domingo, 27 de novembro de 2011

DIREITO À OPINIÃO - HOJE F.TÁTÁ

VOLTÁMOS AO TEMPO D´OUTRORA?

Dois destaques colocados na primeira página do Semanário Registo (edição de 24 Novembro, por sinal dia de greve geral) chamaram-me a atenção.
“BANCO ALIMENTAR MATA A FOME A 8.000 ALENTEJANOS”.
E
“GNR PATRULHA OLIVAIS DA REGIÃO”.

Estas notícias remetem-me a tempos já distantes, década de 40 do século passado, na ressaca de uma Guerra Mundial e recordam-me relatos que então já na década de 50 me eram narrados.
Felizmente não os vivi nem senti.
Relatos que ainda hoje guardo na memória, quando ao almoço se comiam sardinhas e a cabeça era posta de lado, e os familiares me recordavam de imediato o desperdício, lembrando quando uma sardinha dava para três.
A sinistra “casa da fome”, assim como a “casa do rodo”, a escolha dos homens para a labuta nos campos, tal qual um leilão humano, os ajuntamentos frente à Câmara…todas estas situações motivadas pelo mesmo flagelo: a “FOME”.
Quando, nesta altura somos alertados pela notícia que já 8.000 alentejanos recorrem à caridade para matar a fome… ficamos verdadeiramente arrepiados.

Longe vão os tempos em que com consentimento do proprietário (que fingia nada saber) se escolhiam umas azeitonas para “pisar” ou “artalhar”, que depois de preparadas, davam para “beber uns copos”, muitas vezes até com o proprietário do olival.
Mais longe ainda, quando pela calada da noite se tentava “sacar” umas bolotas, ou umas azeitonas para sobrevivência. Relatos do meu pai, que incumbido de guardar o montado, muitas vezes me contou que fulano ou beltrano lhe ficaram sempre gratos por lhes ter até ajudado a encherem o “saquito”. O pior era quando aparecia a G.N.R. que talvez por temerem a instâncias superiores se viam obrigados a actuar.
Recentemente, acção que se prolongou até aos dias de hoje, muitas vezes a azeitona ficou nas oliveiras, e nem mesmo a divisão proprietário – trabalhador nas percentagens consideradas justas motivaram a recolha da mesma.
Fico portanto surpreendido com este regresso aos tempos passados em que se constata que de novo a G.N.R. é obrigada a vigiar olivais.
Porquê?
Tudo isto é sinal de pobreza, de miséria, talvez de fome.
E pessoas, que em meu entender, só o fazem em último recurso, são na verdade dignas de apreço, na medida em que em vez de utilizar métodos violentos, ataques a idosos, roubos à mão armada, assaltos com armas, optam, repito, devido às circunstâncias actuais, procurar sustento, sobrevivência em algo que muitas vezes é desperdiçado.
Para o que vamos estar guardados?
Não temo por mim, que já sobrevivi a muitas adversidades, mas pela geração que agora começa a despertar para enfrentar situações que por culpa de muitos de nós não augura nada de bom.
Chico Manuel

1 comentário:

Anónimo disse...

Por culpa de quem? toneladas de azeitona...milhares de litros "de bom azeite" ficam, anualmente, abandonados nos ramos das oliveiras ou jazentes no chão???

Detenhamo-nos nos simples gestos da apanha da AZEITONA para concluir e, fácilmente, sinalizar OS CULPADOS...os incapazes de estabelecer políticas conducentes ao pleno aproveitamento destes valiosos "recursos naturais".
Desde há décadas...
Incapacidade tal que, nesta matéria, passámos de exportadores a importadores do milenar e saudável azeite.
Um dos mais ancestrais "e saudáveis" produtos que nos dá a terra e a oliveira.
Se isto não é demonstrativo da mediocridade e deficiente política agrícola nacional e dos agentes tecnocratas COMUNS perguntarei: Até quando consentiremos nesta massiva destruição da natureza?

No cenário "de sobrevivência" do anterior regime ia-se ao rabisco da azeitona que 'ranchos' de mulheres e o seu manajeiro deixavam fora dos ´laraus , sob #riscos infindos# para entregar no Lagar do Zé Garcia e, cobrada a maquia, obter míseros litros de azeite para "mitigar durante um tempo a fome de filhos em crescendo com uma açorda «de meia sardinha»".
HOJE PERMITIMOS ESTE CENÁRIO DANTESCO.
E, já me lembro de pessoas que entraram na prisão por, assim, pretender matar a fome dos filhos e recolher "restos de azeitona".

Desabafo (ou revolta?) mediterrânicos?.

Leiam-me e entendam-me com SAUDÁVEIS PENSAMENTOS.

Abraços para todos

Tói da Dadinha