quinta-feira, 26 de maio de 2011

NOTAS SOLTAS

« Os Amores dos Meus Amigos »

Dizem as estatísticas que 50 % das pessoas que voltam a encontrar os primeiros namorados, acabam por se apaixonar de novo. Já aqui contei uma estória dessas. Uma estória com final feliz, conforme devem estar lembrados. Porém, nem todos os casos desse género acabam assim.
Aqueles que têm a pachorra de ler estas crónicas decerto já repararam que, volta e meia, recorro à literatura para exemplificar o que pretendo dizer. Hoje, mais uma vez, vou socorrer-me desse truque para melhor me explicar. E, para não variar, vou voltar a Gabriel Garcia Márquez e à sua novela " Amor em Tempos de Cólera ". Essa novela conta a história dos amores de Florentino Flores e Firmina Daza, dois jovens apaixonados, mas cuja paixão é contrariada pela família dela. A pressão familiar é tanta que acabam por separar-se. Mas como a terra não pára, e a seguir a um dia vem sempre outro dia, ela acaba por casar com outro homem. E dele tem vários filhos que, por sua vez, lhe dão netos. Já ele, Florentino Flores, mantém-se solteirão, sem, no entanto, abdicar de muitas e variadas relações sexuais. Com o passar dos tempos ela enviuva, e o Florentino, a quem a chama daquele amor da adolescência nunca tinha passado, volta a cortejá-la.
E não é que o raio do velho conseguiu fazer renascer nela o amor d'outros tempos !
Exactamente ao fim de 53 anos, 4 meses e 11 dias, como o Gabo faz questão de nos explicar, aqueles dois, partem numa espécie de lua de mel serôdia pelo rio Orenoco acima. E é essa viagem que dá o título à novela, devido a uma epidemia de cólera que grassava naquela região.
Bem, mas o melhor é vocês lerem o livro, afim de ficarem melhor inteirados do que diz.

Vamos lá agora ao que verdadeiramente interessa:
Devo avisar que, à cautela, não vou utilizar nomes nesta narrativa. Os intervenientes são do concelho do Alandroal, pessoas casadas e responsáveis e, muito embora não vivam no concelho, aqui se deslocam com uma certa frequência.
A internet, nos tempos que correm, é um instrumento tão perigoso como eram as pestes e as epidemias de cólera, na época em que o Gabriel Garcia Márquez situa a novela de que falámos aqui mais acima.
Através da internet, todos falam com todos. Reencontram-se pais e filhos; maridos e mulheres; ajustam-se convívios do batalhão de caçadores n.º não sei quantos, que em sessenta e tal esteve no norte de Angola; arranjam-se - e desarranjam-se - casamentos.
Enfim, serve para todos os objectivos, inclusive para reencontrar amores antigos.
Assim, quando ela recebeu aquele "email", de um endereço desconhecido, cujo teor dizia que ele nunca a tinha esquecido, ficou em pancas. Apesar de ser uma mulher casada, não hesitou muito em responder, perguntando quem estava do outro lado. A resposta chegou uns dias depois com a identificação completa.
Era o seu amor do tempo do liceu. Que também estava casado e com filhos. Exactamente como ela.
E assim se enredaram no envio de "emails", de cá para lá e de lá para cá, até concluírem que ....
« === o casamento de ambos, cada um por seu lado, evidentemente, atingira aquela rotina de mais de uma dezena de anos; que era levar os putos à escola e ir buscar os putos à escola; era a programação das férias que, diga-se de passagem, nunca corriam como planeado; sair todas as manhãs para o trabalho, muito cedo, por causa dos transportes; o regresso a casa, muito tarde, pelos mesmos motivos; as faltas crónicas de dinheiro; o sexo de fim de semana, quase automático .... === »
Ao fim de uns dias, frenéticos, de troca de "emails", resolveram dar uma semana de descanso para colocar a cabeça no lugar.
Depois, nova semana, ainda mais frenética, de troca de queixas e lamentações em relação aos respectivos casamentos.
Mais uma semana de descanso, voltaram a acordar.
Por fim, chegaram à conclusão que ainda se amavam; que tinha sido um erro acabarem o namoro quando terminaram o liceu; mas que agora era tarde demais para reparar esses erros do passado; e que todas as responsabilidades que entretanto tinham assumido eram demasiado grandes para serem ignoradas.
O melhor era até nem se encontrarem pessoalmente.
E apagariam dos respectivos computadores todos os "emails".
Como se aquele mês, em que electronicamente falaram com frenesim, não tivesse existido.
Assim aconteceu !
Nem ele ficou a saber que ela tinha engordado, nem ela soube que ele tinha perdido o cabelo.
Sean O'Flaherty D. Rivera Kerrigan
Alandroal

PS = Uma estória de amor com um final diferente da do Gabriel Garcia Márquez. Verídica, por sinal.

3 comentários:

Anónimo disse...

A internet até serve para combinar almoçaradas de chícharos com cabrito. Tenho estado á espera.

francisco tátá disse...

Amanhã terá notícias. Espero a sua presença

Anónimo disse...

Muito interessante esta estória!