quarta-feira, 9 de novembro de 2011

MEMÓRIAS – HOJE A “MEMÓRIA” É DO HELDER SALGADO

Nota do Editor: O Helder “puxou” pela memória e brindou-me com o envio de vários textos que envolvem um passado de acontecimentos, e gentes que irão perdurar na memória de muitos de nós.

Além do Zé Godinho, hoje mencionado, ao longo destes textos iremos recordar nomes como o Zé Seabra, o Chico Rijo, o padre Sardinheiro, o Joaquim Fitas, alem de nomes das artes e espectáculos como o António Garçoa, Manolete, Conchita Citron, El índio Apache, etc,. e saber também como foi a última tourada no Castelo de Terena (um texto sublime que nos obriga a reflectir sobre o sofrimento dos animais nas chamadas vacadas, digno de ser aproveitado pelos defensores dos animais.
Vamos ter ainda oportunidade de apreciar os dotes poéticos do Hélder lá mais p´rá frente.
Por experiência já adquirida ao longo destes anos de “bloguista” e contrariando a minha vontade de publicar todos os textos, parece-me mais apropriado ir publicando espaçadamente para uma leitura mais breve e melhor assimilação de tudo o que nos mesmos se relata.
Mais um motivo para que continue a seguir este nosso espaço
Chico Manuel

Uma casa no Alandroal


Devido aos meus afazeres profissionais sou forçado, no mínimo, a passar uma vez por semana na papelaria Algarve, em Almada, na freguesia do Laranjeiro.
Passo um olhar pelos jornais e sigo.
Numa manhã quando o ia para fazer, deparei com a fotografia de uma casa e quase em voz alta, surpreso, exclamei - Esta casa é na Aldeia das Hortinhas.
Expressão de surpresa e de alegria de quem não espera ver, tão longe um sítio conhecido.
A papelaria tem o nome de Algarve, talvez porque o primeiro dono tivesse nascido naquela província (já lhe conheci dois), mas da casa tinha eu a certeza, era uma casa na aldeia da minha freguesia Terena, no meu concelho Alandroal, no Alentejo.
Quem vindo das Hortinhas e descendo a ladeira do monte Outeiro, tem forçosamente ver esta casa.
Contrasta na cor e na lisura com as demais casa alentejanas, mas sempre comungou no asseio com elas.
Desde que conheço esta casa tem sido sempre propriedade da família Godinho, até que o José Godinho, o último herdeiro e proprietário da casa, foi forçado a vendê-la.
Quem não se recorda ainda do velho Godinho. Da sua labuta.
Foi o único lavrador onde eu vi fazer os trabalhos agrícolas com o gado vacum. Este gado era de cor vermelha, corpulentos e adaptados às terras magras da aldeia.
Pachorrento e vagaroso o que lhe valia, por vezes uma picadela com a aguilhada, que por sua vez respondiam com um coice.
A terra, sobretudo nos altos, tinha pouco corpo, e com o lento andamento do gado vacum, permitia ao Zé Godinho, perito em lavouras, aproveitar todos os bocadinhos, mesmo aqueles ficavam entre as rochas.
Era um monólogo curioso de ouvir os carreiros, aqui os filhos do velho Godinho, revelando o Zé, quando lavravam com os animais.
- Vaca dum... filha da... ao rego... estás com a mosca... - e quando, o que raramente acontecia, andavam mais depressa, - pica-te a cevada na barriga.
Aqui tinha o nosso homem razão.
A sua hospitalidade fazia-se sentir não só nas pessoas mas também com os animais.
Posso afirmar que estes eram bem tratados e estavam gordos e luzidios
Mas não era só aquele monólogo que se ouvia, nas tardes outonais depois das primeiras águas, quando o arco-íris se confunde com o colorido das cores escarlate do Sol poente, mas também, enquanto o Zé lavrava, as cotovias faziam-se ouvir com os seus pios, lá apareciam as bonitas arvelas e as titelas, mas o que o Zé não gostava era das bibes, que lhe faziam lembrar as feiticeiras.
Aqui perguntava-lhe, se eram feiticeiras pessoas, (havia uma família de apelido Feiticeiras) ou se eram as feiticeiras, fruto do imaginário de cada um e que nunca ninguém viu.
- Está a brincar, pois eu já as ouvi cantar, - respondeu-me.
O tio Zé também cantava enquanto lavrada integrando-se naquele ambiente em que a Natureza funde os seus sons como um louvor a todos os executantes.
O Zé sempre viveu no Monte e passou depois a ter uma muar, um macho.
- É mais rápido que as vacas, mas mais turbulento. - dizia elogiando o macho.
Hélder Salgado
09Nov2011

3 comentários:

Carlos Damas disse...

Bonita historia do amigo Hélder Salgado, relembrando o seu passado de boas recordações que eu gosto de ouvir, neste caso ler. Dos tempos em que trabalhavam lentamente em relação ás possibilidades que havia nesse tempo, mas contudo as pessoas eram mais amigas umas das outras e viviam contentes com as poucas possibilidades que tinham, havia humildade.

Anónimo disse...

Lembro-me perfeitamente do ti Godinho e retenho na memória ele presente nas touradas no velho toril nos bancos comendo dois sorvetes, um em cada mão vendidos pelo Martinho dos sorvetes.Era um grande aficionado.

Homem de 60

Anónimo disse...

...E na primeira fila dos espectáculos de folclore, DE BINÓCULOS, para ver BEM as componentes das sub-saias das dançarinas.

Olá se me lembro

Com um pouquinho mais de 60.

Tói da Dadinha