quinta-feira, 18 de agosto de 2011

VASCULHAR O PASSADO - RUBRICA MENSAL DE AUGUSTO MESQUITA

Igreja Paroquial de Santa Maria da Vila


Formada por um conjunto de dignidades instituídas, que a tornavam semelhante ao cabido de uma sé catedral, a Igreja de Santa Maria da Vila é de grande importância na história de Montemor-o-Novo, pois já existia no ano de 1214. O livro dos bens de D. João de Portel, refere expressamente, que na jurisdição deste templo existia um grupo de casas, com adegas e celeiros, do património de D. João de Aboim, mordomo-mor de D. Afonso III e senhor de Portel, o qual havia sido comprado através do almoxarife régio Simão Vicente, em 1629. O mesmo fidalgo obteve da Ordem de Avis governada pelo mestre fr. Pedro Afonso e por uma só vida, vários moinhos da ribeira, assim como Vicente Peres lhe cedeu as herdades da Espadaneira e Fonte de Carvalhos. Sofreu uma profunda restauração em 1239, no reinado de D. Sancho II, ordenada pelo reitor Domingues Pães próximo parente do pretor Pelágio ou Paio Peres, repovoador da vila. Esta primeira igreja perdeu-se nos alvores do séc. XVI e, no ano de 1534 estava em curso o levantamento de novo edifício, como o confirma a “Visitação” do Cardeal Infante D. Henrique, Bispo de Évora.
Teve mais as seguintes designações. “Santa Maria do Foro”, “Santa Maria da Praça” e “Nossa Senhora dos Açougues”, esta por ficar nas imediações do matadouro dos clérigos, o qual havia sido instituído por Filipe III, segundo provisão de 26 de Setembro de 1633. A confraria do clero de Montemor-o-Novo, que na vila e termo, era formada por cerca de 80 sacerdotes, estava erecta nesta igreja com o título de “Nossa Senhora da Assunção”. As suas origens remontavam ao dia 1 de Agosto de 1405, sendo reformada em 1476 pelo Bispo D. Garcia de Meneses, confirmada ulteriormente por D. Francisco de Portugal, 1.º Visconde de Vimioso, no ano de 1492. Ainda existia no ano de 1778, no governo do prelado D. João Cosme da Cunha, futuro patriarca de Lisboa. A imagem padroeira que estava colocada no altar-mor, ao lado de Nossa Senhora da Vila, foi alienada depois de 1896.
O templo, como comenda sagrada da reitoria de seis beneficiados, em 1740 pertencia ao padroado do 3.º Conde da ponte D. António José de Melo e Torres; nos alvores do séc. XIX era seu comendador, na Ordem de Cristo, o Barão de Sobral Geraldo Vasconcelos Bramiam de Almeida Castelo Branco. Abandonada ao culto na primeira fase, depois do terramoto de 1755, por o visitador nomeado por D. José I, Dr. António José Lucas de Andrade, a ter considerado incapaz para o serviço religioso, esteve funcionando, provisoriamente, na Igreja do Hospital de Santo André, e a partir de 1758, na ermida suburbana de S. Vicente. Mais tarde, unida à também profanada Paróquia de Santiago, entre 3 de Fevereiro de 1845 e Janeiro de 1850, passou neste período para a ermida do Calvário, onde se encontra ao presente. Entre 1814 e 1830 caiu em completa ruína, e dela, actualmente apenas subsiste, de pé, um bloco de alvenaria, em forma de cogumelo fantasmagórico, da primitiva abside (arco ou abóbada), contemplando as ruínas vestutas do Paço dos Alcaides, assim como alguns vestígios pavimentares, hoje obstruídos. Teve uma lápida latina, embebida no alçado principal, que foi lida antes das últimas derrocadas, pelo Padre José António de Leão e se transcreveu, parcialmente, no Ms. Inédito do Padre Lamego da Maia. Todavia, a inscrição, completa, consta do Cód. 103 da Manisola, a fl. 73:
AD HONOREM SANCTA MARIE PERPETUAE VIR- / GINIS GENTTRICIS DOMINI NOSTRI JESU CHRISTI / FUNDAVIT ECLESIAM ISTAM DNICUS PELAGIL / EIUS PRELATUS QUI PROCESSIT E PROGENIE / PALAGIL… SUB ERA MCCLXXVII
A última regra, onde se fixava a data, estava quase elegível.
“O Montemorense”, de Novembro de 1967, publicou sobre esta igreja, a seguinte notícia:
Igreja de Nossa Senhora da Vila
Na rua que vai da Torre do Relógio para o Palácio dos Alcaides, olhando à direita existe uns restos de um pavimento de tijolo e de um arco, já destruído em nossos dias, está vendo o que resta da mais velha igreja da nossa terra, Igreja de Nossa Senhora da Vila, dos Milagres ou dos Açougues. A antiga igreja, ruiu em grande parte, pelo terramoto de 1755, passando nessa altura a paróquia para a Igreja de S. Vicente, e depois para a Igreja do Hospital Velho – onde foi o cinema Rádio Cine – indo em 1850, para a Igreja do Calvário.
No livro referente ao Castelo, editado pela Câmara Municipal, pode ler-se sobre a igreja, a seguinte opinião:
A Igreja de Santa Maria da Vila é a única das quatro existentes no Castelo, com localização desconhecida. Estaria situada no centro da vila, junto à praça principal. Um documento de 1704 localiza-a no centro da vila, junto à Torre e Porta do Relógio. Pensa-se actualmente que as ruínas desta igreja estejam no monte mais alto do castelo junto à Torre do Relógio. Na gravura de Pier Maria Baldi de 1668, é visível, do lado direito da Torre do Relógio e atrás da muralha, um edifício de grandes dimensões que poderia tratar-se da Igreja de Santa Maria da Vila.
As escavações a decorrer no castelo, vão num futuro próximo (?), anular as dúvidas existentes, sobre a localização das ruínas da referida igreja.
Augusto Mesquita



1 comentário:

AC disse...

Aqui temos o exemplo de um país que em vez de se chamar Portugal se poderia chamar, com muita propriedade, "O País Que Não Gosta Dele". O autor dá-nos notícia da História da que terá sido a Igreja Paroquial de Santa Maria da Vila, anterior ao ano de 1214, desculpada a sua completa ruína pelo terramoto de 1755. Pois quem poderia evitar essa calamidade.
Mas andamos pelo Portugal fora e o que vemos? Palácios, ermidas, castelos..., e outros monumentos muito mais antigos, entregues ao capim que os vai escondendo da vergonha que sentem, por terem sido belos em outro tempo.
Aproveitei hoje, dia de férias, para visitar alguns "sítios com história", do meu concelho - Alandroal - razão que me levou a comentar este interessante texto.
Era uma visita guiada a uma escavação arqueológica recente, junto ao rio Lucefecit. Horas bem passadas com companhia agradável, ouvindo a explicação do que estava à vista, e não só, aproveitando a luminosidade excelente das últimas horas do dia para ir fixando uma reportagem fotográfica. De repente veio-me à memória e perguntei: não é para estes lados que fica a Ermida da Fonte Santa..., cujas paredes estão cheias de "ex votum"... e como o nome diz tem uma fonte de água com propriedades curativas para muitos males do corpo e da alma? «Sim..., fica perto... vamos lá», reponderam-me.
Digo-vos: mais valia não ter lá ido, tal o estado de degradação e ruína em que vi aquele local sagrado. É assim..., vivemos no "País Que Não Gosta Dele".
Resta-nos agradecer ao autor, que nos trouxe a memória da que foi certamente uma bela Igreja Paroquial de Santa Maria da Vila.

Cumprimentos.

AC