segunda-feira, 4 de abril de 2011

NOTAS SOLTAS - POR SEAN

Notas Soltas -04 - abril -2011
« Os Amores dos Meus Amigos » ( Neste caso, não só amigo, mas também familiar )

Desde já aqui fica o aviso : Esta estória é contada em segunda ou terceira mão. Sendo sabido que quem conta um conto, acrescenta um ponto, natural será que, por um lado, existam pontos a mais, e por outro, que existam pontos a menos. É que isto das estórias passarem de boca em boca, leva a que o seu final já pouco tenha a ver com o que realmente se passou.
Mesmo assim, vou arriscar.
O Domingo Rivera vivia ali para os lados de Albuquerque, na Extremadura espanhola. Sabendo eu que ele já estava com uma idade avançada - quase cem anos - procurei-o antes que a morte o levasse.
Eu buscava dados sobre o meu bisavô, um tal Juan Rivera Potra que, em meados do século dezanove, vindo de Espanha, casara em Portugal e aqui tivera seis filhos. Pelos apelidos facilmente se vê que éramos da mesma família. Os meus parentes mais chegados diziam-me que o Domingo Rivera era o único parente vivo que conhecera pessoalmente o meu bisavô. Assim, por volta de 1990, marchei eu para Albuquerque, à cata de mais informações.
Fui encontrar um velho que parecia saído dum filme dos irmãos Taviani. Era uma pessoa que possuía o raro condão de saber contar uma estória. Apenas com a sua presença, enchia o ambiente de comunicabilidade.
Assim que lhe disse ao que ia, respondeu-me : « Coño, hermano, cómo carajo quieres tú que yo te hable ahora desse viejo ? »
Mesmo assim, foi falando. E contou-me uma bonita história de amor :
=== « O teu bisavô....
.... era um homem alto e seco de carnes, " de bigote largo e pelo muy negro ". Brigão e quezilento. Difícil de domar. Trabalhador incansável, embora os seus horários de trabalho fossem sempre estabelecidos por si. Mesmo assim, nunca teve grandes problemas em arranjar patrão. Exercia o ofício de abegão, andando de monte em monte, na região de Capelins, mas tinha como poiso mais regular os montes do Roncão e Roncanito.
Foi, aliás, num desses montes que conheceu aquela que viria a ser sua mulher. Era filha do caseiro do monte e o namoro não foi bem aceite pela família dela. Desconfiavam daquele espanhol, sempre disposto a largar o trabalho para se meter na taberna e que exibia na face a cicatriz duma naifada.
Quando o namoro começou a ficar sério - isto é, quando ela começou a engordar - a vontade da família era vê-lo pelas costas.
Foi nessa altura que funcionou a vontade dos dois.
Fugiram.
Fugiram e foram acolhidos no monte do Meio - uma herdade ali para os lados da Malhada Alta.
Aí viveram durante mais de trinta anos. Os donos dessa herdade, uma família também de origem espanhola, deu-lhes guarida e trabalho.
Essa união foi abençoada com muitos filhos, e por todos foi testemunhado que viveram felizes até à morte, embora a família da rapariga levasse anos a reconhecer o casamento
Os filhos - seis, entre rapazes e raparigas - foram saindo para viver a sua vida. Uns ficaram em Portugal, outros regressaram a Espanha. »
Depois desta conversa, o Domingo Potra, ainda foi buscar uma velha fotografia de família. Nela, fazendo pose, estavam retratados os meus bisavós. E eu, no amarelecido cartão, ainda distingui um homem alto, com grandes bigodes, chapéu de aba redonda, vestido com uma jaqueta larga e calças de cintura subida. Ao lado, de braço dado com o seu homem, estava Ana Rodriguez Rivera Potra ; === " que es morena, bajita, de pelo rizado y posue una sonrisa pícara " ===.
Assim, entre recordações, chegámos ao fim da conversa.
Para terminar, porque já vai longo este exercício de revivências familiares, deixem-me dizer que mal pensavam aqueles dois que haveria muitas " Anas e Joões " entre os seus descendentes.

Sean O' Flaherty D. Rivera Kerrigan
Alandroal, Abril de 2011

5 comentários:

Anónimo disse...

Será que todos os Potras do concelho descendem desta familia?

Anónimo disse...

Mesmo que muito distante deve haver pelo menos um ligação, aqui para os lados de Montejuntos há muitos

abraço

Anónimo disse...

Também penso que sim, porque todos os Potras estão ligados à freguesia de Santo António de Capelins!

Interessante este artigo sobre os Potras....

Anónimo disse...

eu não tenho Potra no nome mas a minha mãe tinha. E tinha primos que se assinavam por Potra em Mourão. gostava de saber mais sobre esta familia secalhar somos todos parentes

Anónimo disse...

Em Bencatel existia um negociante chamado Vicente Potra tinha uma filha não sei que será feito dela.