu de coragem e pôs fim aquela espécie de sociedade recreativa de queixinhas e incompreendidos.
Tal governo ficou conhecido para história como os piegas telecomandados.
Até para a semana
Eduardo Luciano
2 comentários:
Os meus sinceros parabéns pelo seu texto.
Simples de ler, mordaz e irónico,como convém.
Assim se concretize o seu antepenúltimo parágrafo.
Cumprimentos.
Dino Roma.
Como é meu hábito, devo ter teclado mal e o meu comentário anterior não deve ter seguido.
Apenas quero afirmar a minha total concordância com o comentário do Dino.
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