segunda-feira, 7 de novembro de 2011

CRÓNICA DE OPINIÃO DA RÁDIO DIANA FM

Transcrição da crónica diária transmitida aos microfones da :http://www.dianafm.com/

A desobediência
Miguel Sampaio 

Segunda, 07 Novembro 2011 10:16
Tem o Regime tentado passar a mensagem, através dos órgãos de poder e dos comentadores de serviço, que a austeridade é um dado inevitável e que assim sendo, devemos suportar estoicamente o nosso empobrecimento, sem fazer ondas, sem manifestar indignação, cordatos e obedientes.
Como se pelo facto de termos um parlamento eleito, em que oitenta por cento dos deputados se manifestam a favor destas medidas, apagasse a indesmentível realidade de oitenta por cento dos portugueses reagirem negativamente à aplicação das mesmas.
Aqui chegados, uma questão incontornável se levanta: Que democracia é esta em que os eleitos andam tão desfasados da vontade dos eleitores?
A resposta que me salta à vista radica na falta de transparência das decisões tomadas. Se as pessoas fossem esclarecidas, informadas dos dados que estão sobre a mesa, poderiam aceitar ou não as soluções propostas, mas fá-lo-iam em consciência, que é a base de qualquer compromisso sério.
Claro que é incómodo para quem está no poder abdicar da grande vantagem que representa ter informação que se não partilha. Um exemplo disso é a ênfase que se põe nos vencimentos absurdos de determinadas figuras públicas, pondo de lado o âmago da questão, que é saber como foi possível chegar aqui, que caminhos tomar para erradicar as causas, o que é necessário fazer para que se proceda a uma repartição mais equilibrada da riqueza disponível. Só que aí o debate far-se-ia em torno do que é útil manter na esfera pública e da falta de sentido de algumas privatizações que o Governo se propõe fazer. Outro exemplo é o medo que se incute caso ocorra alguma mudança no rumo previamente traçado, como se o desemprego, o mal-estar social, a incerteza quanto ao futuro já não sejam o pesadelo de todos nós.
Não informar as pessoas, forçá-las a acatar decisões que não entendem e por isso não compartilham, é incitá-las à desobediência e neste caso ela é plenamente justificada. Sustenta-se no direito que temos enquanto cidadãos de um país soberano a decidir o nosso próprio destino.
Iniciou-se no mês de Outubro o período obrigatório de discussão pública sobre o Documento Verde da Reforma da Administração Local, “ uma Reforma de Gestão, uma Reforma de Território e uma Reforma Política,” como se auto-define o documento. A sua aplicação implica a mais drástica reforma implementada desde o vinte e cinco de Abril, extinção de autarquias locais, alteração da lei eleitoral autárquica, redefinição dos financiamentos… Esta proposta, caso venha a ser aceite mudará completamente a vida dos portugueses.
Entretanto começa a chegar às caixas de correio informação sobre a televisão digital terrestre, os órgãos de comunicação social falam de tudo e de nada e o tempo esgota-se.
Digam então se a desobediência não é um direito a ser posto em prática?
Pela relevância do tema da Reforma Administrativa voltarei a ele já para a semana.
Até lá, uma boa semana a todos.
Miguel Sampaio

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