quarta-feira, 30 de novembro de 2011

CRÓNICA DE OPINIÃO DA RÁDIO DIANA FM

Transcrição da crónica diária transmitida aos microfones da :http://www.dianafm.com/

O que se ganha com uma greve?
Carlos Sezões

Quarta, 30 Novembro 2011 11:08
No último programa Quadratura do Círculo, na SIC Notícias, o jornalista Carlos Andrade perguntou a Carvalho da Silva, o que se tinha ganho com a greve geral ocorrida nesse mesmo dia. Depois de uns segundos de hesitação, de tentar balbuciar algo que fizesse sentido, o secretário-geral da CGTP lá apresentou uma resposta redonda, assente na já estafada “demonstração da força dos trabalhadores”, na “consciência social” e outras banalidades semelhantes.
Nada de objectivo ou mensurável. Penso que a resposta até é simples: nada se ganha e ninguém ganha com uma greve geral que tenta paralisar parte ou a totalidade do País e que custa milhões de euros a uma economia já fragilizada como a nossa. Pelo contrário, todos perdemos!
Não contesto, obviamente, a legitimidade do exercício do direito à greve nem o papel dos sindicatos no nosso enquadramento sócio-económico. Mas gostava, efectivamente, de ver mais responsabilidade e bom senso em muitos dos dirigentes sindicais. Gostava que uma greve fosse feita quando houvesse realmente motivos de força maior e verdadeiras opções relativamente às medidas agora contestadas – o que, como todos sabemos, infelizmente não se verifica. Gostava de acreditar que os sindicatos não são meras filiais de um ou dois partidos e que operam em função das suas directivas e interesses. Gostava de não ver sempre o festival de números absurdos sobre a real adesão à greve, apenas para tentar demonstrar força onde, afinal, existe muita fraqueza. Gostava que se garantissem serviços mínimos de transportes a todos aqueles que, livremente, desejem ir trabalhar. Gostava de não ver piquetes de greve com um ar ameaçador, à porta das empresas, num cenário típico de outras épocas. Gostava que dirigentes partidários, como Francisco Louçã, não fossem para a porta das fábricas regozijar-se sorridentes, festejando o facto de não ter havido qualquer produção naquele dia. Como se a greve fosse um fim em si mesma e não um instrumento ao serviço de uma causa.
O movimento sindical, nos últimos 150 anos, foi importante para a conquista e manutenção de direitos que permitem hoje, a qualquer trabalhador, um equilíbrio mais saudável entre vida pessoal e familiar e vida profissional e uma relação mais justa e equitativa entre todas a partes numa relação laboral. Contudo, receio que tenha perdido o comboio da história e se tenha cristalizado no tempo, sem renovação, passando rapidamente a ser uma peça de museu sem importância. É pena…
Carlos Sezões

7 comentários:

Anónimo disse...

Ora aqui está uma crónica redonda, para utilizar a expressão que o articulista usa para definir a resposta que o secretário-geral da CGTP deu ao entrevistador.
O Sr. Carlos Sezões, que não consegue disfarçar o seu mal estar por pertencer aos que, durante três décadas e meia, concordaram com a política que conduziu o país, na senda do descalabro, ainda vai dizendo que os trabalhadores têm o direito de fazer greve, mas apenas quando isso não prejudicar ninguém.
Um pouco de humildade não lhe ficaria mal !
Bastaria reconhecer a sua própria responsabilidade, mesmo que limitada, no que diz respeito ao estado em que o país se encontra.

Anónimo disse...

concordo a 100% com esta crónia de opinião. os sindicatos terão de encontrar formas diferentes e organizar-se dentro do novo modelo social/económico/financeiro, acompanhar os tempos e não viver dos frutos de um tempo passado. hoje não se combate em democracia como se combatia na ditadura. não esperamos hoje dos nossos sindicatos as mesmas parlavras, os mesmos chavões, as mesmas formas de luta. sindicatos sim. eles são um elemento essencial no arbritrio social. sindicatos "modernos", com um outro tipo de linguagem mobilizadora e diferente atuação em defesa dos direitos dos trabalhadores precisam-se.

Anónimo disse...

Os sindicatos organizar-se-ão da forma que melhor entenderem para defender os seus associados. E não é quem está de fora que pode dar-lhes lições. Tanto a crónica inicial, como o comentário das 13:00 horas denotam má consciência.
No que a mim diz respeito, estou de acordo com o 1º comentador. O resto é blá-blá-blá, que apenas tenta justificar posições individuais.
Não foram os sindicatos que aumentaram as taxas moderadoras, não foram os sindicatos que retiraram dois subsídios ( ou parte ) a quem trabalha e a quem está reformado, não foram os sindicatos que aumentaram os impostos, não foram os sindicatos que aumentaram o IVA - este rol ainda podia continuar -

.... e agora, os que têm má consciência, os que por sectarismo partidário, ou os têm interesses egoístas, vêm dizer que é uma questão de palavras, que é uma questão de chavões, que é uma questão de falta de modernidade dos sindicatos .... tenham vergonha, ou então fiquem calados.

Que outra forma têm os sindicatos de defender os trabalhadores ?
Devem ficar quietos e nada fazer ?

Se assim fosse, aqueles que agora censuram os sindicatos, viriam dizer depois que os mesmos sindicatos nada fizeram.

Quem não os conhecer que os compre !

Eu, que já cá ando há muito tempo, e os conheço bem, recomendo um pouco de decoro no tratamento destes assuntos.

Quem deve fazer a mea-culpa, nesta questão, devem ser aqueles que nos conduziram a este descalabro. Mas quem os ouve falar, parece que não têm nada que ver com a situação.

E não estou apenas a falar do problema nacional. Falo a nível mundial, europeu, nacional, regional e local.

As próximas gerações é que se vão lixar.

E dispenso respostas a este comentário. Aliás, vou agora desligar o computador e só voltarei a ligá-lo daqui a dias.
Estou farto de respostas avacalhadas. De amarelos está o mundo cheio.

Anónimo disse...

Obs.

Não, o Movimento Sindical não perdeu "o comboio da História" pela razão evidente que é parte integrante e incontornavel dos andamentos da propria História.Nenhum historiador ou cientista social dirá o contrário.

Além disso, não é aconselhável nem historicamente correcto, ver o Sindicalismo com um olhar apenas europeu.A Ásia,a África também já estão a contar.Repare-se na China onde o sindicalismo actuante está,actualmente, todos os dias em greve e em luta diária por melhores salários.

Há mais mundos do que o pequeno mundo português que exigem uma atitude de compreensão do que é a historia do trabalho que tem,aliás, muito mais do que apenas um século e meio.As primeiras leis do trabalho francesas ou inglesas são do Século XVIII e do Século XVII.

Quem pode ignorar que,Ontem, a própria Revolução Francesa de 1789 foi acelerada pelas convulsões sociais no mundo das fábricas e da altissima exploração naquela epoca.Por exemplo, em torno das horas de trabalho diário.Tal como hoje.

Acrescentaria que, se há áreas onde um conhecimento histórico comparado e mais aprofundado nos faz muita falta é, exactamente, no conhecimento da evoluçao das formas de exploração do trabalho.

No fundo,à escala em que estamos aqui a debater este assunto,é tudo também uma questão de convicções e de verdadeira formação em torno da defesa daqueles que têm unicamente o seu trabalho para dar à sociedade.E essas, ou se mantêm e se aprofundam ou,então,o comboio da história pode passar-nos,de facto, individualmente ao lado.

Para já,eis o que me oferece dizer,acrescentando talvez que é pena que a CGTP só tenha podido vir á luz apenas a partir do terceiro quartel do século XX.

Em todo o caso,sabemos de fonte fidedigna, quanto ainda assim custou arrancar ao patronato a consagração em Portugal do 1º de Maio.


Com os melhores cumprimentos

ANBerbem

Camões disse...

Faz algum tempo que não comento (lá estou eu a rimar, neste caso sem acertar)em artigo de opinião, quer neste espaço ou outro qualquer.

Muito coerente o comentário de 30 de Novembro de 2011 das 16:42.

Parece que todos querem sacudir a água, não importa a quem molhem.

Agora todos são culpados como antes.

Mas não, os sindicatos e os seus associados não se revêem nos políticos incompetentes que têm desgovernado (leia-se saqueado) o erário público.

Não culpem quem trabalha ou vive do seu trabalho, do estado caótico das finanças do país.

Viva a liberdade...
Viva a união sindical!

Carlos Camões Galhardas

Anónimo disse...

Não coneço o senhor Carlos Sezões.
Não importará sobremaneira quanto, a tanto ler os comentários aos seus, nem sequer os lerá.

Importará sim DENUNCIAR o "NIM" mental que expele nas entrelinhas dos seus.

E foi assim que tantos como o senhor (AO PÔR A CRUZINHA NO VOTO PARA O "ORA AGORA SOMOS NÓS, ORA AGORA SÃO VOCÊS")apoiaram e ajudaram a criar o MONSTRUOSO CRIME CAPITALISTA QUE SE ABATEU SOBRE TODOS NÓS.

É óbvio que, outrossim, o senhor é daqueles que diz que NEM SEQUER VOTEI NELES.

Já o percebemos, ATÉ DEMAIS.

Anónimo disse...

Muito acertado o comentário de ANBerbem. E o anterior, embora mais radical nas expressões.