“Tudo tem a ver com tudo”
Eduardo Luciano
Quinta, 24 Novembro 2011 11:19
No passado sábado fui assistir à estreia da peça “Café Mário”, levada à cena pelo CENDREV.
Tendo em conta a situação que a companhia atravessa, com salários em atraso, fustigada por um poder político local insensível e que parece estar mais interessado em justificar as suas asneiras do que em salvaguardar o interesse público óbvio e por um poder central entregue a gente que se gaba de dominar a aritmética mas não consegue perceber que existem outras realidades, pensar-se-ia que iríamos encontrar algo de menor qualidade feita por gente desmotivada e derrotada.
Nada disso. Assistimos a um espectáculo de enorme qualidade onde toda a gente deu o seu melhor e se entregou totalmente à tarefa que lhe cabia.
Imagino, porque o texto reflecte a realidade vivida por aqueles profissionais, o controlo que não terá sido necessário para que a raiva e a indignação não se sobrepusessem ao desempenho exigido.
Não ficaria bem comigo próprio se não manifestasse aqui a minha gratidão pelas emoções que me proporcionaram, numa semana em que se comemoram os 25 anos sobre a classificação do Centro Histórico de Évora como Património Mundial.
A importância da classificação no reconhecimento nacional e internacional da nossa cidade é hoje clara para quase toda a gente e parece agora fácil entoar loas impregnadas de orgulho à cidade património da humanidade.
Mas olhemos para o presente e espreitemos um pouco do futuro se se mantiver a actual ausência de estratégia política para a intervenção do Centro Histórico.
Nos últimos 10 anos não encontramos nenhuma intervenção relevante no território classificado, mas conseguimos elencar um conjunto de opções que contribuíram para o acentuar da desertificação e para a degradação do espaço público.
Desde a deslocalização de serviços municipais, à aposta na criação de novas centralidades concorrentes com este espaço, passando pelo desinvestimento na limpeza pública, sem esquecer o peculiar entendimento sobre a actividade cultural que tem levado ao definhamento da animação do Centro Histórico com as consequências de todos conhecidas.
A continuarmos nesta rota, mais tarde ou mais cedo, a classificação de que tanto nos orgulhamos pode ser posta em causa por não termos sido capazes de defender o património da humanidade que está à nossa guarda.
E porque como diz o Sérgio Godinho: “Património mundial /é orgulho, com certeza/ falta pôr no pedestal/ aqui não entra a pobreza”, não podia no dia de hoje, em que milhares de trabalhadores se encontram a cumprir um dia de Greve, deixar de saudar todos os que resistiram ao medo e ao apelo à rendição e decidiram mostrar que não estão disponíveis para abrir mão de direitos básicos em nome da acalmia dos agiotas eufemísticamente tratados como “mercados financeiros”.
Até para a semana
Eduardo Luciano
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