sexta-feira, 30 de setembro de 2011

CRÓNICA DE OPINIÃO DA RÁDIO DIANA FM

 É preciso crescer
 Martim Borges de Freitas

Sexta, 30 Setembro 2011 12:21
Como disse aqui na semana passada, muitas foram as coisas que aconteceram durante este Verão em Portugal. Do ponto de vista político, bem entendido. Escolhi, na altura, falar do abandono da revisão constitucional, como poderia ter escolhido falar dos três aumentos de impostos, do buraco financeiro da Madeira ou das nomeações políticas para a Caixa Geral de Depósitos. Tudo coisas más. Mas, do que eu não poderia ter falado, porque não aconteceu, era do crescimento económico ou, melhor dizendo, daquilo que o Governo tivesse já gizado para mobilizar os portugueses em ordem ao país poder alcançar tão depressa quanto possível o objectivo do crescimento económico.
Não pense o ouvinte que estou a dizer o mesmo que disse esta semana o PS, quando este veio dizer que foram precisos cem dias para que o Governo viesse falar de economia. Não, não reconheço ao PS a mínima autoridade, não apenas moral, para abordar o assunto. O que pretendo dizer é, ao contrário, que este Governo, se quiser ser diferente, não deve responder como todos os outros atirando a responsabilidade pelo estado em que o país se encontra para terceiros, seja para o anterior governo seja para o exterior - Europa e, em particular, a Grécia, incluídas. Se quiser ser mesmo diferente, o governo que responda, agindo. Por exemplo, em matéria de economia, responda, portanto, com um verdadeiro programa de crescimento económico.
Uso o crescimento económico como exemplo, já que Portugal tem sido incapaz de crescer economicamente, de forma sustentada, acentuada e continuada. Na verdade, tem faltado a Portugal uma estratégia nacional que vise o crescimento do PIB, por oposição a uma outra, em curso há muitos anos, que visa exclusivamente o combate ao défice das contas públicas. Colocar a tónica no défice e jamais no crescimento, deu no que deu, com o resultado que se conhece. Se não assumirmos, de vez, que só resolveremos os problemas do país se formos capazes de vencer cada obstáculo, cada barreira, por mais intransponível que possa parecer, enquanto não tivermos a lucidez de assim pensarmos, não será possível encontrarmos um desígnio nacional mobilizador, capaz de colocar Governo, Oposições e Parceiros Sociais a remar no mesmo sentido. E é urgente que todos se ponham de acordo sobre o essencial, não apenas quanto aos objectivos a atingir, mas também quanto ao caminho a seguir para os alcançar. Para que não haja mais sobressaltos.
Disse o que acabo de dizer, por outras palavras ou pelas mesmas, aqui e noutros espaços, quando o Governo português era do Partido Socialista, em minoria e em maioria. Digo-o hoje, por outras palavras, ou talvez usando as mesmas, quando o Governo é de maioria PSD-CDS.
Porque a tónica que os partidos do Governo colocaram no crescimento económico quando estavam na oposição não corresponde à tónica que o Governo lhe está a colocar agora, usei esse exemplo para ilustrar o que penso que o Cardeal Patriarca de Lisboa quis dizer quando veio dizer, por estes dias, que a Igreja não se meteria na vida política directa porque ninguém sai da política com as mãos limpas. Tendo ouvido isto, os políticos de serviço, incomodados, vieram logo dizer que a afirmação do Cardeal Patriarca terá sido infeliz. Ora, se bem entendi, o objectivo do cardeal patriarca de Lisboa não foi apenas, nem sequer principalmente, o de colar os políticos à corrupção, mas, antes, o de os colar à falta de palavra e à falta de coerência, sobretudo pelo que dizem quando estão na oposição e em campanha eleitoral, face ao que depois fazem, quando estão no Governo.
Se o sucesso do país depende muito do crescimento económico, ele dependerá em primeira linha da atitude política. E, para isso, é preciso que a política cresça.
Lisboa, 29 de Setembro de 2011.
Martim Borges de Freitas

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