BADAJOZ
(Continuação do dia anterior)
Não tanto pelo seu aspecto físico, mas sobretudo pelas situações porque iriam passar nos próximos dias. Era um homem alto, fisicamente bem constituído, muito moreno e exibia um farto bigode. As feições pareciam indicar que talvez pudesse ser mestiço. Embora a mistura de sangues se tivesse dado várias gerações antes, a verdade é que os lábios cheios e o cabelo um pouco encarapinhado, embora longo e caindo sobre os ombros, indiciavam a presença de antepassados negros na sua família. Estava vestido como os marinheiros sempre se vestem em terra : Calças de boca larga, botas de couro muito flexível, grosso camisolão de malha, com gola alta, e casacão de marinheiro. Ao ombro, como bagagem, trazia um grande saco de lona. Vale a pena falar um pouco mais deste homem já que a sua participação no decorrer desta narrativa será de muita importância. Cidadão espanhol, tinha nascido em Cuba no fim do século dezanove, quando aquela ilha ainda era uma colónia espanhola. A guerra Hispano - Americana apanhara-o ainda criança e mudara-se com a família para o México, no início do século vinte. Aí, tivera uma vida aventurosa, sempre tendo o mar como cenário. O mar das Caraíbas, mais propriamente. Vinha em busca do tal mapa, porque nele estaria a chave da localização dum tesouro escondido pelos espanhóis, quando estes ainda dominavam o México. Um aventureiro, como facilmente se vê. Meio-irmão, segundo se sabia, de Corto Maltese, outro aventureiro. Quando se viram frente a frente e Rufino se apresentou, trocaram um vigoroso aperto de mão, tendo o visitante informado que tinha instalações reservadas num hotel do centro da cidade, mas que apenas tencionava demorar-se em Madrid, o tempo estritamente necessário. Tinha igualmente reservado um automóvel e queria partir para Badajoz o mais rapidamente possível. O hotel, um dos melhores da cidade, reconheceu Rufino, tinha realmente um quarto reservado e um automóvel pronto para partir. Combinaram partir no dia seguinte, mal o sol nascesse.
Também se ajustou a dormida de Rufino no hotel, para evitar demoras de última hora. Parecia não faltar dinheiro ao recém chegado. Convém, para melhor se entender o que se vai seguir, dar uma explicação do ambiente que se vivia em Madrid por essa época : Os espanhóis tinham ido às urnas no dia 6 de Fevereiro passado, domingo de Carnaval. As eleições tinham sido ganhas pela Frente Popular que, entretanto, já tinha formado governo. O Primeiro Ministro da República de Espanha, don Miguel Azaña, desdobrava-se em esforços, não só para dar um rumo ao país, como para harmonizar os partidos de esquerda que, entre si, não se entendiam. Os vários partidos das direitas, que não aceitavam a derrota eleitoral, conspiravam abertamente contra o governo. Os tiroteios entre os falangistas e grupos da FAI ( Federação Anarquista Ibérica ), eram diários. A cidade fervilhava de boatos sobre assassinatos políticos e levantamentos militares. Todos os quartéis de Madrid estavam de prevenção rigorosa. O clima social e político da capital de Espanha era de cortar à faca. Dizia-se que os partidos das direitas estavam a armar os seus militantes, porque estava iminente um golpe de estado contra a república. Foi esta cidade que os nossos dois conhecidos deixaram para trás naquele dia do fim de Abril, quando se puseram a caminho de Badajoz. Ao fim do dia, já instalados nesta cidade da Extremadura espanhola, recolheram cedo à pensão onde se hospedaram, pois tencionavam começar a procurar o mapa logo pela manhã. Munidos das respectivas autorizações, passadas pelo Ayuntamiento de Badajoz, aonde Largo Maltese se apresentara como historiador de assuntos relacionados com as antigas colónias de Espanha nas Américas, às dez horas da manhã já estavam a abrir os caixotes do espólio a que fizemos referência. (Final da narrativa amanhã)
Leia a história completa clikando AQUI
1 comentário:
Já vi o fim disto. Clikei ali.
Seja quem for o autor/a, era mesmo uma pessoa com simpatias pela república espanhola.
Agora, os espanhóis, não só têm que gramar os Bourbons e a anorexia da princesa Letícia, como têm que gramar, também, uma taxa de desemprego superior a vinte por cento.
E assim vai a península ibérica.
Enviar um comentário